Como destaquei em uma coluna recente, é bem documentado pela psicologia que o clima afeta nossas emoções, com efeito sobre investidores e também sobre as análises do mercado. Isso causaria uma espécie de efeito clima ou efeito dia de sol, afetando os negócios de curto prazo – no longo, os preços das ações tendem a se ajustar ao balanços das empresas.
Mas e se também os balanços são afetados pela previsão do tempo?
Era a pergunta que levou Chen Yangyang, professor da Universidade de Hong Kong, a coordenar uma interessante pesquisa, recém-publicada no jornal The Accounting Review. Os efeitos de um dia de sol ou de chuva podem ser bem mais duradouros para o mercado e afetam não só as ações como as finanças das próprias empresas e, por último, a economia dos países onde atuam.
Para investigar se o clima afetou os resultados das empresas, a equipe comandada pelo pesquisador analisou 30 mil previsões de lucro divulgadas pelas empresas nos Estados Unidos entre 1994 a 2010. Em seguida, verificou se nos dias anteriores à apresentação dos relatórios, quando foram finalizados, o dia estava ensolarado ou nublado.
O trabalho descobriu que as previsões de lucro elaboradas em dias de sol ficavam 5% acima daquelas finalizadas em dias nublados. Uma explicação para o percentual é de que os relatórios passam por supervisão interna. Uma diferença de 5% acaba não causando grande impacto no resultado final, por isso, provavelmente, acaba passando pelas auditorias.
Os pesquisadores sugerem que dias ensolarados fariam as pessoas se sentirem bem, levando às previsões mais otimistas. O efeito, segundo os autores, é mais pronunciado entre gerentes ou CEOs menos experientes ou quando suas empresas operam em ambientes com informações incertas. No entanto, em todos os casos, as projeções se tornam menos otimistas se existem incentivos na empresa para que sejam mais exatas.
Há outra descoberta interessante nesta pesquisa. A equipe descobriu que empresas com gestores mais sensíveis a este efeito têm um custo de financiamento mais alto. Seus CEOs transmitem informações tendenciosas ao mercado de capitais, tornando mais difícil a análise. Com dados mais incertos sobre a saúde financeira das empresas, as instituições cobram juros maiores para emprestar dinheiro.
É o primeiro trabalho a analisar em larga escala as nuances na maneira como as emoções afetam os grandes executivos. E que no fim das contas mostra que o efeito raio de sol acaba tendo um efeito devastador sobre suas carreiras. Cedo ou tarde, os resultados acabam não se confirmando. Por isso, eles permanecem menos tempo no cargo, ganham menos do que seus pares, acumulam menos poder de tomar decisões e também acabam ocupando cargos importantes.
O trabalho não contesta a importância de que as empresas anunciem a previsão de lucros, apesar de ser uma ferramenta importante para as decisões dos investidores, mas defende que os mecanismos internos delas sejam mais eficientes para eliminar o impacto dos vieses psicológicos nos dados.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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