Em uma sessão que tinha tudo para ser muito volátil, após Trump decidir pela demissão da diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Lisa Cook, a moeda americana recuou em relação às principais divisas internacionais. Mas foi uma queda comedida.
O índice dólar (DXY), que mede a variação da moeda americana frente a uma cesta das seis divisas mais utilizadas no mercado internacional, apresentou um recuo de 0,20%.
O dólar caiu de maneira modesta frente aos pares globais. Recuou 0,15% ante o euro. Já em relação ao iene japonês, a queda alcançou 0,22%. E a moeda dos EUA teve uma redução de 0,07% comparado a libra esterlina inglesa.
Já no caso dos emergentes, o dólar apresentou leve tendência de fortalecimento. Subiu 0,36% frente ao real para R$ 5,4339. Também teve pequeno avanço em relação ao peso mexicano cotado a 18,66 pesos, com alta de 0,18%. Comparado ao renminbi chinês, a divisa americana ganhou 0,02% cotado a 7,15 renminbi.
Nas bolsas de Nova York, o índice S&P 500 ganhou 0,41%, para 6.465,86 pontos. O Nasdaq avançou 0,44%, para 21.543,76 pontos. O Dow Jones subiu 0,30%, para 45.416,65 pontos.
No Brasil, o Ibovespa fechou em queda de 0,18%, aos 137.771,39 pontos.
Os investidores avaliaram a iniciativa de Trump contra a diretora do Fed mais como uma bravata do que um ataque concreto contra a independência do BC americano. Lisa Cook afirmou que não vai renunciar e prometeu processar o governo. O próprio Fed declarou que “seguirá qualquer decisão judicial” sobre o caso.
“Os mercados devem superar rapidamente a notícia sobre Cook, a menos que Trump tente também demitir Powell”, avaliou Adam Crisafulli, da Vital Knowledge. “O que preocupa é o impacto de longo prazo: a independência do Fed está sendo corroída.”
“Trump não tem autoridade para remover Lisa Cook do cargo de governadora do Fed”, disse o advogado da dirigente, Abbe Lowell. Por lei, um presidente só pode remover um membro do Fed “por justa causa”.
Apesar de o medo de uma tomada de controle do Fed não ter sido adicionado aos preços do mercado, não significa que está afastado. Com a renúncia de Adriana Kugler do conselho executivo do Fed, no início do mês, Trump indicou Stephen Miran para a vaga.
Caso Cook fosse afastada, o presidente americano passaria a ter maioria de indicados (4 a 3) no colegiado. Se Jerome Powell deixar o cargo em maio do ano que vem, ao fim de seu mandato, Trump poderia consolidar ainda mais sua influência.
Apesar da tensão política, os investidores seguem apostando em um corte de juros em setembro, conforme sinalizou Powell na conferência de Jackson Hole.
Resultado do IPCA-15 pesou mais no Brasil
No Brasil, a queda um pouco mais acentuada do real refletiu a cautela trazida pelo resultado do IPCA-15 de agosto. O índice do IBGE, visto como uma prévia do IPCA mensal, registrou a primeira deflação em dois anos com queda de 0,14%. Isso após ter avançado 0,33% em julho.
Mas economistas avaliaram haver sinais amarelos no resultado. Uma das preocupações foi a percepção de que a inflação de serviços veio mais pressionada que o esperado. “O qualitativo não foi tão positivo”, disse André Valério, economista sênior do Inter. O núcleo da inflação ficou estagnado em 0,3% pelo terceiro mês consecutivo, um patamar inconsistente com a meta de 3% de inflação do BC.
Além disso, houve uma retomada na inflação de serviços, que avançou 0,5%. Valério destacaou ainda que parte do alívio do índice veio de um fator pontual: a incorporação do chamado Bônus de Itaipu que reduziu as contas de energia.
Segundo Luciana Rabelo, economista do banco Itaú, as surpresas altistas reforçaram o impacto do mercado de trabalho apertado sobre a inflação.
O resultado do IPCA-15 reduziu a percepção que vinha sendo criada com dados anteriores de que o BC poderia antecipar o início de um ciclo de afrouxamento monetário e inciar os cortes da Selic ainda neste ano.