*Superintendente de Produtos Balcão da B3.
Em um momento em que as empresas de todo o mundo olham com mais cuidado suas práticas ESG sabendo que precisam urgentemente acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, a B3 acaba de anunciar que vai fomentar a negociação de créditos de carbono no Brasil.
A bolsa brasileira fechou uma parceria com a AirCarbon (ACX) para o desenvolvimento de uma plataforma de negociação de créditos de carbono com o objetivo de ajudar a promover o mercado no país.
Mas antes mesmo de explicar como a negociação de créditos de carbono vai funcionar, queria falar sobre o conceito dos créditos de carbono e como eles são usados.
O que são créditos de carbono e como funciona o mercado voluntário
São títulos emitidos para neutralização de gases de efeito estufa (GEE). Para reduzir as emissões de carbono e frear o aquecimento global, algumas empresas passaram a, voluntariamente, reduzir seu impacto ambiental. Muitas vezes essa redução se dá através da neutralização, quando essas empresas compram créditos de carbono gerados por projetos com benefícios ambientais.
Desta forma, os projetos são responsáveis pela redução ou remoção de gases de carbono na atmosfera e, através deles, algumas toneladas de GEE deixam de ir para a atmosfera. Esses projetos podem ser certificados por uma empresa terceira (Standard) e independente que gerará créditos a partir da performance.
Em geral, empresas do setor industrial que emitem muito CO2 (tais como os setores petrolífero, siderúrgico, de transporte, de aviação, dentre outras) podem adquirir esses créditos para cumprir metas de neutralidade climática. Por outro lado, empresas relacionadas à agricultura sustentável, preservação e reflorestamento, energias renováveis, biocombustíveis e eficiência energética são potenciais geradoras de créditos de carbono através de seus projetos.
Mercado regulado de créditos de carbono
Há dois tipos de mercado de carbono: o regulado e o voluntário. No Brasil, hoje, existe apenas o mercado voluntário e as empresas que optam por neutralizar suas emissões o fazem independentemente de qualquer obrigatoriedade. No entanto, o tema vem ganhando relevância no mundo todo e já existem projetos de lei para a regulamentação do mercado brasileiro.
No mercado regulado pode-se propor uma multa ou incentivo para um limite de emissões para as empresas ou estabelecer um “sistema de comércio de emissões”, que provavelmente acontecerá no Brasil.
Nesse sistema, as empresas possuem “permissões” para emissão e podem negociá-las à medida que há excesso ou escassez. Caso as permissões distribuídas não sejam suficientes dentro do sistema, a regulação pode admitir que créditos de carbono do mercado voluntário sejam adquiridos pelas empresas para que as metas sejam cumpridas.
Como vai funcionar a plataforma de negociação de créditos de carbono
A B3 vai oferecer para os clientes um ambiente integrado para registro e negociação de créditos de carbono no Brasil.
O objetivo é que a plataforma lançada em parceria com a ACX sirva como ambiente para que os emissores de créditos de carbono realizem as negociações com as empresas que desejam diminuir sua pegada ambiental e se adaptar a práticas ASG.
Os clientes terão acesso a um livro global centralizado de ordens e conectada aos principais standards do mundo.
Com a entrada no mercado de créditos de carbono, a B3 busca aproximar compradores internacionais de créditos de carbono de importantes players brasileiros, além de adicionar uma camada de integridade na cadeia de negociação desse produto para adequada formação de preço.
A verificação da legitimidade e unicidade dos créditos de carbono será de responsabilidade das certificadoras, em conjunto com os vendedores. No entanto, a parceria com a ACX, que possui conexão com as principais certificadoras, proporciona maior segurança nas negociações e no registro dos créditos.
O papel da B3
A B3 já está presente no mercado de produtos de descarbonização, conhecidos como o CBIO. Além disso, oferecemos infraestrutura para CPR Verde e ETFs, que são fundos de índices, indexados ao Índice Carbono Eficiente (ICO2 B3).
Acreditamos que o Brasil tem potencial para ser um dos maiores fornecedores de créditos de carbono no mundo e a B3 está comprometida em impulsionar esse mercado no país, fornecendo um ambiente seguro, com transparência de preços e integrado para negociação de créditos que contribua para acelerar a transição para um futuro mais sustentável.
No entanto, para aproveitar totalmente esse potencial, é essencial termos um ambiente seguro e transparente que priorize a integridade dos créditos e a adequada formação de preços.
Com a expertise e solidez da B3, aliada à tecnologia inovadora da ACX, o mercado de carbono no Brasil tem tudo para se tornar uma referência global.
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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