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Microsoft terá usina nuclear exclusiva para IA

Constellation vai investir US$ 1,6 bilhão para reativar a usina, que será totalmente dedicada a data centers da gigante de tecnologia

Usina nuclear de Three Miles Island
Usina nuclear de Three Miles Island, na Pensilvânia. Andrew Harrer/Bloomberg

O proprietário da usina nuclear desativada de Three Mile Island, na Pensilvânia, investirá US$ 1,6 bilhão para reativá-la, em um acordo para vender toda a produção à Microsoft, que busca eletricidade livre de carbono para alimentar seus data centers, impulsionando a expansão da inteligência artificial (IA).

A Constellation Energy, maior operadora de reatores dos EUA, espera que a usina retorne à operação em 2028, segundo comunicado na sexta-feira. Embora uma das duas unidades do local tenha sido fechada permanentemente quase meio século atrás, após o pior acidente nuclear da história dos EUA, a Constellation planeja reabrir o outro reator, que foi desativado em 2019 por não conseguir competir economicamente.

As ações da Constellation Energy subiram até 16% nesta sexta-feira, alcançando um recorde histórico.

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A Microsoft firmou um contrato de compra de energia por 20 anos, mas não divulgou os termos financeiros. Esta é a primeira vez que a gigante tecnológica garante uma usina nuclear 100% dedicada para seu uso exclusivo.

A decisão é mais um sinal do crescente interesse pela indústria nuclear à medida que a demanda por energia impulsionada pela IA dispara. Mais de uma dúzia de reatores foram desativados na última década devido à concorrência de gás natural mais barato e energias renováveis. Porém, a crescente demanda por eletricidade — de fábricas, carros e, especialmente, data centers — tem despertado interesse em usinas nucleares que podem fornecer energia livre de carbono 24 horas por dia.

“Os formuladores de políticas e o mercado tiveram um grande despertar”, afirmou o CEO da Constellation, Joe Dominguez, em entrevista. “Não existe futuro em energia limpa para este país que não dependa desses ativos nucleares.”

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A Constellation, que viu suas ações subirem neste ano graças ao aumento da conscientização dos investidores sobre o valor das usinas de energia, planeja financiar o projeto com recursos próprios, sem buscar apoio estadual ou federal. Isso contrasta com a Holtec International, que está buscando cerca de US$ 1,8 bilhão em financiamento condicional do Departamento de Energia dos EUA e do estado de Michigan para reativar um reator desativado. A NextEra Energy Inc. também considera reativar um reator fechado em Iowa, em parte para atender à demanda de data centers.

Enquanto a Constellation não descarta o apoio financeiro externo, Dominguez explicou que as aprovações governamentais são lentas e ele prefere não esperar. As obras em Three Mile Island devem começar imediatamente. O acordo para fornecer energia à Microsoft, proveniente do reator de 837 megawatts, é o maior contrato de compra de energia já feito pela Constellation.

O esforço de reativação começou no início de 2023, quando a Constellation começou a avaliar a viabilidade de religar o reator. No início deste ano, a empresa decidiu seguir em frente com o projeto e iniciou conversas com potenciais clientes, sendo a Microsoft uma das primeiras interessadas, segundo Dominguez.

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A compra de energia nuclear ajudará a Microsoft em seu objetivo de operar todos os seus data centers globais com energia limpa até 2025, segundo Bobby Hollis, vice-presidente de energia da Microsoft. A energia nuclear será utilizada para expandir os data centers em áreas como Chicago, Virgínia, Pensilvânia e Ohio.

Embora a energia nuclear ajude a Microsoft a atingir suas metas climáticas, ela não resolve o problema mais difícil: as emissões de concreto, aço e chips utilizados nos data centers, afirmou Hollis. “Essa parte não é simples, mas é mais fácil do que descobrir como descarbonizar toda a cadeia de suprimentos”, disse ele.

Ainda assim, os data centers são bons clientes para a energia nuclear. Ao contrário da energia solar e eólica, que podem variar, uma usina nuclear geralmente opera continuamente, exigindo um cliente que consuma toda essa eletricidade. Isso torna as empresas de tecnologia, que vendem serviços de computação em nuvem, uma opção ideal. “Nós operamos 24 horas por dia. Eles também”, disse Hollis.

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A Microsoft não é a única empresa de tecnologia interessada em energia nuclear para alimentar suas ambições de IA. No início deste ano, a divisão de computação em nuvem da Amazon.com Inc. concordou em gastar US$ 650 milhões para adquirir um campus de data centers conectado à usina nuclear da Talen Energy Corp., localizada no rio Susquehanna, na Pensilvânia.

Embora o reator de Three Mile Island tenha sido desativado em 2019, Dominguez afirmou que os equipamentos ainda estão em bom estado. No entanto, a reativação exigirá investimentos significativos em sistemas como o transformador principal, turbina e refrigeração. A empresa precisará recontratar funcionários e buscar aprovação da Comissão Reguladora Nuclear dos EUA. A Constellation também planeja estender a licença de operação até 2054 e renomear a instalação como Crane Clean Energy Center, em homenagem ao ex-CEO da Exelon Corp., Chris Crane, que faleceu recentemente.

Um dos maiores desafios será reconectar a usina à rede elétrica operada pela PJM Interconnection LLC, que possui uma fila extensa. Se a PJM agir rapidamente, a usina poderá estar pronta para fornecer energia já em 2027, afirmou Dominguez.

“Estou muito feliz por estarmos revertendo um erro terrível que não deveria ter acontecido”, disse ele. “Será muito mais difícil alcançar a transição energética se dependermos apenas de vento, solar e armazenamento.”

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