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Economia

Juro alto renova o brilho da renda fixa, mas é preciso olhar para os detalhes

Especialistas destacam prêmios historicamente altos em papéis atrelados
à inflação


Um personagem sempre em evidência no show business dos investimentos no Brasil renovou seu papel de protagonista: a ilustre renda fixa. O enredo inicial previa um juro básico (Selic) em 9% ao ano até o fim de 2024, e vinha sendo cumprido. Mas aí o cenário externo azedou, as expectativas de inflação pioraram, o dólar disparou e… para tudo. Os letreiros agora sinalizam que a Selic em 10,5% deve ficar em cartaz por um bom tempo, isso se não subir.

Tal perspectiva impacta diretamente as aplicações atreladas ao CDI, que se mantêm altamente atraentes para quem busca liquidez (poder sacar os recursos a qualquer momento), afirma Caio Camargo, estrategista de investimentos do Santander. “A gente brinca que o pós-fixado [título que acompanha a variação da taxa Selic ou do CDI] é a parcela de equilíbrio da carteira. Então, com uma Selic mais alta como temos hoje, acaba sendo muito atrativo e faz bastante sentido”, diz Camargo.

Nessa modalidade, no entanto, o investidor não pode perder de vista o comportamento da inflação. A variação da inflação é que determina qual é o ganho real de um investimento. Se a aplicação não estiver atrelada a um índice de preços, como o IPCA, então uma disparada da inflação vai acabar reduzindo muito o ganho real. Exemplo: se o rendimento creditado for de 10,5% e a inflação estiver em 4%, o ganho real será de apenas 6,5%, isso sem contar os impostos. Portanto, se os níveis de inflação futura estiverem muito altos, talvez seja necessário ajustar a estratégia.

Ainda no palco dos investimentos, o juro elevado traz luz também para as aplicações prefixadas, aquelas em que a taxa de retorno é determinada no momento do aporte de recursos. Isso, desde que o investidor fique com o papel em carteira até o vencimento.

Viviane Silva, analista da BB Investimentos, diz que as operações prefixadas de curto prazo podem ser uma alternativa de travar rendimentos a taxas atrativas, caso se concretize a hipótese de a Selic voltar a cair em 2025.

E aqui vale um alerta importante: o mercado trabalha em cima de expectativas. Se o investidor estiver convencido de que o cenário vai melhorar e a Selic poderá voltar a cair, faz sentido garantir no prefixado um rendimento superior a 10,5% para um horizonte de três anos ou mais, por exemplo.

Porém… se a situação econômica exigir um aumento da Selic em nível superior ao que foi contratado lá atrás, o investidor terá que se contentar com a taxa previamente negociada.

E se eu vender meu papel prefixado antes do vencimento?

Existem dois cenários possíveis: se o juro que está travado no momento da aplicação for maior que a Selic no momento do resgate, você sai ganhando. Se for menor, perde. Nos dois casos, a magnitude – para cima ou para baixo – vai depender do apetite por aquele papel no mercado secundário de negociação, a chamada “marcação a mercado” dos preços dos títulos.

Com vocês, os papéis de inflação

Para quem deseja se proteger da inflação e garantir também uma taxa prefixada, entra em cena os títulos indexados ao IPCA, públicos e privados.

E a boa notícia é que os prêmios oferecidos por esses papéis estão em patamares elevados em relação à média histórica. “Além de proteger o poder de compra do portfólio, esses títulos entregam atualmente uma taxa de juro real elevada quando comparada aos últimos 14 anos”, diz Camargo, do Santander. “É o que traz mais equilíbrio para a carteira no momento.”

Um exemplo é o título público Tesouro IPCA+ com vencimento em 2029, que oferecia recentemente a variação da inflação mais 6,4%. Segundo especialistas, é uma alternativa particularmente interessantes para aplicações com horizonte de médio e longo prazo.

Crédito privado, mocinho ou vilão?

Se a ideia é buscar retornos ainda maiores na renda fixa, um personagem importante são os papéis privados. Mas antes de qualquer apresentação vale lembrar que, para obter ganhos mais elevados, é preciso correr mais risco. Simples assim.

Lembrete feito, vamos recapitular que, no início de 2023, a confiança do investidor em ativos de crédito foi abalada quando a gigante varejista Lojas Americanas pediu recuperação judicial. Isso fez com que o mercado passasse a exigir uma remuneração ainda maior para correr o risco de comprar esses papéis e, eventualmente, não receber. Esse “prêmio” recuou um pouco desde então, mas ainda existe, avalia Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management.

LEIA MAIS: Cenário para fundos imobiliários mudou: com juro alto, investimento vale a pena?

Como referencial, todos os índices de debêntures [título de crédito privado] divulgados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) superam o desempenho dos índices atrelados aos títulos públicos, no acumulado dos últimos 12 meses.

Mas por que o papel privado é tão mais arriscado?

O estrategista do Santander explica que o risco de crédito é mais difícil de mensurar porque ele não se resume a um índice, a um número. Para saber se uma empresa é mais arriscada do que outra, é preciso analisar diversas variáveis, como capacidade de geração de caixa, controle de custos, nível de endividamento etc. Além disso, o ambiente de juro alto por mais tempo torna mais dura ainda a vida das empresas, pois impacta o planejamento financeiro, pode pressionar o custo da dívida, pode influenciar as vendas, e por aí vai. Tudo isso reforça a importância da seletividade e cautela nas alocações em papéis privados.

Na dúvida, diversifique

Conhecendo todos os personagens da renda fixa, o investidor pode até achar que já tem o seu favorito, mas não custa repassar outro aviso importante para a plateia: ter bem claro o objetivo da aplicação e o horizonte de investimento, fatores que vão guiar a estratégia mais
adequada.

Quer investir, mas não sabe exatamente o que fará com o dinheiro no futuro? Bom, neste caso faz mais sentido ainda a boa e velha recomendação dos especialistas de diversificar as aplicações. Nesse sentido, a recomendação clássica é distribuir os recursos pensando
em três diferentes cenários: deixar uma reserva que possa ser sacada a qualquer momento, alocar uma parcela com vencimento no médio prazo e outra que irá “hibernar” na carteira por um longo período.

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