Os Estados Unidos estão se tornando mais eficientes em suas atividades.

Tome como exemplo Vic Viktorov, proprietário de uma academia em Boston, que aumentou a receita de seu negócio em 30% em 2024 sem adicionar nenhum vendedor aos dois já existentes. Para isso, utiliza um modelo de inteligência artificial alimentado com documentos da empresa, materiais de vendas e outras informações. Agora, consegue realizar em minutos tarefas que antes levavam horas, como elaborar planos de marketing, redigir e-mails e criar postagens para redes sociais.

“Isso nos permite ser enxutos, ágeis e rápidos”, explica Viktorov.

A produtividade nos EUA está em ascensão. Isso é crucial porque quanto mais rápido a produtividade cresce, maior pode ser o crescimento da economia. O sucesso econômico dos Estados Unidos, e sua expansão superior à de outros países no último século, está diretamente ligado a essa produtividade.

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A produtividade — definida como a produção total da economia dividida pelo número de horas trabalhadas — cresceu 2% no terceiro trimestre em comparação com o ano anterior, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA. Foi o quinto trimestre consecutivo com aumento de 2% ou mais, um desempenho notável considerando que, nos cinco anos anteriores à pandemia, isso aconteceu apenas duas vezes.

Esses ganhos refletem, em parte, transformações significativas na economia americana desde o início da covid-19. As empresas descobriram novos métodos de trabalho e adotaram novas tecnologias, enquanto as mudanças no mercado de trabalho direcionaram profissionais para funções mais produtivas.

Outra mudança significativa na força de trabalho americana — uma nova grande onda de imigração — também pode ter contribuído. Como imigrantes frequentemente ocupam posições que exigem trabalho manual, isso permite que outros trabalhadores avancem para funções que requerem maior qualificação.

As empresas desenvolveram novas formas de operar: substituíram cardápios impressos pelos acessados por QR code em restaurantes, por exemplo, ou trocaram viagens demoradas a trabalho por videoconferências. Paralelamente, houve um aumento expressivo e contínuo na abertura de novos negócios.

Os trabalhadores, por sua vez, migraram para posições melhor remuneradas e mais especializadas. Quando restaurantes, hotéis e comércio reabriram após o fechamento temporário, enfrentaram dificuldades para encontrar funcionários e passaram a oferecer bônus ou promoções. Isso facilitou, por exemplo, que um caixa de um estabelecimento mal gerido conseguisse emprego em outro melhor administrado — onde poderia receber um salário maior, assumir mais responsabilidades e ser mais produtivo.

Entretanto, o aumento da produtividade nem sempre beneficia os trabalhadores: uma das formas de as empresas se tornarem mais produtivas é reduzindo o quadro de funcionários. Novas tecnologias, como a inteligência artificial, podem tanto criar novas oportunidades e tornar os profissionais mais eficientes quanto substituí-los em suas funções.

A recente greve dos portuários, por exemplo, foi parcialmente motivada pela intenção das empresas de expandir o uso de equipamentos automatizados nos portos. O presidente eleito Donald Trump manifestou apoio aos trabalhadores, afirmando em dezembro que a automação representa uma ameaça aos empregos.

Ainda não está claro se esse aumento na produtividade será duradouro. Os dados são voláteis e sujeitos a revisões. A intensa movimentação de profissionais trocando de emprego após a pandemia já se estabilizou. E, até agora, o crescimento da produtividade não se compara ao boom dos anos 1990, quando a popularização do computador pessoal e o surgimento da internet transformaram a economia.

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Mas a situação atual parece mais promissora do que antes da pandemia, quando economistas temiam que os Estados Unidos estivessem presos em um ciclo de baixa produtividade.

Diante da escassez de mão de obra nos últimos anos, a Novae, fabricante de reboques para caminhões baseada em Markle, Indiana, investiu em uma fábrica moderna inaugurada há seis meses. Com investimento de US$ 35 milhões (cerca de R$ 170 milhões), aproximadamente sete vezes mais que unidades convencionais do setor, a produção por trabalhador já é 35% superior, segundo o CEO Manish Bhandari. Ele prevê resultados ainda melhores ao longo do tempo, em parte porque as novas instalações ajudam a reter profissionais qualificados.

Uma fábrica da Novae inaugurada em 2024 incorpora automação e outras inovações que aumentam a produtividade
Uma fábrica da Novae inaugurada em 2024 incorpora automação e outras inovações que aumentam a produtividade (Divulgação)

Na fábrica, a Novae automatizou processos e implementou sugestões dos próprios funcionários. Um trabalhador desenvolveu um compartimento posicionado a sete centímetros das mãos dos montadores para armazenar peças de fixação usadas na estrutura dos reboques.

A empresa também trabalhou com a Streamliners, consultoria especializada em operações, para otimizar uma fábrica mais antiga próxima a Minneapolis, visando aumentar a produtividade em 70%. Sem espaço físico para expandir, a equipe redesenhou completamente a organização do espaço existente.

