Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas dos DIs fecharam a quarta-feira em alta, na esteira do avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior, após autoridades do Federal Reserve reforçarem durante o dia discurso cauteloso em relação ao início dos cortes de juros nos EUA, enquanto no Brasil foi divulgado um rombo fiscal de 2,29% do PIB em 2023.
Pela manhã, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) chegaram a oscilar no território negativo, acompanhando o recuo dos rendimentos dos Treasuries naquele momento e com os investidores deixando em segundo plano os números fiscais divulgados pelo Banco Central.
O BC informou que o setor público consolidado teve déficit primário de 249,124 bilhões de reais em 2023, o que equivale a 2,29% do Produto Interno Bruto, após ter registrado superávit de 125,994 bilhões de reais (1,25% do PIB) no ano anterior.
Com o resultado, a Dívida Bruta do Governo Geral — um importante indicador de solvência do país — saltou de 73,8% para 74,3% do PIB de 2022 para 2023.
Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram, no entanto, que o rombo fiscal já era esperado, em especial porque o governo pagou 92,4 bilhões em precatórios apenas em dezembro. Assim, apesar de preocupar, o resultado fiscal brasileiro pouco fez preço na curva a termo nesta quarta-feira, com os investidores mais voltados ao exterior.
Nos EUA, o destaque foi uma série de declarações de membros do Fed sobre o futuro da política monetária.
O presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, previu 2 ou 3 cortes de juros este ano, citando a possibilidade de uma redução lenta dos juros se o mercado de trabalho seguir aquecido.
A presidente do Fed de Boston, Susan Collins, defendeu que “no momento a política monetária permanece bem posicionada”, enquanto a diretora do Fed Adriana Kugler disse é preciso ter mais certeza sobre a inflação antes de reduzir a taxa básica de juros.
“Tivemos falas de diversos membros do Fed e todos seguiram a ideia de manutenção dos juros por um tempo maior”, resumiu João Ferreira, sócio da One Investimentos. “Minha avaliação é de que o movimento do mercado hoje (quarta-feira) foi muito reflexo da curva lá fora, porque o fiscal (brasileiro) já estava de certa forma precificado”, acrescentou.
No início da tarde, com os rendimentos dos Treasuries se firmando no território positivo, as taxas dos contratos futuros de juros no Brasil também passaram a subir. A taxa do DI para janeiro de 2027, que chegou a cair cerca de 6 pontos-base pela manhã, subiu quase 5 pontos-base perto das 15h. Depois disso, encerrou com alta um pouco menor.
No mercado, havia também certa cautela antes da divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, nesta quinta-feira. Ainda que o dado não traga surpresas, ele poderá recalibrar parte das apostas em relação ao futuro da política monetária no Brasil.
Perto do fechamento a curva a termo brasileira precificava 97% de chances de o corte da Selic em março ser de 0,50 ponto percentual. Atualmente, a Selic está em 11,25% ao ano.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 9,96%, ante 9,946% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,695%, ante 9,665% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 9,855%, ante 9,819%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,115%, ante 10,079%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,52%, ante 10,498%.
Às 16:52 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– subia 1,90 ponto-base, a 4,1115%.
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