Os vizinhos mais ricos da Argentina estão tirando muito menos férias no país sul-americano famoso por sua carne bovina, vinhos tintos e capital cosmopolita, uma vez que as políticas monetárias do presidente Javier Milei transformam uma pechincha turística dos sonhos em uma exceção cara.

Os turistas que visitam do Uruguai e do Chile – países que possuem renda per capita mais alta do que seu vizinho maior – caíram pelo menos 30% em dezembro em relação ao ano anterior, de acordo com a agência de estatísticas argentina Indec. Os uruguaios gastaram cerca de US$ 780 milhões na Argentina no ano passado, uma queda de US$ 469 milhões em relação a 2023, já que o número de visitantes caiu quase pela metade, para apenas 2,1 milhões nesse período, de acordo com o Ministério do Turismo do Uruguai.

Durante todo o ano passado, a Argentina perdeu US$ 2,1 bilhões com o turismo, com base no quanto seus cidadãos gastaram no exterior em comparação com o quanto os estrangeiros gastaram em Buenos Aires e em outros lugares. Em 2023, o déficit de turismo da Argentina foi de US$ 1,2 bilhão, pois os desastres políticos tornaram o peso barato durante o governo anterior.

As políticas de Milei reduziram a diferença entre as taxas de câmbio oficial e paralela que tornaram seu país uma pechincha para os turistas. Sua decisão de desacelerar o ritmo da taxa de câmbio oficial e a alta inflação podem tornar a Argentina ainda mais cara para os uruguaios este ano.

“Se isso continuar, é provável que 2025 seja um ano em que veremos menos viagens para a Argentina e, portanto, menos consumo na Argentina, e mais argentinos visitando o Uruguai”, disse Florencia Carriquiry, sócia e economista da empresa de consultoria Exante, sediada em Montevidéu.

As vendas de passagens aéreas para a Argentina pelo 5M Travel Group – que opera cinco empresas de viagens no Uruguai – já caíram cerca de 25% durante o quarto trimestre de 2024, o que o diretor Andres Gil atribuiu à taxa de câmbio desfavorável e a uma onda de greves na companhia aérea estatal Aerolineas Argentinas.

“Um concorrente direto da Argentina também se tornou muito mais barato, o Brasil”, disse ele. “A desvalorização do real em relação ao dólar tem sido muito forte. O Brasil é uma opção extremamente favorável em relação à Argentina.”

Não são apenas os uruguaios que estão ficando em casa ou indo para outro lugar, é claro. Os argentinos estão de fato migrando para as praias da costa atlântica do Uruguai para aproveitar o verão do hemisfério sul. Quase 109.000 entraram no Uruguai no mês passado, um aumento de 10% em relação ao ano anterior, de acordo com o Indec.

A tendência marca uma reviravolta para empresários como Guillermo Luzardo, que cortou pessoal e congelou os planos de expansão de sua rede de supermercados na cidade fronteiriça de Salto porque os compradores atravessaram a ponte para a vizinha Concordia, na Argentina, para comprar gasolina e mantimentos baratos em 2022 e 2023.

A decisão de Milei de aumentar os preços dos combustíveis – um atrativo importante para os uruguaios que combinavam idas ao posto de gasolina com jantares fora e compras – e o fim dos pesos argentinos baratos estouraram a bolha de consumo que estava sugando a vida das empresas em Salto, disse ele. As vendas de Luzardo aumentaram cerca de 20% no ano passado e ele abriu seu quinto supermercado em novembro.

“As coisas começaram a mudar em 2024 e o mês passado foi nosso melhor dezembro em cinco anos”, disse Luzardo, que também é presidente da Câmara de Indústria e Comércio de Salto. “Estamos vendo as vendas no varejo subirem, mais empresários estão contratando pessoas e mais investimentos.”