“Não existe solução mágica”, afirma Bhandari. “São centenas de pequenas decisões.”

Sem nada a perder

O momento é crítico. O crescimento econômico depende essencialmente de dois fatores: quantas pessoas estão trabalhando e quanto elas conseguem produzir durante seu tempo de trabalho.

No entanto, os Estados Unidos enfrentam limitações para expandir sua força de trabalho: o crescimento populacional é lento, a geração nascida imediatamente após a Segunda Guerra Mundial (os chamados “baby-boomers”) está se aposentando, e Trump prometeu restringir severamente a imigração, além de deportar milhões de trabalhadores imigrantes já estabelecidos no país. Uma produtividade mais elevada ajudaria a sustentar o crescimento econômico e apoiar uma população cada vez mais idosa.

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A produtividade também contribui para controlar a inflação: uma empresa mais eficiente pode aumentar seus lucros e oferecer melhores salários sem necessariamente repassar custos aos preços.

Em novembro, o país registrou 157.678 solicitações de abertura de novos negócios com alto potencial de crescimento (aqueles com maior probabilidade de contratar funcionários), segundo dados ajustados sazonalmente do Escritório do Censo — quase 50% acima dos níveis mensais pré-pandemia.

Segundo John Haltiwanger, economista da Universidade de Maryland, isso é um sinal positivo para a produtividade por duas razões.

Primeiro, quando surgem novas oportunidades de inovação — como aconteceu com os automóveis há cem anos ou com os computadores nas décadas de 1980 e 1990 — há uma proliferação de novos empreendimentos. Segundo, empresas recém-criadas tendem a adotar novas tecnologias mais rapidamente, o que pode permitir que operem com equipes mais enxutas.

“Essas empresas são mais propensas a tomar decisões radicais”, explica Haltiwanger. “Pode-se dizer que não têm nada a perder.”

O trabalho híbrido também pode ter contribuído para aumentar a produtividade dos profissionais de escritório, criando um equilíbrio entre a concentração do ambiente doméstico e as interações presenciais no escritório. Segundo Nick Bloom, economista da Universidade Stanford, esse modelo também parece melhorar a retenção de talentos, reduzindo o tempo que as empresas gastam treinando novos funcionários.

Sem e-mails, sem problemas

Viktorov, o proprietário da academia que citamos no começo deste texto, teve um ataque cardíaco inesperado aos 40 anos, após duas décadas atuando em consultoria de gestão. Essa experiência influenciou sua decisão de abrir, em 2022, uma academia focada em treinamento esportivo de alto rendimento.

Além de dois vendedores e oito treinadores, ele administra sozinho todas as outras áreas — marketing, recursos humanos, tecnologia, manutenção e demais funções.

Viktorov utiliza inteligência artificial generativa, tecnologia capaz de criar conteúdo a partir de grandes volumes de dados, para muito além do marketing. A ferramenta o auxilia em projetos complexos, como avaliar opções de financiamento ou elaborar manuais para funcionários.

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“Se consigo economizar uma ou duas horas por dia agilizando essas tarefas, minha eficiência aumenta significativamente”, explica Viktorov, cuja academia é uma franquia localizada em Boston da rede D1 Training, sediada no Tennessee.

No entanto, é preciso tempo para que uma nova tecnologia seja amplamente adotada e utilizada de forma eficaz. Assim, embora o ChatGPT e outras ferramentas de IA generativa estejam em evidência e algumas empresas já as utilizem, provavelmente são muito recentes para impactar a produtividade da economia como um todo, segundo David Deming, economista de Harvard.

“Essas tecnologias ainda são muito novas e não foram suficientemente incorporadas nas organizações a ponto de transformar suas práticas”, observa.

Contudo, tecnologias de IA mais antigas já podem estar tornando as empresas mais eficientes, acrescenta Deming. Por exemplo, alguns sistemas de inteligência artificial para gestão de estoques já existiam antes da pandemia.

Raj Karanam, que assumiu há cinco meses a Architectural Surfaces, distribuidora de pedras e outros materiais para construção, reduziu em 95% a falta de produtos utilizando análises avançadas e IA no controle de estoque.

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Isso representa um acréscimo de até US$ 2,5 milhões mensais em vendas que antes seriam perdidas por falta de produtos em estoque.

Anteriormente, exemplifica ele, quando uma loja em Denver precisava de uma placa de quartzito disponível em Austin, Texas, dezenas de e-mails eram trocados para aprovar e iniciar a transferência. Hoje, todo o processo é automatizado. “Nem precisamos mais de e-mails, eliminando essa perda de tempo, e conseguimos transportar os produtos para o local certo com muito mais rapidez.”

Envie e-mail para Justin Lahart em [email protected] e Lauren Weber em [email protected]

Traduzido do inglês por InvestNews

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