O dono do Dallas Cowboys, Jerry Jones, transformou seu time de futebol americano na marca esportiva mais valiosa do mundo. Mas, quando sobrevoa de helicóptero este trecho rural do leste do Texas, ele diz que enxerga seu melhor investimento até hoje: uma enorme reserva de gás natural.

Jones já colocou mais de US$ 1 bilhão na produtora de gás natural Comstock Resources, apostando que ela conseguirá perfurar alguns dos poços mais quentes e profundos dos EUA — e liberar uma enxurrada de gás natural.

A Comstock diz que está pronta para isso. Ela venceu uma geologia “infernal” e já colocou para produzir dezenas de poços de alto fluxo. Também fez uma discreta aquisição de terras e hoje controla uma grande fatia de uma região que chama de Western Haynesville.

Com isso, afirma que está se preparando para bombear combustível suficiente para ajudar a atender, por anos, à demanda crescente de exportadores, data centers e indústrias pesadas.

Agora, diz Jones, chegou a hora de colher. “Tem US$ 100 bilhões em gás lá fora”, afirmou o bilionário de 83 anos em entrevista. “É por isso que estou falando com você ao telefone em vez de tentar consertar a defesa do Dallas Cowboys.”

Jones é conhecido por ir na contramão. Ele fez uma aposta grande em gás natural quando os preços estavam no chão e financiou a exploração da Comstock num momento em que rivais estão obedecendo às rígidas regras de capital de Wall Street. Continuou comprando ações e hoje detém cerca de 71% da companhia.

Graças a esses movimentos arriscados, a Comstock está sentada sobre uma área promissora num momento oportuno. Uma onda de nova demanda por gás natural deve testar bacias antigas e com restrições de dutos, do Louisiana aos Apalaches, e pressionar os preços para cima.

A Western Haynesville fica a cerca de 100 milhas (cerca de 160 km) de Dallas, uma das regiões que mais crescem nos EUA, e a cerca de 250 milhas (cerca de 400 km) das instalações da Costa do Golfo que liquefazem e exportam gás natural.

“É uma localização excelente; faz parte de um sistema petrolífero de potencial muito, muito alto”, disse Robert Clarke, vice-presidente de pesquisa de upstream da consultoria de energia Wood Mackenzie. “Tem ingredientes muito interessantes.”

Analistas, porém, alertam que a campanha exploratória da Comstock ainda está no começo e que ainda não está claro se a empresa conseguirá produzir em toda a sua nova área sem percalços.

Jerry Jones
Jerry Jones, dono do Dallas Cowboys. Foto: Sam Hodde/Getty Images

A Western Haynesville não é exatamente uma descoberta inédita. Ela compartilha características geológicas com a formação Haynesville Shale, no leste do Texas e noroeste da Louisiana, uma grande bacia onde a Comstock já atua há bastante tempo.

Mas a rocha ali está bem mais profunda — até 5,8 mil metros. As temperaturas podem chegar a mais de 200°C; a pressão pode ser tão alta quanto no fundo da Fossa das Marianas, no Pacífico, o ponto mais profundo dos oceanos.

Algumas empresas tentaram perfurar ali no início dos anos 2010, mas desistiram depois que seus poços não suportaram as condições extremas. As produtoras então passaram longe da região — até que a Comstock apareceu com nova tecnologia, mais dados e o aval de Jones.

‘Homem na Lua’

Jones, um explorador independente veterano, tem um longo histórico de apostas ousadas. Ele comprou o Cowboys em 1989 por US$ 140 milhões — o valor da franquia já chegou a US$ 13 bilhões, segundo ranking recente da Forbes.

Em 2018, Jones voltou sua atenção para a Comstock, uma empresa de perfuração originalmente organizada em 1919 como uma companhia de mineração de ouro e prata. Os preços do gás natural estavam em baixa, mas Jones transferiu ativos de petróleo e gás para a empresa em troca de cerca de US$ 620 milhões em ações da Comstock. No ano seguinte, dobrou a aposta quando ajudou a financiar, com US$ 475 milhões de recursos próprios, a aquisição da rival Covey Park Energy pela Comstock.

Esse foi o ponto de virada. O negócio deu à Comstock uma posição na Western Haynesville e uma equipe de engenheiros que conhecia bem as particularidades da região.

Pouco mais de um ano depois do fechamento do negócio, a diretoria da Comstock foi ao quartel-general do Cowboys, abriu um mapa diante de Jones e sugeriu que a empresa arrendasse um pedaço de terra na área e perfurasse um poço — o equivalente a “molhar o pé” em águas novas.

Jones analisou o mapa, perguntou quanto custaria arrendar as terras e disse que queria ir atrás da maior parte.

“Vamos operar nesse play, e tínhamos a oportunidade porque havia acres disponíveis”, disse ele na entrevista. “Vamos ser agressivos.”

Executivos dizem que a Comstock chegou a considerar mais fusões e aquisições para ampliar seu portfólio de áreas, mas preferiu fazer uma aposta grande na Western Haynesville. Enquanto cerca de 100 landmen (profissionais que negociam direitos de superfície e subsuperfície) corriam para garantir o máximo de terra possível, a Comstock começou a testar técnicas para perfurar a mais de 3 milhas (cerca de 4,8 km) de profundidade.

