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Negócios

Crise da Boeing vira desafio adicional para a Gol

Sucessão de escândalos envolvendo a fabricante americana se torna mais uma dor de cabeça para a empresa em RJ

Em meio a uma crise de credibilidade, a Boeing virou um problemão para a Gol, que está às voltas com seus próprios desafios financeiros – o que inclui uma recuperação judicial e dívidas de mais de R$ 20 bilhões. 

No mais recente capítulo da novela da Boeing, executivos da empresa, incluindo o CEO David Calhoun, usaram jatos particulares da companhia para fazer viagens pessoais que foram indevidamente registradas como viagens de negócios. O custo do “engano” foi relativamente baixo, de US$ 500 mil, mas se soma à crise de imagem que a Boeing enfrenta desde que falhas – algumas catastróficas – em seus aviões 737 Max colocaram a companhia sob intenso escrutínio público. 

Além disso, reportagem recente do The New York Times mostrou que uma fornecedora importante da Boeing, a Spirit AeroSystems, usava detergente de cozinha na fabricação de algumas peças, o que alarmou muita gente – já que os padrões da indústria aeroespacial não costumam incluir produtos à venda em supermercado. A Spirit AeroSystems, que está em vias de ser comprada pela Boeing, se defendeu dizendo que seus métodos são prova de inventividade, não um sinal de desleixo.

Ok, mas e a Gol com isso? Os problemas enfrentados pela Boeing se desdobraram em sucessivos atrasos na entrega de aeronaves mundo afora e, no Brasil, nenhuma grande aérea depende tanto da fabricante americana quanto a Gol. 

Avião 737 MAX-9 da Boeing em construção em unidade de produção em Renton, Washington 13/02/2017 REUTERS/Jason Redmond

A frota da Azul é basicamente composta por aviões da Airbus e da Embraer, enquanto a Latam só opera por aqui com aeronaves fabricadas pela companhia europeia. Já a Gol tem 100% de sua frota composta por Boeings e está na fila esperando ser atendida nas suas encomendas. 

E a fila está andando devagar. Na terça-feira (9), a Boeing informou ao mercado ter entregue só 29 aviões no mês de fevereiro, bem menos que os 64 finalizados no mesmo mês de 2023. No primeiro trimestre deste ano, foram 83 entregas contra 130 no mesmo período do ano passado. 

O CFO da Boeing, Brian West, disse que o atraso faz parte dos planos da companhia, que tenta acertar o ritmo de produção ao mesmo tempo em que incorpora mudanças ao processo produtivo a fim de garantir a qualidade dos seus aviões. “Fomos nós que tomamos a decisão de limitar a fabricação dos modelos 737 a 38 unidades por mês até sentirmos que estamos prontos [para aumentar a produção]”, explicou. 

O passo lento da Boeing constitui um desafio adicional para a Gol, que está em plena negociação com os arrendadores de aeronaves, o que pode até significar uma redução na frota no curto prazo. A Gol encerrou 2023 com uma frota média operacional de 101 aeronaves, nove a menos do que no final de 2022. 

Menos aviões podem significar restrições em algumas rotas. Além disso, uma frota mais antiga também se traduz em maior custo de manutenção, o que espreme as margens de uma companhia que em fevereiro anotou prejuízo líquido de R$ 160 milhões. E isso depois de ficar no vermelho em R$ 135 milhões no primeiro mês do ano. 

LEIA MAIS: Aéreas: combustível verde esbarra na falta de oferta – e na demanda por subsídios

Nesta quinta-feira (11), a Gol afirmou que deve chegar a um acordo com os arrendadores de aeronaves nas próximas semanas, e que as conversas com esses parceiros estão sendo “positivas”. A empresa ainda conseguiu destravar todas as parcelas de um empréstimo DIP de US$ 1 bilhão – modalidade de crédito concedida a empresas em recuperação judicial no qual os credores têm preferência para receber, o que exige a anuência da Justiça. 

Pode ser um respiro importante para a empresa, que já virou alvo dos concorrentes diretos. A Latam pode aproveitar o momento de vulnerabilidade da Gol para tentar aumentar a própria frota, mesmo que não opere aviões da Boeing atualmente. Já a Azul teria interesse em comprar a Gol.

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