A demanda por cada vez mais poder computacional é o pilar da valorização das empresas de IA. E falou em IA, falou em “bolha” – algo que mais hora menos hora estoura.

É impossível saber se estamos ou não diante de uma. E sempre há a outra possibilidade: a de que os preços das ações simplesmente tenham alcançado um platô permanentemente elevado.

Essa é basicamente a conclusão de uma análise divulgada pelo BTG Pactual. Ela mostra que as grandes empresas do setor, a começar por Nvidia, Google e Microsoft, têm fundamentos sólidos, ou seja: margens saudáveis, baixa alavancagem e geração robusta de caixa.

Por outro lado, sempre vale lembrar a frase do economista americano Irving Fisher. Semanas antes do crash de 1929, o maior estouro de bolha da história, ele disse justamente que “os preços das ações atingiram um platô permanentemente elevado”. Não era o caso.

Seja como for, o BTG lista 16 motivos para acreditar que a revolução da IA tem características estruturais, e que o espaço para a expansão tecnológica e de infraestrutura ainda é vasto. Veja os pontos.

1. Ganhos de produtividade

Eles chegam a 1,3 ponto percentual por ano com a adoção rampante de IA, ou US$ 1,5 trilhão de produção global extra anual. É um choque de produtividade “amplo e duradouro”, de acordo com a análises e, mesmo com concorrência elevada e com o fracasso de algumas companhias com o passar do tempo, a tecnologia em si prospera.

2. Rentabilidade consistente nos investimentos em IA

Os investimentos na área não têm nada de especulativos: o US$ 1,2 trilhão por ano aplicado em infraestrutura – data centers, chips e redes – formam uma base de ativos de US$ 2,4 trilhões, que precisa gerar US$ 1,68 trilhão anuais em retorno para a economia global para dar lucro. Esse volume é, na visão do banco, plenamente compatível com o impacto de produtividade estimado por estudos independentes.

3. Margens mais elevadas

O receio de que a “bolha de IA” esteja se formando faz referência à “bolha ponto com” – a das empresas que, no final da década de 1990, foram superestimadas. A situação é diferente, segundo o BTG, porque as 10 maiores empresas do S&P 500 apresentavam margens líquidas de 17%, em média, naquela época, enquanto os atuais líderes têm 32%. Quer dizer: o ciclo de investimentos em IA é mais lucrativo e mais resiliente hoje.

4. Geração de caixa robusta

Lucro é uma demonstração contábil. Um dado mais sólido é o “fluxo de caixa livre”, o dinheiro que efetivamente sobra no caixa da empresa depois de todos os gastos a cada trimestre. Entre as empresas do S&P 500, ele é hoje de 3,5%. Ou seja, para cada US$ 100 que a empresa coloca no negócio, US$ 3,5 ficam no caixa. Isso é quase três vezes mais do que o período de 2000 a 2001. Em outras palavras: o ciclo atual das empresas é financiado por caixa real e não por dívidas excessivas.

5. Preços bem abaixo dos níveis da última bolha

O Nasdaq 100, índice que reúne as empresas americanas de tecnologia, é negociado entre 29 e 30 vezes o lucro, distante do nível de 44 vezes em 1999 e de 89 vezes em 2000. Você lê essa métrica da seguinte forma: considerando o preço atual, o mercado está disposto a pagar cerca de US$ 29 a US$ 30 por cada US$ 1 de lucro anual da empresa.

É, em resumo, um indicador para as expectativas de crescimento das companhias. Para o BTG, a precificação das ações das big techs hoje é “mais moderada” e também amparada por lucros muito maiores.

6. Líderes de mercado mais baratos do que no passado

Na bolha das ponto com, Cisco, Intel, Microsoft e outras eram negociadas entre 50 vezes a 70 vezes o lucro. Muitas superavam o nível de 100 vezes. Hoje, as gigantes de IA – Google, Nvidia, Meta, Microsoft de novo… – são negociadas entre 20 vezes e 35 vezes o lucro.

