
A Berkshire Hathaway encerrou 2024 com um caixa recorde de US$ 334,2 bilhões, enquanto reduziu significativamente sua participação em ações, incluindo uma venda parcial de seus investimentos históricos na Apple e no Bank of America. Apesar da movimentação estratégica, o megainvestidor Warren Buffett evitou dar explicações diretas sobre os motivos por trás dessa decisão, alimentando especulações no mercado.
Na tradicional carta anual aos acionistas, divulgada neste sábado (22), Buffett ressaltou que a maior parte do dinheiro da Berkshire continuará sendo investida em ações, mas admitiu que oportunidades de compra têm sido escassas. “Muitas vezes, nada parece atraente; muito raramente nos encontramos mergulhados em oportunidades”, escreveu o bilionário, sugerindo que a alocação de capital da empresa segue um ritmo cuidadoso.
O aparente comedimento de Buffett tomou forma em um mercado em alta acelerada, com o S&P 500 registrando mais de 20% de ganhos por dois anos seguidos. Na semana passada, porém, começaram a aparecer sinais de desgaste, impulsionados por preocupações acerca de uma possível desaceleração econômica, pela volatilidade associada às rápidas mudanças de política promovidas pelo novo presidente, Donald Trump, e pelas avaliações gerais das ações.
O megainvestidor também enfatizou a cautela da Berkshire ao manter um caixa robusto, mas afastou qualquer ideia de que a empresa esteja abandonando sua filosofia de longo prazo. “Os acionistas da Berkshire podem ter certeza de que sempre aplicaremos uma parte substancial do seu dinheiro em ações – principalmente americanas, embora muitas delas tenham operações internacionais significativas”, afirmou.
Transição
A carta deste ano também marcou um momento de transição, com Buffett, de 94 anos, reconhecendo que Greg Abel, atual vice-presidente de operações não seguradoras, deve assumir a liderança da empresa em breve. “Não demorará muito para que Greg me substitua como CEO e passe a escrever as cartas anuais”, declarou.
Com um histórico de aquisições estratégicas e apostas de longo prazo, os investidores agora esperam pelos próximos passos da Berkshire Hathaway e as razões por trás da construção de sua expressiva reserva de liquidez.
Impostos
Buffett afirmou que a empresa já pagou ao governo dos Estados Unidos mais de US$ 101 bilhões em impostos desde que ele assumiu o comando há 60 anos – mais do que qualquer outra empresa na história.
As declarações de Buffett surgem no momento em que o Donald Trump promete reduzir ainda mais os impostos corporativos, após ter cortado a alíquota para 21% em seu primeiro mandato, em 2017. Trump agora pretende reduzir essa taxa para 15%.
A Berkshire pagou US$ 26,8 bilhões em impostos apenas em 2024. Buffett destacou que esse valor, que ele descreveu como “recorde absoluto”, representa cerca de 5% do total de impostos pagos pelas empresas americanas no ano passado, sem contar os tributos estaduais e os impostos pagos a governos estrangeiros.
“Se a Berkshire tivesse enviado ao Tesouro um cheque de US$ 1 milhão a cada 20 minutos ao longo de todo o ano de 2024 – imagine 366 dias e noites, já que 2024 foi um ano bissexto – ainda assim deveríamos uma quantia significativa ao governo federal no fim do ano”, escreveu Buffett.
O valor pago pela Berkshire em impostos em 2024 superou a soma dos últimos cinco anos, em parte devido à venda significativa de duas de suas maiores participações.
Lucros e desempenho da Berkshire
A Berkshire Hathaway divulgou que seu lucro operacional do quarto trimestre disparou 71%, impulsionado por um aumento de quase 50% na receita de investimentos em seguros e pela melhora nos resultados da subscrição de apólices. No acumulado do ano, o lucro operacional anual subiu para US$ 47,4 bilhões, um aumento de quase 27% em relação ao ano anterior.
De uma têxtil em dificuldade a um conglomerado gigante
Na carta anual, Buffett relembrou que, quando assumiu o controle da Berkshire Hathaway em 1965, a empresa era uma indústria têxtil em dificuldades, que não pagava imposto de renda há anos.
“Esse tipo de situação pode ser compreensível em startups promissoras, mas é um alerta preocupante quando ocorre em um pilar da indústria americana”, escreveu Buffett. “A Berkshire estava a caminho da lata de lixo.”
Hoje, a Berkshire Hathaway é um gigantesco conglomerado, com mais de 189 empresas operacionais, uma carteira de ações avaliada em US$ 272 bilhões, além do caixa de US$ 334 bilhões no final de 2024, segundo o relatório anual.
Buffett atribuiu o sucesso da empresa, em grande parte, à economia capitalista americana, sistema que ele reconheceu ter falhas — “em certos aspectos, mais graves agora do que nunca” —, mas que também “pode gerar resultados extraordinários que nenhum outro modelo econômico consegue igualar.”
Uma mensagem para o ‘Tio Sam’
Buffett dedicou parte da carta ao governo americano, apelidado de “Tio Sam”:
“Algum dia, seus sobrinhos e sobrinhas da Berkshire esperam enviar a você pagamentos ainda maiores do que fizemos em 2024”, escreveu Buffett. “Gaste com sabedoria. Cuide daqueles que, sem culpa própria, acabam levando a pior na vida. Eles merecem mais.”
Com informações da Bloomberg.