O presidente da Robinhood Markets subiu ao palco na conferência anual da corretora online, realizada em Las Vegas neste outono, vestindo um macacão de piloto de corrida e tênis Nike personalizados.

Vlad Tenev disse aos centenas de traders que o aplaudiam na plateia que eles haviam escolhido “um dos estilos de vida mais intensos que existem”. Ele comparou o ato de operar à pilotagem de um carro de corrida. “Uma máquina bem ajustada pode fazer toda a diferença”, afirmou, “e é esse o papel que acreditamos que a Robinhood desempenha para nossos investidores mais ativos.”

O apetite pelo risco voltou entre investidores individuais, e poucas pessoas contribuíram tanto para reacender esse espírito quanto o jovem Tenev, de 38 anos. O aplicativo da Robinhood facilita não apenas a compra e venda de ações comuns, mas também o investimento em opções, criptomoedas e outros produtos financeiros exóticos — além de permitir apostas esportivas e participação em mercados de previsões.

Os críticos da empresa comparam esse ambiente a um cassino, mas seus fãs creditam à Robinhood a democratização do lucrativo mundo dos investimentos sofisticados.

“Ele está praticamente construindo um culto”, disse Aaron Cook, encanador de 28 anos que estava na plateia em Las Vegas. Cook afirmou ter usado os lucros de operações com ações, opções e memecoins para comprar um Jeep Wrangler e uma casa de US$ 60 mil.

Uma série de novos produtos entrou no mercado de investimentos para pessoas físicas nos últimos anos e acabou se tornando mainstream. Investidores estão apostando no preço do bitcoin e mergulhando em tipos ultrarriscados de opções, como as “zero-day”, que expiram rapidamente e exigem timing perfeito. Também estão comprando contratos futuros atrelados a vários tipos de eventos, apostando se um álbum de Taylor Swift chegará ao topo das paradas do Spotify ou se o Green Bay Packers vencerá o Detroit Lions no Dia de Ação de Graças.

Abishek Gopal, 35, disse que acorda às 6h30 para começar a operar opções zero-day. É um hobby que ele afirma que nunca teria desenvolvido se não fosse a facilidade oferecida pela Robinhood. “A adrenalina me movimenta”, disse Gopal. “Se US$ 500 podem virar US$ 50 mil ou US$ 60 mil, quero tentar.”

A recente volatilidade — incluindo fortes quedas em ações e criptomoedas — tem mostrado o que acontece quando os mercados seguem na direção errada. Investidores que alavancam suas apostas com dinheiro emprestado amplificam os ganhos nos bons momentos, mas são destruídos nos ruins. O índice Nasdaq caiu 6% nas três primeiras semanas de novembro. O bitcoin despencou 20% no mês.

Executivos da Robinhood dizem estar alinhados a uma tendência de longo prazo nos mercados: tornar todo tipo de operação mais barata e mais acessível para investidores individuais. Produtos hoje considerados arriscados — de cripto a opções — podem fazer parte do portfólio típico de um investidor pessoa física no futuro, segundo eles.

“A próxima geração de investidores — é ela que atendemos”, disse Steve Quirk, diretor de corretagem da Robinhood. “Estamos apresentando mais classes de ativos e capacidades às pessoas. É isso que elas querem.”

Usuários avançados

A Robinhood oferece vários produtos financeiros tradicionais, como contas de aposentadoria e cartões de crédito. Mas são os produtos mais arriscados, voltados a day traders, que mais rendem dinheiro à empresa. No trimestre mais recente, a negociação feita pelos clientes representou mais da metade da receita da Robinhood, sendo 78% desse volume oriundo de cripto e operações com opções.

Tenev disse que orientou sua equipe a focar mais nesse grupo. “São nossos clientes mais engajados e que geram a maior parte de nossa receita”, afirmou em entrevista. “Colocamos nossas melhores pessoas atendendo traders ativos.”

