A cidade de Nova York tem um problema com bicicletas elétricas e não sabe como resolvê-lo.

Os veículos tomaram conta das ruas da cidade e conquistaram uma legião de opositores. Os críticos dizem que as bicicletas elétricas são uma ameaça urbana, levando os ciclistas a velocidades que os tornam um perigo para seres humanos e cães.

“Não temos para onde escapar. O nível de estresse de ter que olhar para trás, para cima, para o lado em cada calçada é extenuante”, disse Ron Wisniski, morador de Hell’s Kitchen há 45 anos.

Então, quando o prefeito Eric Adams anunciou um limite de velocidade de 24 quilômetros por hora para bicicletas e patinetes elétricos em uma coletiva de imprensa em junho, parecia que a cidade estava colocando ordem nesse assunto.

Porém, as bicicletas elétricas geralmente não têm velocímetros, não têm placas de licenciamento e ninguém na prefeitura parecia saber que a política estava sendo implementada.

“Teremos que adivinhar a velocidade, e a polícia também”, disse Mahamadou Balde, entregador que sua uma bicicleta elétrica para o Uber Eats e o DoorDash em Manhattan há um ano.

Sem placas, as bicicletas não podem ser multadas por câmeras de trânsito.

Porta-vozes da Prefeitura e do Departamento de Transportes da cidade direcionaram perguntas ao Departamento de Polícia de Nova York, que, por sua vez, instruiu o The Wall Street Journal a fazer as perguntas para a Prefeitura. Dias depois, a Prefeitura afirmou estar “trabalhando ativamente com o Departamento de Polícia de Nova York para conduzir as próximas etapas na fiscalização dos limites de velocidade”. Tanto o Departamento de Polícia de Nova York quanto o Departamento de Transportes se recusaram a comentar mais.

A vereadora Selvena Brooks-Powers, que preside o comitê de transportes, disse que seu gabinete não foi consultado antes do anúncio do prefeito.

Críticos da bicicletas em Nova York

Até mesmo alguns dos maiores críticos das bicicletas elétricas da cidade estão perplexos.

“Este é um gesto que não significa absolutamente nada”, disse Janet Schroeder, diretora da NYC E-Vehicle Safety Alliance e moradora do Upper West Side.

“Ciclistas andam em alta velocidade, avançam sinais vermelhos, estão por todas as calçadas mutilando e matando cães e pessoas.”

O cachorro de um dos membros de seu grupo morreu após ser atropelado por uma bicicleta elétrica na calçada, disse ela. Em março, um homem de 49 anos do Brooklyn teria sido morto por uma bicicleta elétrica enquanto atravessava a rua.

Seu grupo apoia uma medida que exigiria registro e licenciamento para bicicletas elétricas, para que os ciclistas pudessem ser multados retroativamente se fossem flagrados em excesso de velocidade por câmeras. A proposta é semelhante às regulamentações da União Europeia, onde todas as bicicletas elétricas devem ser registradas e os motores são programados para desligar quando alcançam 24 km/h.

Em Nova York, onde não existe um sistema formal de registro de bicicletas elétricas e muitas delas são improvisadas com uma mistura de peças, a fiscalização é mais complicada. Além disso, mais de 30 mil entregadores dependem das bicicletas para sobreviver.

Na verdade, o policiamento do limite de velocidade provavelmente exigiria policiais posicionados nas calçadas com radares, monitorando os ciclistas que passam.

“Sair com câmeras de radar e tentar encontrar ciclistas em alta velocidade seria um mau uso dos escassos recursos policiais”, disse Michael Replogle, que atuou como comissário adjunto de políticas do departamento de transportes da cidade de 2015 a 2021.

Redução da velocidade

A cidade obteve pelo menos uma vitória: a Lyft, operadora da Citi Bike, anunciou que reduziria a velocidade máxima de suas bicicletas com assistência de pedal na rede municipal de 29 km/h para 24 km/h. Mas isso não afetará as bicicletas usadas por usuários particulares, que podem atingir a velocidade máxima de 45 km/h.

A velocidade é uma necessidade para os entregadores de aplicativos como o DoorDash, que recebem incentivos para entregas pontuais e multas por atrasos. Os entregadores geralmente trabalham para várias plataformas ao mesmo tempo. “Temos talvez de 10 a 20 minutos para atender quatro pedidos de comida. Ou seguimos a lei ou perdemos nossa renda”, disse Balde.

“Nossas estimativas de tempo de entrega levam em consideração fatores do mundo real, como distância, clima e trânsito, para que os Dashers possam concluir essas entregas com segurança”, escreveu um porta-voz da DoorDash. “Tão importante quanto isso, nenhum Dasher perde oportunidades de ganhar dinheiro por uma única entrega atrasada.”

Usuários de bicicletas elétricas se gabam de uma série de benefícios adicionais em relação aos tão difamados veículos.

“O metrô está sempre atrasado, a estação é quente”, diz Marina Paulino, que viaja 35 minutos do Queens para Midtown todas as manhãs em uma bicicleta elétrica Citi. “Com a bicicleta, chego mais rápido ao trabalho, aprecio a vista e me sinto livre.”

A regulamentação da cidade não se aplica a bicicletas tradicionais, que podem atingir velocidades de até 64 km/h em descidas, sem a necessidade de bateria.

Thomas Bourany, um ciclista amador de 32 anos de Paris que está treinando para um meio Ironman em setembro, diz que consegue atingir 48 km/h com sua bicicleta de corrida no Central Park. Nas ciclovias, ele limita a velocidade a cerca de 32 km/h para evitar colisões com pedestres. “Se estou na minha bicicleta de corrida, não me preocupo com atrasos”, disse ele.

Traduzido do inglês por InvestNews

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