No Brasil, inflação e dólar em alta, desemprego baixo e atividade ainda forte. Nos Estados Unidos, sinais de recuperação da atividade, ainda que de forma moderada, e inflação sob controle. É sob esse pano de fundo que o Banco Central brasileiro, agora sob o comando de Gabriel Galípolo, e o Federal Reserve (o BC dos Estados Unidos), na primeira reunião do novo governo de Donald Trump, vão tomar suas decisões de política monetária. Peculiaridades que tornam esta Superquarta — apelido do dia em que muitos bancos centrais fazem suas reuniões de política monetária — ainda mais quente.
Está bem claro que os cenários a serem analisados pelo Copom (o Comitê de Política Monetária do Brasil) e pelo Fomc (o Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve) são bem antagônicos. Portanto, no Brasil, a expectativa generalizada é de que haverá um aumento de 1 ponto percentual da Selic, para 13,25%. E, nos Estados Unidos, é consenso de que a queda de juros que estava em curso será interrompida, e a taxa vai ficar estável no intervalo entre 4,50% a 4,75%.
O que há em comum entre eles é que o principal motivo de preocupação dos dois BCs é a expectativa sobre o que está por vir, muito mais do que os dados correntes. E, por isso, a avaliação que as duas autoridades monetárias estão fazendo desse cenário futuro é o que mais interessa nas reuniões desta quarta-feira – e é o que vai determinar o comportamento dos mercados.
Boas-vindas a Galípolo
No Brasil, o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, vai ter de lidar logo na estreia no cargo com uma piora generalizada das projeções de inflação. Desde a última reunião do Copom, a projeção dos analistas para o IPCA em 2025 subiu 0,9 ponto, segundo a pesquisa Focus. E isso reflete, em grande medida, uma piora da inflação de serviços, que já está na casa dos 8%. Como esse tipo de inflação tem como origem a renda e a capacidade de consumo, cai nas mãos do Banco Central o papel de esfriar a economia e, assim, controlar essa fonte de pressão.
Além disso, o cenário externo não parece ajudar muito o BC brasileiro. Desde a última reunião do Copom, no dia 11 de dezembro, o Dollar Index, índice que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas, subiu 2%. O petróleo disparou 10%. E o juro do título do Tesouro americano de 10 anos subiu 0,3 ponto percentual. Variáveis que sugerem um dólar ainda forte, o que torna o desafio de controlar a inflação futura por aqui mais desafiadora.
Diante disso, é improvável que o Copom vá se comprometer com aumentos de juros futuros. Afinal, o exterior mudar de humor – algo sobre o qual o BC brasileiro não tem qualquer controle -, e começar a jogar a favor. De todo modo, ninguém duvida que ocomunicado que vai ser divulgado após a decisão trará uma mensagem de muita cautela.
E o Trump?
Já nos EUA, tudo parece conspirar para a estabilidade dos juros. Pelo menos, por enquanto. Um dos pontos mais observados pelo Fed, quando houve o corte de juros no ano passado, era o desemprego alto, que já começou a ceder. Ao mesmo tempo, a inflação não está assustando. É por isso, o mercado acredita, que o juro vai ficar estável nesta quarta. Mas tem muitas dúvidas sobre o que virá em seguida.
É que, na última reunião, o Fed indicou que espera mais dois cortes de juros este ano. Mas essa perspectiva pode mudar. Afinal, além da atividade econômica em recuperação, ninguém sabe o que, de fato, a nova política de Trump pode provocar.
A promessa de aumento de tarifas de importação preocupa, porque pode gerar mais inflação. A sorte de Jerome Powell, o presidente do Fed, é que ele tem tempo: com a atividade mais forte e a inflação controlada, ele pode esperar para mexer nos juros. Mas, certamente, já pode dar algumas pistas de como o risco Trump pode impactar o cenário de política monetária. É isso que todo mundo vai querer saber.
O que mais a Superquarta tem?
Além dos BCs dos Estados Unidos e do Brasil, Canadá e Suécia tomam suas decisões de política monetária. Os especialistas esperam que haja mais cortes nas taxas de juros, de 0,25 ponto percentual em ambos os casos.
No caso do Canadá, a mudança pequena tem a ver com as incertezas sobre de fato Trump vai levar a cabo as ameaças de impor mais tarifas ao país vizinho.
Já em relação à Suécia, esse seria o sexto corte em oito reuniões, numa tentativa de aquecer a economia, atualmente uma das mais estagnadas da Europa.