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Índice Zara: Brasil é um dos países mais caros para comprar roupas. Por quê?

De acordo com o levantamento, o valor que é pago por um mesmo blaser, vestido ou calça no Brasil é 132% mais caro que o valor pago nos Estados Unidos.

Você acha que comprar roupas é caro? Segundo o Índice Zara, realizado pelo banco BTG Pactual, o Brasil está entre os países mais caros do mundo quando ao assunto é varejo de moda. De acordo com o levantamento, o valor que é pago por um mesmo blaser, vestido ou calça no Brasil é 132% mais caro que o valor pago nos Estados Unidos. Isso coloca o país em sétimo lugar no ranking quando comparado com outro 50 países.

Mas porque será que isso acontece? O que causa essa diferença tão grande nos preços das roupas?

Segundo o estudo, o poder de compra do país está comprometido, já que o consumidor desembolsa muito mais para comprar as mesmas peças de roupa da grife espanhola no Brasil do que em outros 50 países do mundo.

Porém, outros países estão com seu poder de compra mais afetados do que o Brasil. Caso do Vietnã que lidera o ranking de 2021, seguido por Tailândia, Turquia, Índia, Rússia e África do Sul. O que chama atenção é que muitas das roupas da Zara são feitas no Vietnã, Tailândia e Índia – e no entanto, são os países que menos têm poder de compra para consumir a sua própria produção.

Mas para chegar nestes dados foi levado em consideração 12 produtos vendidos na varejista em 50 países, e comparado com os valores praticados nas lojas americanas da rede, convertendo os preços para o dólar. Para quem nunca ouviu falar sobre esse índice, ele é pulicado desde 2014 por analistas do BTG Pactual. Ele foi inspirado no Índice Big Mac, criado em 1960 pela The Economist, que compara os preços do lanche do MCDonald’s em diversos países.

A ideia de ambos os índices é comparar a diferença no custo de um produto internacional em diferentes países e refletir sobre valores como carga tributária e custo de vida. E como a Zara é uma empresa com participação em dezenas de países, é possível ter uma ampla base de comparação. Por mais que no Brasil as grandes varejistas de moda, como: C&A, Renner, Arezzo ou Marisa tenham consumidores com perfis econômicos distintos, ainda assim, é um referencial quando analisamos carga tributária, câmbio e custo de vida.

A conclusão deste ano é que, enquanto países como Suíça, Luxemburgo, Finlândia e Dinamarca os valores praticados são entre 22 e 18% mais baratos que nos Estados Unidos, por aqui os preços são 133% superiores. O curioso é que isso ocorreu apesar de o real ter sofrido uma das maiores desvalorizações frente ao dólar no grupo de países analisados – uma queda de 24% nos últimos doze meses.

Em todo 2020, a moeda brasileira foi a que mais perdeu valor quando comparada a outras 36 moedas. Turquia, Rússia, Uruguai, África do Sul, Peru, Colômbia, México, Índia e Tailândia vêm em sequência, sendo estes os dez países com a moeda mais desvalorizada frente ao dólar em 2020.

Como os valores dos produtos são convertidos para a moeda americana, a valorização do dólar ajuda na competitividade dos mercados locais, já que os preços em dólar ficam mais baratos. Porém, não foi o que aconteceu, pelo menos aqui no Brasil. Então fica a questão: por que será que o custo da Zara no Brasil é maior que o resto do mundo?

A complexidade tributária, a diversidade de impostos, encargos diferenciados a depender dos estados, somado a uma logística cara e ineficiente estão entre as explicações mais óbvias. No caso da Zara, há fatores ligados à operação no Brasil.

O país é caro sobretudo para companhias estrangeiras. O dólar alto é um fator que torna as peças mais caras no caso de itens importados e não produzidos no Brasil, assim como fatores como a carga tributária complexa considerada alta para alguns produtos. A logística no país também é complexa e exige altos investimentos.

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Efeito pandemia

Agora um outro cenário que vale a pena destacar no varejo de moda é como ele foi afetado pela pandemia do coronavírus. Em uma época tão atípica com um número massivo de pessoas trabalhando em casa, o consumo de roupas parou de ser prioridade. Segundo a consultoria McKinsey, os lucros do setor da moda no mundo caíram 93% durante o ano passado. Isso fez com que grandes marcas entrassem com pedidos de falência.

A própria Zara vem em um movimento de fechamento de lojas ao redor do mundo. Se levar em consideração o número de lojas totais do grupo espanhol Inditex – dono da Zara – das 7,4 mil existentes antes da pandemia, a perspectiva é que fechem cerca de 1.200 lojas. No Brasil, foi anunciado o fechamento de sete unidades. Isso porque o grupo, que é considerado o maior varejista de roupas do mundo, vem sofrendo prejuízos em suas vendas.

A estratégia agora é manter as grandes lojas, com potencial para alavancar as vendas online da companhia. Com isso, as lojas menores localizadas em cidades com um menor fluxo de clientes perdem a relevância nesse novo posicionamento. A perspectiva da rede espanhola é que 25% do total das vendas sejam provenientes de compras online. E com isso, o grupo promete investir ao menos um bilhão de euros em sistemas de TI e novas tecnologias para chegar nesse resultado, além de reduzir os custos de distribuição.

Mas um fato que não pode ser deixado de lado é que o comportamento do consumidor mudou, cadeias de suprimentos foram interrompidas, e uma nova tendência foi ampliada: os compradores mais jovens querem que as empresas com as quais gastam dinheiro reflitam seus valores. Seja pela ética, pelo uso de produtos de origem local, ou mais sustentáveis do ponto de vista ambiental. Fato é que o caminho para a recuperação do setor envolverá cada vez mais esforços coletivos ESG por players de vestuário e calçados em todo o mundo. E as empresas brasileiras não estão imunes a essa movimentação.

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