Neste fim de semana, enquanto a maior parte do público vai estar de olho nas pistas no GP São Paulo de Fórmula 1, um seleto grupo de altos executivos, empresários e especialistas em aquisições de empresas estarão nas áreas vip do evento envolvidos em transações que vão virar notícia vários dias mais tarde. Nos bastidores da F1, a adrenalina sobe na velocidade dos negócios.
O InvestNews apurou com fontes, por exemplo, que representantes da Mubadala, principal veículo de investimentos do fundo soberano dos Emirados Árabes – e que é o dono da IMM, organizadora do GP Brasil –, vão aproveitar o evento para se encontrar com escritórios especializados em fusões e aquisições, bem como empresários e executivos de companhias brasileiras. O grupo anunciou recentemente a meta de investir US$ 1 bilhão por ano no país.
O presidente da Mubadala Capital no Brasil, Oscar Fahlgren, estará presente no evento. E especula-se que o fundo poderá tentar desenrolar, entre outras negociações, a venda da refinaria de Mataripe para a Petrobras. A planta pertence à Acelen, controlada pelo grupo árabe.
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A Mubadala começou a investir no Brasil em 2012. Desde então, ampliou sua presença no país por meio da aquisição de companhias em dificuldades. E assim acumulou um portfólio que soma US$ 6,1 bilhões (R$ 32 bilhões).
A lista de investimentos vai do metrô do Rio de Janeiro à empresa de eventos que organiza a Fórmula 1 no Brasil, passando por usinas de açúcar e álcool, a refinaria de Mataripe, uma rede de academias e uma mineradora. Recentemente, adquiriu a Starbucks Brasil por meio da controlada Zamp.
Já um alto executivo de uma empresa da área financeira, que pediu para não ser identificado, conta que organizou uma caravana com centenas de clientes e parceiros para vivenciar esse clima de conexões em uma corrida de F1 nos Estados Unidos. “Já estive em vários GPs no mundo inteiro e cruzei casualmente com CEOs de gigantes de tecnologia. Só consegui acesso a eles por causa da F1.”
O executivo ressalta a força da combinação de negócios e esporte. “É uma experiência poderosa, que alia a paixão pelo esporte com a possibilidade de se conhecer o ‘PIB’ da região de cada prova.”
Um exemplo de como a F1 pode funcionar como plataforma privilegiada de negócios ocorreu no fim de julho de 2023. Um seminário que contou com a participação da maior comitiva de autoridades da Arábia Saudita a visitar o Brasil teve origem nos bastidores de um grande prêmio.
Na ocasião, um grupo de cerca de 100 empresários e integrantes do governo saudita esteve em solo nacional. Encabeçado por Khalid Al-Falih, ministro de Investimentos do país e ex-CEO da maior petroleira do mundo, a Saudi Aramco, o grupo veio ao Brasil a convite da XP. A conexão surgiu quando Al-Falih conheceu executivos da plataforma digital de investimentos durante uma das corridas na temporada 2023.
Havia uma ligação prévia: a XP e a Saudi Aram eram patrocinadores da mesma equipe, a inglesa Aston Martin. “Temos muito interesse em investir e em atrair empresas para o Reino”, ressaltou Al-Falih na ocasião. O seminário atraiu companhias brasileiras como Azul, Ânima, Oncoclínicas, Luft Logística e CCR interessadas em abrir portas no mercado árabe.
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Velocidade das marcas
A dobradinha prazer e negócios virou uma receita valiosa para o GP São Paulo. O CEO da etapa brasileira da F1, Alan Adler, estima que cada um dos três dias do evento recebe, ao menos, 10 mil pessoas ligadas a marcas e empresas em busca de fazer negócios no evento. Ou seja, além da curtição, o público também tem levado junto para os bastidores o crachá de “C-level”.
As marcas que fazem parte desse mundo da velocidade veem o GP São Paulo como uma oportunidade não só de fazer novos negócios, como também de renovar laços. A Mercedes-Benz, patrocinadora de longa data de equipes de F1, tem uma área própria dentro do evento e costuma oferecer uma visita vip a donos de transportadoras, de redes concessionárias e clientes exclusivos do grupo.
“Nossos clientes e parceiros podem comprar qualquer tipo de ingresso, mas ser convidado pela marca é outra experiência”, afirma Alessandra Souza, chefe de marketing e comunicação corporativa do grupo alemão no Brasil.
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Na comitiva organizada pela Mercedes, figuram os membros do clube AMG Private Lounge. “São clientes superexclusivos que têm carros da AMG,a divisão de alta performance da marca. Convidamos clientes da Argentina, do Peru e outros países da América Latina para um evento de relacionamento e experiências.” As Mercedes AMG são versões customizadas para um desempenho superesportivo. Custam no Brasil a partir de R$ 1,6 milhão.
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Outro patrocinador, a Porto, considera o evento como um trunfo valioso. Luiz Arruda, vice-presidente comercial e de marketing do grupo, vê a Fórmula 1 como o “ápice da cultura de paixão automobilística”. O executivo ressalta haver um apelo emocional evidente entre parceiros, clientes e funcionários convidados a participar de uma corrida. “O evento em si funciona como uma alavanca de experiências”, conta.
Com ajuda da festa da velocidade, a marca busca, por exemplo, aumentar o engajamento no principal canal de distribuição de produtos da Porto, os corretores de seguros. “A conexão emocional mais o relacionamento gera uma motivação muito forte.” O investimento compensa. A estratégia ajuda a Porto a manter a maior participação do segmento de seguro auto, com 28% das vendas.
Uma empresa brasileira que tem usado a F1 como trampolim para os mercados de fora é a Oak Berry. A fabricante de produtos a base de açaí patrocina a equipe americana Haas F1 desde 2022. A companhia já vende seus smooties em 40 países e tem 70% do faturamento vindo do mercado internacional. “É uma realização pessoal, alinhada à estratégia de expansão internacional e o posicionamento global da marca”, afirmou o fundador e CEO Georgios Frangulis, em um evento.
Na edição de 2024, o GP São Paulo conta com mais de 300 marcas entre patrocinadores, parceiros e apoiadores que conseguiram um lugar ao sol na vitrine global proporcionada pelo GP. Os interesses de quem se associa ou quer estar ligado à categoria máxima do automobilismo são diversos, mas, em comum, há o desejo de exposição mundial em um evento com uma audiência acumulada na temporada passada de mais de 1,5 bilhão de fãs em dezenas de países. Já nos bastidores, o grande prêmio são os negócios.
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