As ações da Robinhood mais que triplicaram no ano. A empresa entrou para o S&P 500 em setembro, substituindo a Caesars Entertainment, e rapidamente se tornou uma das melhores performers do índice. O valor da participação de Tenev na Robinhood saltou para quase US$ 6 bilhões.

Os detratores da Robinhood dizem que ela está incentivando uma cultura de aposta nos mercados. “Não deveria passar despercebido que um cassino saiu do S&P 500 e a Robinhood entrou”, afirmou Tyler Gellasch, CEO da Healthy Markets Association, que defende a proteção de investidores individuais.

Os defensores da empresa afirmam que a Robinhood tem sido injustamente alvo de críticas, tornando-se uma espécie de saco de pancadas do setor, responsabilizada pelas decisões de investimento de indivíduos e pelas mudanças mais amplas nos mercados.

Tenev, que imigrou com a família da Bulgária para os EUA aos 5 anos, fundou a Robinhood em 2013 com o cofundador Baiju Bhatt, ex-colega de Stanford. Seu discurso ousado: a Robinhood, ao contrário de Charles Schwab ou Fidelity, não cobraria comissão para operar ações.

Tenev disse que tenta tornar suas apresentações sobre investimentos divertidas. As teleconferências de resultados são inspiradas em entrevistas pós-jogo da NBA, com transmissão ao vivo em vídeo e plateia presencial. Em um evento de cripto em junho, um vídeo inspirado em um filme clássico mostrava Tenev acelerando pela Riviera Francesa em um conversível. No palco, ele vestia um terno listrado e desenhava em um quadro-negro para explicar um conceito de cripto chamado “tokenização”.

“Quero que pareça um show”, disse Tenev sobre seus eventos, brincando que adoraria incluir pirotecnia um dia.

Tenev contou que antes limitava-se a dirigir um Tesla Model 3, preocupado com a percepção pública se fosse visto ao volante de um carro esportivo de luxo. Não mais.

“Pensei: por que estou me preocupando com isso? Por que me importo com o que acham do CEO da Robinhood?”, disse.

Ele começou a comprar carros clássicos. Um de seus favoritos é um Lamborghini 1970.

Tenev fala a língua do Vale do Silício. Já disse acreditar que a inteligência artificial criará uma nova ordem mundial, diminuindo a capacidade das pessoas de gerar renda por meio do trabalho e aumentando a participação nos mercados e nos apps de negociação como o seu.

O CEO é entusiasta da “tokenização”, a ideia de que ativos reais — como ações de empresas — podem ser negociados como tokens em um blockchain. Em um evento na França, ele distribuiu “tokens de ações” que supostamente representavam uma participação digital na OpenAI. A OpenAI mais tarde afirmou que os tokens não eram participação acionária da empresa.

No início deste ano, a Robinhood retirou de sua plataforma contratos de apostas sobre o Super Bowl após reguladores levantarem dúvidas sobre a legalidade desses produtos.

Desafios iniciais

A Robinhood decolou durante a pandemia, quase sucumbindo ao volume de demanda. Investidores confinados e com dinheiro sobrando migraram em massa para o app de negociação.

A saga da GameStop lançou a jovem empresa ao centro das atenções. “Aquelas circunstâncias, digo, nos abalaram profundamente”, afirmou Bhatt sobre aquele período.

Quando os juros subiram e a era do dinheiro fácil acabou, os clientes reduziram o ritmo de negociações e a receita da Robinhood despencou. Investidores perderam o interesse pelo papel. Em certo momento, o valor de mercado da empresa estava quase igual ao caixa disponível. Tenev demitiu mais de 1.000 funcionários, decisão que descreveu como dolorosa.

À medida que se aproximava o primeiro aniversário da empresa como companhia de capital aberto, em junho de 2022, havia pouco o que comemorar. Tenev saiu para uma viagem em família para Maui para clarear a mente, mas chegou exausto devido a um longo atraso no voo.

