Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) – A nova versão do plano de recuperação judicial da Light trouxe aos credores uma proposta justa, consistente e equilibrada e que mantém a sustentabilidade financeira para que a companhia avance nas negociações de renovação da concessão de distribuição, disse o diretor financeiro da empresa, Rodrigo Tostes, em entrevista à Reuters.
O executivo, que assumiu a posição há pouco mais de duas semanas com a missão de aprovar o novo plano, está otimista com os desafios a serem encarados pela distribuidora de energia que atende cerca de 12 milhões de pessoas em 31 cidades do Rio de Janeiro.
O primeiro passo, segundo ele, é a aprovação do plano de recuperação judicial em assembleia de credores marcada para o dia 21 deste mês. O segundo desafio é chegar a um percentual satisfatório em torno do reajuste tarifário regular da companhia. Já a terceira grande meta é um acordo com o poder concedente para a renovação da concessão da distribuidora, que expira em 2026.
O executivo disse que a empresa trabalha passo a passo para tentar superar um desafio de cada vez, mas sabe que os três compromissos estão conectados.
“Ele (o plano) cria uma companhia saudável e com olhar de longo prazo. Não dá para renovar uma concessão se você estiver com uma empresa doente… Sem a recuperação judicial, a renovação fica comprometida”, afirmou Tostes.
Com 11 bilhões de reais em dívidas, a Light entrou em recuperação judicial no ano passado. No mês passado, atualizou o plano com uma proposta “muito melhor” do que a primeira e do que a média dos planos apresentados por outras empresas que também recorreram ao regime, disse o CFO.
“É um plano melhor, bom, saudável, consistente que tem uma proposta justa aos credores. Ele não promete o que a gente não conseguiria entregar. Não é um plano indecente, nem uma obra de ficção”.
A nova oferta prevê a injeção de até 1,5 bilhão de reais em dinheiro novo, conversão de 2,2 bilhões de dívida em ações e o pagamento integral a credores que tem até 30 mil reais a receber em um prazo de no máximo 90 dias.
Sobre a capitalização prevista, o CFO avaliou que é um “gesto de confiança e credibilidade” por parte dos três acionistas de referência da Light, Nelson Tanure, Ronaldo Cezar Coelho e Carlos Alberto Sicupira, que deverão ancorar cerca de 1 bilhão de reais no processo.
“Sem esse 1 bilhão (de reais) não tem recuperação e ele é essencial para dar fôlego e saúde para recuperar a companhia, para focar na renovação da concessão e na melhora dos índices da empresa e para continuar os investimentos”, afirmou Tostes.
“Nosso plano não tem margem de manobra; é imutável. A melhor proposta é aquela que vai ser paga e honrada. E com esse plano garantimos isso. Não vamos iludir os credores”, acrescentou.
Ao comentar sobre a proposta feita por credores debenturistas, que buscam aumentar a 7,5% a taxa de pagamento do saldo restante para quem aceitar converter parte da dívida em ações, o CFO afirmou que a dívida da empresa alcançaria até 9 bilhões de reais em 2030, ante 6 bilhões a 7 bilhões nos parâmetros estipulados no plano apresentado pela Light.
“A proposta deles não é melhor para os credores; a melhor proposta para o credor é aquela que vai ser paga… IPCA mais 7,5% é inviável e quebra a companhia, ainda mais num cenário de juros baixos”, declarou Tostes.
Em paralelo, a Light terá que enfrentar junto ao governo do Rio de Janeiro e a União os desafios na distribuição de energia elétrica impostos pelos problemas de segurança pública no Estado.
Cálculos feitos pela empresa mostram que, para cada 16 clientes, seis não pagam a conta de luz, sendo que em algumas áreas com restrição operacional –onde as equipes da distribuição têm dificuldade de atuar por questões de segurança–, os percentuais de não pagantes superam os 80%.
“Existe furto de energia em outras concessões, sim, mas nosso volume é diferente. Isto está sendo analisado e deve ser contemplado. A gente vai fazer a nossa parte com redução desses percentuais”, afirmou o diretor financeiro.
“O plano que a companhia desenhou a credencia a demonstrar sua capacidade financeira ao regulador e, consequentemente, possibilitar a renovação da concessão e a prestação de serviços”, finalizou.
(Por Rodrigo Viga Gaier)
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