“A questão é: dá mesmo para perfurar um poço vertical de 17 a 19 mil pés?”, disse o CEO Jay Allison. “É como colocar um homem na Lua.”

A Comstock enfrentou vários desafios. Os motores que fazem girar a broca na rocha queimavam. Os engenheiros tiveram de projetar um revestimento de poço capaz de suportar o inferno subterrâneo. O primeiro poço, em 2022, levou 95 dias para ser perfurado — uma eternidade, se comparada às cerca de três semanas necessárias para perfurar um poço na Haynesville ao lado.

A empresa se beneficiou de avanços tecnológicos e, desde então, fez grandes progressos. Em uma visita recente, uma equipe operava uma sonda construída especificamente para empilhar até 30 mil pés de tubos — o comprimento necessário para alguns dos poços mais profundos. O tubo é isolado, o que reduz em até 40°F (cerca de 4 a 5°C) a temperatura lá embaixo. A Comstock também pegou emprestadas de perfurações offshore técnicas para manter a pressão no poço e evitar falhas.

Hoje, a Comstock já colocou em produção cerca de 30 poços, com custo médio de US$ 30 milhões cada. Eles custam cerca do dobro do que um poço na Haynesville, mas produzem cerca do dobro também — e são competitivos com o preço atual do gás natural, perto de US$ 3 por milhão de BTU, dizem executivos. Eles afirmam ainda que a Comstock está aprendendo e espera reduzir custos à medida que perfurar mais.

“Conseguimos fazer algo que ninguém achava que a gente conseguiria”, disse Patrick McGough, vice-presidente de operações.

Analistas dizem que a campanha tem sido promissora até aqui, mas apontam que ainda há várias incertezas. A Comstock perfurou principalmente em um bolsão da região, e não se sabe se outras áreas terão poços tão produtivos — nem como esses poços vão se comportar ao longo do tempo.

“Vai exigir um pouco de tentativa e erro”, disse Alex Ljubojevic, analista da plataforma de análise de energia Enverus.

Fora da curva

Outras empresas, como a privada Aethon Energy Management e uma unidade nos EUA da japonesa Mitsui, também estão entrando na região. A Expand Energy, maior produtora de gás natural dos EUA, disse na terça-feira que adquiriu mais de 75 mil acres líquidos na área. Mas a Comstock, até agora, tem sido a mais agressiva em montar seu império.

A empresa, com valor de mercado de US$ 5 bilhões, tomou empréstimos em bancos e reinvestiu todo seu caixa para financiar a exploração. Sua dívida total estava em US$ 3,1 bilhões no segundo trimestre, alta de cerca de 39% em relação ao início de 2023, segundo a FactSet. Em oito dos últimos nove trimestres, a empresa gastou mais no campo do que gerou com suas operações.

Esse ritmo de gasto faz da Comstock uma exceção entre seus pares. Produtoras abertas de gás natural já gastaram sem freio no passado para crescer a qualquer custo, mas, nos últimos anos, passaram a atender ao pedido dos investidores para conter capex, reduzir dívida e devolver dinheiro aos acionistas. Elas estão se comprando entre si para ampliar portfólios de áreas — algo que Wall Street vê como menos arriscado do que explorar novas fronteiras.

Expand Energy, EQT e Coterra Energy devem, em média, reinvestir cerca de 54% do caixa gerado pelas operações de 2021 a 2028, segundo a Wood Mackenzie. Já a taxa média de reinvestimento da Comstock deve ficar acima de 100%.

“Muitas empresas têm caixa, fazem recompras e pagam dividendos”, disse Gabriele Sorbara, analista da corretora Siebert Williams Shank. “A Comstock é, bem, o completo oposto da indústria.”

Executivos da Comstock dizem que sai mais barato criar seus próprios locais de perfuração do que comprar uma rival. Eles afirmam que a consolidação no setor está fazendo com que as empresas não desenvolvam novas ofertas — mesmo com os EUA diante de uma nova demanda por gás natural impulsionada pela ascensão da inteligência artificial, pela reindustrialização e por uma leva de novos terminais de GNL.

“Estamos focados em soluções para a nossa falta de inventário nos próximos anos”, disse Allison, CEO da Comstock, sobre as necessidades do país. “Não é M&A, M&A e uma troca de inventário. É encontrar novo inventário.”

Jones diz que entende por que investidores estão impondo disciplina de capital às empresas, mas não espera que a Comstock devolva dinheiro agora. Quando os preços do gás natural caíram, no ano passado, para os níveis mais baixos em décadas, ele aprovou a decisão da empresa de suspender o dividendo — e comprou cerca de US$ 240 milhões adicionais em ações. O investimento já se mostrou lucrativo: sua participação hoje vale cerca de US$ 3,6 bilhões.

Jones afirma que seu foco é que a Comstock desenvolva a Western Haynesville até que ela se torne uma bacia de gás de primeira linha nos EUA — e diz estar pronto para colocar mais dinheiro na empresa, se for preciso.

“Acho que isso vai ser uma das duas ou três fontes de gás mais bem posicionadas dos Estados Unidos”, afirmou.


Foto da abertura: Desiree Rios, para o WSJ

Traduzido do inglês por InvestNews

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