Então recebeu uma ligação informando um rumor de que o controverso empresário de cripto Sam Bankman-Fried estava considerando comprar uma fatia da Robinhood — um sinal de fragilidade da empresa. Bankman-Fried acabaria comprando 7,6% da corretora.

“Eu me perguntava: sou a pessoa certa? Tenho o que é necessário para sair desse buraco?”, disse Tenev.

Foi por volta desse período, enquanto a empresa lidava com acionistas, reguladores e clientes insatisfeitos, que Tenev mudou sua mentalidade, segundo pessoas próximas.

Andrew Reed, sócio da Sequoia Capital — um dos primeiros investidores da Robinhood — e amigo de Tenev, disse que a equipe passou a se perguntar: “Por que estamos tentando ser como todo mundo?” Reed chamou esse momento de “ponto de virada”.

Tenev e Bhatt haviam construído a empresa para investidores iniciantes, mas atraíram muitos traders experientes e altamente ativos. Esse grupo estava gerando uma fatia desproporcional da receita. Ficou claro que certos tipos de operações — como opções e transações em cripto — eram muito mais lucrativas do que compras simples de ações.

Tenev disse ter percebido que sequer estava atendendo esse grupo adequadamente ou alocando recursos para eles, o que explicava a insatisfação de muitos desses clientes com a plataforma.

Quirk, diretor de corretagem, comparou a situação à de uma companhia aérea que é a menos popular entre seus clientes mais frequentes. “Que empresa aceita isso?”, disse. “Eu falei: ‘Temos que consertar isso’.”

A mudança gerou divergências internas, segundo Quirk, especialmente entre funcionários que acreditavam que focar nos traders frequentes contrariava a missão da Robinhood de democratizar as finanças para todos. Quirk argumentou que melhorar a plataforma para esses clientes mais intensivos traria melhorias para todos.

Fãs fervorosos

À medida que a corretora focou mais em investidores ativos, alguns passaram a formar quase um fã-clube para a empresa e seu líder. No “Hood Summit” em Las Vegas, uma fila de clientes contornava a sala, esperando para apertar a mão de Tenev e tirar uma selfie com ele.

A Robinhood dá atenção a clientes como Gopal, o trader de opções matutino. Ele já foi convidado a testar novos produtos antecipadamente. No Summit, recebeu brindes e mimos como cliente VIP.

Alguns concorrentes começaram a se posicionar contra a abordagem da Robinhood. Dias após a empresa anunciar que ampliaria sua plataforma de mercados de previsão para incluir contratos ligados a eventos de tecnologia e entretenimento, a corretora Public lançou uma campanha publicitária com o slogan: “Riqueza não se ganha em uma aposta.” A campanha sugeria que os clientes experimentassem a sua plataforma “se você procura um corretor que não seja também seu bookmaker.”

Gestores de recursos têm demonstrado preocupação com o aumento do risco nos mercados este ano. Um punhado de ações de tecnologia com preços esticados tem impulsionado grande parte do avanço do S&P 500. Bilhões de dólares entraram em investimentos ligados à inteligência artificial, sem evidências claras de quando — ou se — isso dará retorno. Uma nova leva de “meme stocks” surgiu neste verão.

Os traders da Robinhood parecem saber que a festa não vai durar para sempre. Cook, que comprou sua primeira passagem aérea na vida para ir ao evento da Robinhood em Las Vegas, disse que realiza lucros de vez em quando. Gopal disse manter um bilhete na mesa que diz: “Não aja por impulso.”

Neema Farhang, consultor de 37 anos que migrou para a Robinhood no ano passado vindo de outra corretora, agora faz quatro vezes mais operações. Ficar de fora, ele disse, não é uma opção: “Eu sei que não posso me dar ao luxo de não estar no mercado.”

Escreva para Hannah Erin Lang: em hannaherin.lang@wsj.com

Traduzido do inglês por InvestNews