As ações da Vale (VALE3) já subiram 20% no acumulado de 2025 até agora – e há espaço para mais. Após os resultados do terceiro trimestre deste ano, não apenas os analistas destacaram a expectativa positiva para o desempenho dos papéis da mineradora na Bolsa, como a própria empresa sinalizou para os investidores o que eles mais gostam: a possibilidade de pagamento de mais proventos.

A informação que muita gente aguardava veio do vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores, Marcelo Bacci. “A estabilidade da empresa e do mercado está criando melhores condições para a gente pensar em dividendos extraordinários”, declarou, durante a teleconferência de resultados da empresa nesta sexta-feira (27).

Para pagar dividendos, a empresa não precisa necessariamente entregar apenas lucro. O ideal é que tenha boa geração de caixa e baixo endividamento, já que esses dois critérios indicam a saúde financeira da companhia e as condições de devolver recursos aos acionistas.

E é por isso que a Vale tem condições de trabalhar para o pagamento extraordinário. No trimestre, entregou uma geração de fluxo de caixa livre de US$ 1,6 bilhão – US$ 1 bilhão a mais que um ano antes. E o custo da dívida caiu de 5,6% para 5,4% ao ano, com prazo médio longo, em 8,7 anos.

Fluxo de caixa livre é o dinheiro que sobra depois que a empresa pagou todas as suas despesas operacionais e fez os investimentos necessários. Em outras palavras: é o caixa realmente disponível para pagar dividendos, reduzir dívidas ou reinvestir no negócio.

Com a tributação de dividendos, porém…

Só tem um problema na história dos dividendos extraordinários. A proposta de taxar dividendos em 10% já passou pela Câmara e está em análise no Senado. E tem uma brecha nesse tema que ainda causa confusão entre empresas e investidores.

O texto permite que lucros acumulados até a data de vigência da nova lei possam ser distribuídos sem pagar o novo imposto, desde que a companhia os declare como dividendos antes da mudança entrar em vigor.

Só que, pela Lei das Sociedades Anônimas, que rege as empresas de capital aberto, dividendos declarados precisam ser pagos dentro de um prazo razoável, geralmente no mesmo exercício social. A empresa não pode simplesmente declarar dividendos agora e postergar indefinidamente o pagamento. Isso fere o princípio de “distribuição tempestiva” previsto na legislação.

Ou seja, cria-se uma contradição entre a regra tributária e a lei societária: de um lado, o incentivo para antecipar declarações e escapar da nova tributação; de outro, a obrigação legal de pagar logo após a declaração.

Bacci explicou a estratégia da Vale diante disso. Segundo o executivo, a companhia tem conseguido pagar seus proventos aos investidores pela sua política do dividendo mínimo por meio dos juros sobre capital próprio (JCP), que não estão (pelo menos por enquanto) dentro das possíveis mudanças tributárias.

De modo simples, funciona assim: o JCP segue tributado em 15% na fonte para o investidor, mas é dedutível do lucro tributável da empresa, o que reduz o imposto de renda devido pela companhia. No caso do dividendo, a empresa não pode deduzir esse pagamento do imposto – e o acionista ainda vai pagar imposto sobre o mesmo lucro, se a nova regra passar.

Ou seja, o JCP é mais vantajoso do ponto de vista fiscal para a companhia. A Vale economiza tributos e continua remunerando seus acionistas, enquanto evita parte do impacto da nova cobrança sobre dividendos.

“Poderíamos seguir pagando desse modo e não seríamos afetados por essa mudança”, disse Bacci.

Para o investidor, a estratégia ainda é vantajosa, mas não tanto. Não custa repetir: o JCP recolhe 15% de imposto na fonte. Se a regra dos dividendos passar, eles serão taxados em 10%.

A maior do mundo

A Vale adotou como objetivo voltar a ser a maior mineradora de ferro do mundo. O presidente da empresa, Gustavo Pimenta, já declarou isso publicamente. E Bacci reforçou a mensagem hoje. “Do ponto de vista de volumes, estamos no caminho de fechar o ano como a maior do mundo”, afirmou. “Estamos ‘performando’ melhor do que nossos pares.”

Por “volumes”, entende-se uma maior quantidade de minério e metais produzidos e vendidos. No mercado, os concorrentes seguem firmes e fortes: o valor de mercado da Vale é de US$ 47 bilhões atualmente, bem atrás das gigantes BHP e Rio Tinto, por exemplo.

Os analistas não foram tão assertivos assim, mas concordam: tudo está indo bem. As equipes do Safra, BTG Pactual, Itaú BBA e XP avaliam que a Vale atravessa uma fase saudável e que o terceiro trimestre de 2025 foi um ponto de virada, em especial pelos resultados operacionais robustos – a história da geração de caixa forte e controle de custos, no caso.

Com os preços do minério de ferro acima dos US$ 100 por tonelada, a divisão do metal, principal fonte de receita da empresa, entregou um lucro operacional de US$ 4 bilhões, crescimento de 6% na comparação com igual período do ano passado e 33% na comparação com o trimestre anterior.

Os analistas do BTG decidiram revisar a recomendação para as ações da empresa para compra. Os motivos foram vários: a companhia deixou para trás um período conturbado, marcado por problemas institucionais, tragédias como a de Brumadinho e instabilidade operacional. Para os analistas do banco, a atual gestão demonstra disciplina na forma de destinar o dinheiro da empresa e tem maior resistência a interferências políticas, diferente do que já aconteceu no passado.

No meio do otimismo, porém, existem os riscos. A XP manteve uma posição um pouco mais cautelosa, por exemplo. Mesmo com todo acerto da companhia na frente operacional, a indicação para os investidores é neutra.

Basicamente: nem compre, nem venda, fique como está. O motivo? A incerteza para a trajetória dos preços do minério de ferro. Afinal, commodities oscilam de acordo com a oferta e a demanda global – e a China, o principal mercado para o minério de ferro e para a Vale, enfrenta justamente uma desaceleração econômica.

As ações da mineradora fecharam o pregão de hoje com alta de 2,27%, cotadas a R$ 65,26.