SÃO PAULO (Reuters) -A política industrial lançada pelo governo federal nesta segunda-feira tem potencial de incentivar o desenvolvimento do setor assim como o Plano Safra tem impulsionado o agronegócio do país ao longo dos últimos anos, disse o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha.
O governo anunciou mais cedo um plano de desenvolvimento para a indústria até 2033 e previu, entre os instrumentos para estimular o setor, 300 bilhões de reais em linhas de crédito, subsídios a empresas e exigências de conteúdo local nos produtos.
“O grande mérito do plano que foi apresentado é colocar de forma muito clara a indústria da transformação como vela propulsora do desenvolvimento”, disse Rocha.
O plano chega para tentar conter um movimento de queda da participação da indústria da transformação no PIB, que já chegou a mais de 20% nas décadas de 1970 e 1980 e atualmente é de cerca de 13%, segundo dados de Rocha.
“Olhando para essa experiência do Plano Safra no agro, o Plano Mais Produção tem condição de ser o Plano Safra da Indústria”, disse Rocha, citando o pilar da política que engloba mecanismos para o financiamento do setor industrial de forma contínua nos próximos três anos.
“O Plano Safra não é uma medida apenas, são várias medidas que formam um ecossistema de ações… O Plano Mais Produção procura trazer uma isonomia com outros setores”, disse o economista. “Ninguém pode ser contra inovação, descarbonização e produtividade”, afirmou.
Dos 300 bilhões de reais do Mais Produção até 2026, 106 bilhões de reais já foram anunciados em julho do ano passado, segundo afirmou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), mais cedo.
Questionado sobre temas recorrentes da indústria da transformação como proteção comercial e simplificação tributária, Rocha disse que a política industrial apresentada nesta segunda-feira trata de questões estruturais, mas precisa ter temas como regras de conteúdo local “construídas em sinergia com o setor privado” nos próximos meses.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), a proposta é um bom ponto de partida, mas precisará de muita determinação por parte do governo para ser implementada.
“É um bom começo, muito bem elaborada e abrangente, mas precisa de muito foco para ser executada. O custo Brasil vai continuar sendo o maior impedimento para desenvolvermos uma indústria competitiva no Brasil”, disse José Ricardo Roriz Coelho.
No mercado financeiro, o plano foi visto como um fator de risco para o equilíbrio fiscal, fazendo o dólar à vista subir mais de 1% ante o real nesta segunda-feira, em movimento sustentado ainda pela recuperação da divisa dos Estados Unidos no exterior durante a tarde.
A percepção mais geral foi de que os 300 bilhões de reais anunciados — ainda que possam estar ligados a operações do BNDES, o que não necessariamente trará impacto fiscal — eleva o risco em relação às contas do governo. Em reação, o dólar se reaproximou dos 5,00 reais.
“Há uma recomposição de posições defensivas”, pontuou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik, ao justificar a alta firme do dólar ante o real. “O programa pode trazer despesas para o governo e o mercado se ajusta, vai para a proteção do dólar.”
(Por Alberto Alerigi Jr.Edição de Paula Arend Laier e Pedro Fonseca)
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