A ISA Energia Brasil, responsável por transmitir cerca de 30% energia do país, está em curso com um plano de investir R$ 14 bilhões até o fim da década. Apesar da escalada da taxa de juros, o CEO Rui Chammas diz que a empresa tem conseguido boas janelas para emissão de dívida, a um custo menor que outros setores da economia.
Esse robusto plano de investimentos tem origem em 2019, quando a ISA Energia acelerou a busca por novas concessões e arrematou sete projetos de transmissão de energia, que vão demandar R$ 9 bilhões até o fim da década. Além disso, outros R$ 5 bilhões serão investidos no mesmo período para modernizar a infraestrutura de transmissão de energia em São Paulo, um dos principais ativos da empresa.
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“Nós queremos crescer, mas tem que ser de forma rentável. Então temos que ter uma execução de excelência: comprar barato e entregar no prazo [para receber pelos ativos]”, afirma Chammas, em entrevista ao InvestNews (veja no vídeo acima). “Eu devo manter a minha capacidade de crescer, porque, numa gestão de portfólio de concessões, você precisa adquirir novas concessões ao longo do tempo para manter uma longevidade adequada.”
Com a retomada do ciclo de alta de juros no país, Rui Chammas afirma que a ISA Energia tem como vantagem o fato de seus projetos serem de longo prazo, “o que me permite captar recursos tanto no ciclo de alta quanto no período de redução de juros”.
Chammas cita como exemplo uma captação de R$ 1,8 bilhão em debêntures, encerrada em outubro, em que a empresa conseguiu uma taxa menor em relação aos títulos do Tesouro atrelados ao IPCA (as NTN-B). “É um trabalho importante que a nossa área financeira faz, e só é possível porque a empresa tem um rating [avaliação] de crédito muito bom”, diz.
A ISA Energia atua em um segmento que costuma passar despercebido pelas pessoas, mas que, sem ele, não seria possível conectar a energia gerada em todas as partes do país até a sua casa. “Dentro do sistema de transmissão, quanto menos aparece a empresa, melhor é. Quer dizer que nós conseguimos fazer a transmissão de energia sem nenhum problema”, diz Chammas..
Atualmente, quase 30% de toda a energia gerada no país passa pelas redes da ISA Energia – uma infraestrutura de 35 concessões em 18 Estados brasileiros; só em São Paulo, essa fatia é de 95%. A ISA Energia que conhecemos hoje é fruto da privatização da antiga Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), feita em 2006, em que o grupo colombiano ISA saiu vitorioso – aliás, até novembro, a empresa ainda carregava no nome a marca de seus tempos de estatal: ISA Cteep.
O ‘efeito’ Gênesis
Depois de levar três grandes concessões em 2023, a ISA Energia optou por não participar de novos leilões neste ano. Um fato curioso é que a decisão foi tomada após a companhia ser envolvida indiretamente num “causo” envolvendo um consórcio chamado Gênesis.
Explicamos: em um leilão de transmissão realizado no fim de junho do ano passado, o Gênesis levou um dos principais lotes da disputa oferecendo um desconto agressivo para construir o projeto. Até aí, tudo bem. O problema é que ninguém nunca tinha ouvido falar no tal consórcio, liderado por uma companhia de locação de veículos do interior de Minas Gerais.
Na coletiva, constrangimento geral quando o representante do Gênesis citou até a bíblia para explicar como a empresa iria bancar uma obra que vai demandar R$ 3,17 bilhões em investimentos. Resultado: a empresa não demonstrou capacidade para dar conta de uma obra desta monta e foi desclassificada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e a ISA Energia, segunda colocada, levou o ativo.
“A nossa estratégia naquele leilão era buscar um lote pequeno e um lote grande. Conseguimos o objetivo, mas depois recebemos a notícia da desqualificação do Gênesis, que eu não conhecia até aquele momento”, lembra Chammas. “Quando nos foi oferecida a concessão, recebemos com muita disciplina, vimos que conseguiríamos executá-la do ponto de vista financeiro, mas aí revimos nossa estratégia para este ano”, acrescenta.
Para 2025, a ISA Energia vai focar em iniciativas de otimização da rede, como o uso de tecnologias como os Sistemas de Transmissão Flexíveis de Corrente Alternada (Facts, em inglês) e também no armazenamento de energia, que se torna ainda mais essencial com o crescimento de fontes intermitentes, especialmente eólica e solar. “Não basta apenas fazer uma transmissão passiva, você tem que ter elementos na transmissão que permitam o controle da rede.”
Dividendos seguirão
E, mesmo o segmento de transmissão não sendo o mais notável para o grande público, a ISA Energia é bem conhecida pelos investidores – cerca de 300 mil deles possuem alguma ação da companhia por causa de seus proventos. Inclusive, na semana passada, a ISA Energia anunciou uma nova rodada de remuneração aos acionistas: R$ 1,56 bilhão em JCP ao longo do primeiro trimestre do próximo ano.
“Nós sabemos que nossos acionistas têm apreço pelo provento previsível e, por isso, desenhamos nosso crescimento já considerando isso”, diz Rui Chammas. “Não vai ser um crescimento pelo crescimento, é ser equilibrado para garantir nossa prática de pagar 75% do nosso lucro líquido regulatório em proventos”, acrescenta.
De janeiro a setembro deste ano, a ISA Energia registrou receita líquida de R$ 3,4 bilhões, crescimento de 18,2% em relação a igual período de 2023. Na última linha, o lucro líquido da empresa foi de R$ 1,27 bilhão, alta de 21,6% no mesmo comparativo.
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