Um embate antigo entre os puristas do bitcoin e os defensores das altcoins ganha agora um novo palco: o caixa das empresas. Com companhias passando a registrar somas inéditas de ativos digitais em seus balanços, o debate sobre quais tokens realmente merecem espaço nos balanços — e por quê — já começa a se refletir no mercado de ações, onde capital de verdade está em jogo.

A colisão se concentra em duas visões conflitantes de como o valor deve ser armazenado e aumentado.

De um lado, estão os maximalistas do bitcoin: empresas construídas com base na ideia de que um limite de oferta rígido e pureza ideológica tornam o bitcoin o único ativo legítimo das tesourarias.

Do outro do ringue estão os defensores das altcoins, oferecendo portfólios construídos em torno de tokens geradores de rendimento, como ether e solana — e promovendo um caso de investimento baseado em retornos dinâmicos.

Desta vez, os preços das altcoins estão em alta e o conflito envolve capital real, com o fluxo de capital institucional para as estratégias — desafiando a noção de que o bitcoin é o único criptoativo que deve constar no balanço patrimonial.

Nesta segunda-feira (15), a Pantera Capital anunciou que fechou um financiamento de US$ 500 milhões para outro fundo de investimento em ativos digitais lastreado pela Solana, chamado Helius.

“O bitcoin oferece estabilidade e simplicidade. As altcoins têm utilidade, diversificação e inovação”, disse Sam Tabar, CEO da Bit Digital, uma empresa de tesouraria de ether avaliada em US$ 544 milhões. “A estratégia inteligente é combinar ambos — bitcoin para resiliência, altcoins para crescimento.”

Nunca haverá mais de 21 milhões de bitcoins em circulação, um limite máximo muito alardeado que os proponentes usam para posicionar o token como uma espécie de ouro digital. Algumas das maiores altcoins, incluindo ether e solana, não estão sujeitas a tais limites. Isso se tornou um vetor de ataque para as máximas do bitcoin.

Há também a volatilidade. Embora o bitcoin em si não seja estranho às oscilações bruscas de preço, as altcoins são um jogo completamente diferente.

“Ethereum é um péssimo ativo para uma empresa de tesouraria”, disse Matt Cole, CEO da Strive, durante um painel na conferência Bitcoin Asia em Hong Kong no final do mês passado. A Strive é uma empresa de tesouraria de bitcoin formada pela recente fusão da Asset Entities e da Strive Enterprises, de Vivek Ramaswamy.

Bitcoin e outras moedas digitais

Alguns dos maiores nomes do mercado de investimentos veem as coisas de forma diferente. Mais de US$ 16 bilhões em ether já foram guardados por empresas de tesouraria de ativos digitais — ou “DATs” — incluindo a BitMine Immersion Technologies e a SharpLink Gaming, de acordo com dados compilados pelo EthereumTreasuries.net.

O investidor bilionário em tecnologia Peter Thiel adquiriu participações consideráveis ​​em duas dessas empresas. Outros bilhões foram acumulados por compradores da Solana.

Os números são insignificantes em comparação com as tesourarias de bitcoin, com cerca de 190 empresas de capital aberto já detendo mais de US$ 116 bilhões, de acordo com o BitcoinTreasuries.net. Mas a mudança é notável. Um número crescente de investidores agora vê valor em estratégias que rompem com o modelo centrado em bitcoin, tendo como pioneiro Michael Saylor, da Strategy.

Esse crescimento, em teoria, vem na forma de rendimento derivado de táticas centradas em criptomoedas. Alguns argumentam que as altcoins são mais adequadas para gerar rendimento porque podem ser utilizadas em uma variedade de operações exóticas em mercados financeiros descentralizados. Em termos gerais, o bitcoin não pode.