Já faz tempo que o investidor pessoa física pode colocar seu dinheiro em fundos que aplicam no exterior. Só que havia limites: fundos abertos para o investidor de varejo (aquele que ainda não tem R$ 1 milhão para alocar) podiam dedicar apenas 20% de sua carteira a esses ativos. A partir desta terça-feira (01), o caminho ficou bem mais amplo. Qualquer fundo, inclusive os que colocam todo o seu patrimônio no exterior, pode abrir caminho para a pessoa física.
Quem deu essa liberdade para os fundos foi a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por meio da resolução 175, que fez várias mudanças de regras para o mercado financeiro. Mas veja bem: ainda cabe ao fundo decidir se vai querer mesmo se abrir para o investidor que não é qualificado. É uma opção, não uma obrigação.
Abrir essa porta para as pessoas físicas foi um jeito de democratizar o mercado. É que aplicar em ativos que ficam no exterior pode ser um jeito bem interessante de diversificar a carteira. E de aproveitar boas oportunidades de alocação.
Um ponto positivo de se colocar dinheiro nos fundos que investem lá fora é que eles conseguem investir em setores que não existem ou que são incipientes no Brasil, como o de tecnologia, em especial o de inteligência artificial. No mercado de renda fixa, um bom exemplo são os bonds americanos, papéis de dívida emitidos pelo Tesouro e pelas companhias, que em alguns momentos oferecem retornos atrativos.
“Agora o investidor também tem maior potencial de retorno em diferentes ciclos econômicos, já que os mercados da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos não seguem, necessariamente, o mesmo ciclo do Brasil”, Alexandre Santiago, consultor financeiro independente e sócio da Santiago Planejamento Financeiro.
Mas antes que você se empolgue é super importante levar em conta que investir lá fora pode ste tipo de produto não é para qualquer um. Esse é um investimento de mais risco, que pode balançar muito mais na sua carteira. Sem falar no risco cambial.
A primeira coisa que o investidor tem que levar em conta é o seu perfil: se tolera mais ou menos risco e volatilidade. E também a composição da sua carteira, para não permitir que as posições no mercado internacional acabem ficando grandes demais. “Existem questões como volatilidade e até mesmo incertezas geopolíticas que são diferentes do Brasil, como eleições locais, então a exposição tem que ser pensada e planejada”, diz Santiago.
Nova regra, novas oportunidades
Pelas regras antigas, os investidores de varejo – as pessoas físicas, no caso – só tinham acesso a produtos com até 20% do patrimônio alocado no exterior. No caso dos investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão investidos), o acesso só era permitido a fundos com até 40% alocado lá fora.
Fundos com 100% de exposição a ativos internacionais podem ser oferecidos ao varejo. E fundos cuja estratégia de alocação no exterior se limitava a 20% para o investidor comum ou 40% para o investidor qualificado agora podem expandir sua carteira internacional.
Avaliando o risco
Entender quanto risco você aceita tomar passa por saber seu perfil de investidor, o que é feito pelas próprias corretoras no processo chamado suitability, um tipo de teste que determina se você é conservador ou agressivo, por exemplo. A partir disso, os produtos oferecidos nas plataformas ficam identificados para qual perfil ele é, facilitando a avaliação.
Santiago destaca ainda atenção aos custos, já que além das já tradicionais taxas de custódia, taxas de administração, come-cotas e impostos, fundos que investem no exterior podem ter uma pegadinha. Em alguns casos existe uma estrutura conhecida como “master-feeder”, onde o fundo que você compra (feeder) investe em outro fundo no exterior (master), e aí pode acontecer da taxa de administração do master também ser cobrada pelo fundo no Brasil, ou seja, um custo a mais.
Para encontrar essas e outras informações relevantes é preciso avaliar a lâmina do fundo, um documento que resume os detalhes essenciais do produto, como taxas, estrutura, ativos em carteira, patrimônio, histórico, entre outros. Tudo isso precisa estar disponível ao investidor no site da gestora do fundo, mas também é possível encontrar no site da Anbima ou da CVM usando o CNPJ do fundo.
“É essencial entender as políticas de investimento do fundo, quais ativos compreendem esse fundo, que geografias ele está alocando recurso, em quais segmentos”, diz Santiago. Os fundos também possuem histórico de rentabilidade e volatilidade e quanto mais longo, melhor será a possibilidade de análise. Mas mesmo que o histórico seja pequeno, olhar para quem é o gestor e seu passado pode ajudar a avaliar a experiência e os resultados obtidos por ele na carreira, ainda que não sejam garantias de sucesso futuro.
Segundo Fabiano Cintra, sócio responsável por fundos internacionais da XP, apenas 1% dos brasileiros têm exposição a ativos fora do país, e a CVM 175 chega para mudar esse cenário. “É hora do Brasil se modernizar, da indústria de fundos se atualizar e jogar o jogo em patamares internacionais. Não tem porque o Brasil ficar para trás nesse movimento”, conclui.