O papel vendido pela gestora de Ralph Rosenberg não representa uma fatia de controle: trata-se de um instrumento financeiro criado na privatização da Corsan em 2022, quando o governo gaúcho leiloou a companhia e o consórcio formado por Aegea, Perfin e Kinea pagou R$ 4,15 bilhões pelo ativo e assumiu o compromisso de investir mais de R$ 12 bilhões na expansão da rede de saneamento ao longo da década seguinte.
Depois do leilão, a estrutura societária da Corsan foi reorganizada dentro do consórcio vencedor. A Aegea, a Perfin e a Kinea dividiram sua participação combinando dois tipos de ações: ordinárias, que dão voto e formam o bloco de controle, e preferenciais, usadas como um instrumento financeiro que funciona como uma quota de investimento.
As preferenciais não participam das decisões da empresa, mas garantem ao investidor um retorno ligado ao desempenho da concessão ao longo do tempo. A transação fechada agora pela Perfin com o Bradesco envolve justamente esses papéis preferenciais e permite à gestora antecipar, em dinheiro presente, um fluxo de receitas futuras do contrato de saneamento.
A participação da gestora comandada por Rosenberg na Corsan aparece de maneira indireta. A Perfin é acionista da Parsan S.A., holding criada pelo consórcio vencedor da privatização e que detém 27,11% da Corsan. Considerando os fundos por meio dos quais a Perfin participa da Parsan, sua fatia econômica na companhia gaúcha fica próxima de 11%.
Cosan, Corsan
A venda da fatia financeira da Corsan ocorre dias depois de a Perfin participar da capitalização de socorro na Cosan, de Rubens Ometto. A gestora, que tem o BTG Pactual como sócio, comprometeu-se a investir R$ 2 bilhões no grupo.
O Bradesco BBI também ganhou protagonismo nesse rearranjo. O banco coordenou a emissão de R$ 750 milhões em notas comerciais da Aguassanta, veículo pessoal de Ometto, operação que permitiu ao empresário acompanhar o aumento de capital e evitar diluição no bloco de controle da holding.

Do outro lado, o BTG Pactual liderou a capitalização da Cosan com um cheque de R$ 4,5 bilhões, consolidando-se como o principal investidor financeiro na reestruturação do grupo.
Criada em 2007 por Rosenberg, ex-Safra, a Perfin ganhou projeção ao montar uma plataforma híbrida de investimentos que combina bolsa, private equity e infraestrutura pesada. Além da parceria com a Aegea em saneamento, a gestora também é sócia do grupo Equipav na empresa de concessões de rodovias EPR, outra frente relevante de infraestrutura no país.
Procurados pelo InvestNews, Bradesco BBI e Perfin não responderam.
