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Negócios

‘Taxa das blusinhas’ traz alívio para as varejistas brasileiras no curto prazo

Empresas altamente endividadas ainda enfrentam taxas de juros mais altas por mais tempo

Um aguardado imposto de importação sobre compras de até US$ 50 oferecerá alívio a curto prazo para os varejistas brasileiros em dificuldades, enquanto eles lutam contra obstáculos de longo prazo.

O projeto aprovado na Câmara dos Deputados do Brasil na quarta-feira (05) passada, que impõe uma taxa de 20% sobre importações de baixo custo, destina-se a conter a crescente concorrência dos players asiáticos de moda rápida Shein, e Shopee, além do aplicativo chinês iniciante Temu, enquanto eles expandem suas operações na maior economia da América Latina. A medida entrará em vigor imediatamente após receber a assinatura presidencial.

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O imposto ficou conhecido como “taxa das blusinhas” por fazer referência às camisetas mais baratas e populares entre as jovens, especialmente das classes média e baixa em todo o Brasil — um grupo importante de eleitores para Luiz Inácio Lula da Silva, que inicialmente se opôs a isso.

Mas, embora marcas nacionais como C&A Modas SA, Lojas Renner SA e Guararapes Confecções SA possam recuperar alguns clientes, as empresas altamente endividadas ainda enfrentam taxas de juros mais altas por mais tempo e um cenário varejista radicalmente alterado pelo comércio eletrônico e pela concorrência internacional.

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“Esse novo imposto deve ajudar o cenário competitivo e proporcionar alívio às empresas brasileiras, mas não resolve o problema”, disse Gustavo Senday, analista da XP Inc., em entrevista. O cenário varejista “também se tornou mais desafiador com a chegada de novos players.”

A XP vê o projeto como positivo para varejistas de vestuário de classe média, mas também para players de comércio eletrônico, incluindo Magazine Luiza SA e Grupo Casas Bahia SA, que vendem eletrônicos e também enfrentam a concorrência asiática nesse segmento.

O que dizem as empresas

As ações dos varejistas brasileiros dispararam na abertura do mercado em São Paulo na quarta-feira, 5 de junho, quando o Senado aprovou o projeto, embora os movimentos tenham se dissipado rapidamente. Sob altas taxas e forte concorrência, as ações varejistas estenderam sua queda de anos. Com base no fechamento de quinta-feira, Magazine Luiza caiu 48% até agora em 2024, Lojas Renner caiu 28% e Casas Bahia caiu 47%.

“A C&A considera a aprovação do projeto como mais um passo rumo à igualdade tributária entre todos os varejistas”, disse a empresa em comunicado por escrito. Magazine Luiza, Lojas Renner e Casas Bahia se recusaram a comentar.

As empresas brasileiras precisam ter mais direitos do que as empresas estrangeiras para continuar gerando empregos, disse a fundadora da Magazine Luiza, Luiza Trajano, ao jornal local O Globo, afirmando que o projeto “não era ideal”.

Para as associações do setor, que vinham pressionando por um imposto de importação de até 60%, a nova medida é bem-vinda, mas ainda não é suficiente para aliviar as pressões competitivas.

“Plataformas estrangeiras, embora com impostos ainda mais baixos do que os ônus suportados há muito tempo pelas empresas e pela sociedade brasileira, agora estão parcialmente vivendo com a realidade da carga tributária nacional, uma das mais altas do mundo”, afirmaram a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção e a Associação Brasileira do Varejo Têxtil em um comunicado.

Lula, por sua vez, disse inicialmente que, se o projeto fosse aprovado, ele vetaria, dado que poderia ser impopular ao aumentar os preços. Mas após negociações no Congresso, o governo concordou eventualmente em reintroduzir o imposto de importação, embora seja um golpe nos esforços do presidente para reduzir as barreiras de entrada para players estrangeiros.

“Esse projeto tornará os produtos importados um pouco mais caros, mas ainda serão mais acessíveis do que comprar de grandes marcas como Lojas Renner ou players de comércio eletrônico como Magazine Luiza”, disse Pedro Serra, chefe de pesquisa de equity na Ativa Investimentos, em entrevista.

“Os varejistas locais precisarão focar na competitividade, mas não no preço, porque no preço eles não conseguirão competir”, acrescentou. “Agora eles precisam ser competitivos na experiência do consumidor, da compra ao checkout.”

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