7. Capex financiado internamente

Só 46% do fluxo de caixa das empresas hoje é reinvestido, muito baixo dos 75% em 2001. Pode parecer um contrassenso avaliar positivamente empresas que estão investindo menos, mas a leitura do BTG é de que as companhias estão destinando seus recursos de forma mais equilibrada.

8. Alavancagem muito menor

As maiores empresas americanas operam com caixa líquido: a relação entre a dívida líquida e o Ebitda, é de 0,3 vez. Essa relação é conhecida como alavancagem e indica quantos anos a empresa levaria para pagar suas dívidas usando todo o lucro operacional. Em geral, um indicador abaixo de 2x é um sinal de que a empresa está financeiramente saudável. Ou seja, 0,3x é um nível extremamente conservador.

9. Demanda firme e chips duráveis sustentam o ciclo da IA

A demanda por computação em nuvem e IA continua acelerando: os serviços AWS (da Amazon), Azure (da Microsoft) e Google Cloud voltaram a crescer entre 20% e 40% ao ano. Ao mesmo tempo, as GPUs – processadores especializados usados para treinar e operar modelos de IA – têm vida útil longa, de aproximadamente seis anos.

Isso significa que as gigantes globais de computação em nuvem têm receitas futuras mais previsíveis e conseguem extrair valor dos chips por um bom tempo, fortalecendo a sustentabilidade do ciclo de investimentos em IA.

10. A tecnologia está longe do seu potencial máximo

Os avanços recentes mostram que a IA ainda tem muito espaço para evoluir. A redução das alucinações, por exemplo, avança paulatinamente, mas ainda está longe do ideal. Isso indica que a tecnologia não está madura – e que a demanda por mais computação e novos modelos deve seguir crescendo.

11. O mercado de IPOs ainda é fraco

Nos últimos 12 meses, houve 56 IPOs no segmento de IA, contra 511 no auge da bolha das ponto com. Ou seja, o ciclo atual não mostra exuberância especulativa em novas emissões como já ocorreu no passado.

12. O mercado não está em euforia

Mesmo com toda a atenção sobre IA, o humor geral dos investidores ainda é negativo: o índice de “Medo e Ganância”, criado pela CNN, aponta para “Pessimismo Extremo” – próximo de 19 pontos, bem abaixo da linha neutra de 50. Isso significa que, apesar do avanço das empresas de IA, o mercado como um todo não demonstra um comportamento eufórico, nem demanda excessiva por ativos de risco, que é uma condição típica de bolhas. A postura predominante ainda é de cautela, não de entusiasmo.

13. O medo da bolha freia os excessos que poderiam levar a uma bolha

O BTG cita uma pesquisa recente do Bank of America. Ela mostra que 54% dos gestores profissionais creem estar vivendo uma bolha de IA. E isso é bom. Quando o medo de bolha cresce entre profissionais de mercado, os investidores tendem a reduzir posições arriscadas e a operar de forma comedida. Ou seja, paradoxalmente, o fato de muitos acreditarem que há uma bolha diminui a probabilidade de uma bolha clássica se formar, pois os próprios agentes atuam para evitar excessos.

14. O investidor de varejo também está cauteloso

O índice AAII Bull/Bear, que mede o sentimento do investidor individual americano, permanece em território negativo. Isso indica que o pequeno investidor, o primeiro a responder aos ciclos especulativos, não está otimista. A falta de entusiasmo tanto entre profissionais (item 13), quanto no varejo reforça que não há clima emocional típico de bolha.

15. Investimento em IA é pequeno quando comparado a grandes ciclos históricos

O BTG calcula que, hoje, os investimentos em data centers de IA representam 1,3% do PIB. Há quem diga que estão construindo demais. Só que talvez não. Data center é o que há de mais moderno em infraestrutura. Nos momentos do passado em que o hype de infra era a construção de ferrovias, gastava-se muito mais: até 6% do PIB.

16. Queda de juros favorece teses de longo prazo

Juros menores tornam mais valioso cada dólar de lucro futuro. Quando os juros caem, os investidores calculam que o valor presente dos lucros que as empresas vão gerar no futuro é maior. Isso beneficia especialmente negócios cujo potencial econômico está mais avançado, como as empresas de IA, que investem muito agora para colher resultados maiores nos próximos anos.