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Claudia Kodja

Não corra o risco de empobrecer na sua velhice

Entenda quais são as razões para criar estratégias de renda para a aposentadoria (parte 1).

Com as intensas manifestações na França contra a possível reforma da previdência, que modificaria o início da aposentadoria dos franceses de  62 para 64 anos, resolvi retomar o assunto sobre a importância de  ter um plano de aposentadoria.

Embora seja vasto o volume de informações sobre como planejar a aposentadoria, grande parte da população brasileira não contribui para qualquer sistema de proteção previdenciário, seja público ou privado.

É compreensível que a quantidade de informação não seja proporcional à adesão. Isto porque a maioria do conteúdo disponível sobre previdência foi elaborado por educadores e consultores financeiros – pessoas que, normalmente, emitem conteúdos que somente se parecem bons, mas que, na verdade, são uniformes, enfadonhos, distantes da prática e da realidade de cada cidadão.

O alcance da proteção previdenciária no Brasil

Aposentadoria, velhice. Fonte: Freepik.

Conforme o último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, cerca de 26 milhões de pessoas (ou 31% do público ocupado), estavam desprotegidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

O valor médio dos benefícios emitidos pela previdência social é de apenas R$ 1.477,74 e o teto do INSS para 2023 é de R$ 7.507,49.

Se aposentar com o teto é uma realidade praticamente impossível. Dentro dos mais de 30 milhões de benefícios pagos pelo INSS, menos de mil eram equivalentes ao teto previdenciário, também segundo o último levantamento do IBGE.

Para este valor médio de benefícios é de se esperar uma mobilização maior na busca de produtos de previdência privada, daqueles com melhores condições financeiras ou um padrão de vida superior, a fim de que possam complementar a renda na aposentadoria e manter o padrão de vida alcançado no período laboral.

Conforme pesquisa realizada pela Folha de São Paulo, apenas 27% da população brasileira com renda superior a 10 salários-mínimos são investidores de produtos de previdência privada.

Fonte: Folha de São Paulo. Pesquisa com 2.781 entrevistados em 172 cidades.

Vale ressaltar que apenas 16% da população brasileira possui uma renda mensal superior a 5 salários-mínimos, tornando o volume absoluto de investidores em previdência privada irrisório, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE.

Sobre a urgência de se pensar na velhice antes de chegar nela

Para falar sobre a urgência em desenvolver uma estratégia de renda para a aposentadoria, sem cair na mesmice improdutiva de citar o aumento da longevidade, vamos aos fatos.

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Viver mais não significa capacidade de trabalhar por mais tempo.Viver por mais tempo não implica no aumento de vagas de trabalho.O aumento da longevidade não atinge toda sociedade da mesma forma.

Não há dúvida que o aumento da expectativa de vida foi extraordinário.

Entre 1960 e 2020, a população mundial com mais de 50 anos cresceu 4,44 vezes.

Fonte: Our World in Data.

No entanto, viver por mais tempo não implica no aumento da oferta de emprego ou habilidade e capacidade para atuar nas novas vagas de trabalho.

O percentual de pessoas com mais de 55 anos que manifestam limitações físicas e mentais para o trabalho se mantém estável no mundo desde a década de 1980, em torno de 44%, segundo o Boletim Estatístico da Previdência.

A partir dos 50 anos e, definitivamente, dos 60, trabalhadores economicamente ativos são agregados, instantaneamente, sem critério ou avaliação, para uma bolha invisível e passam a sofrer com o ageísmo do mercado.

O ageísmo ou etarismo do mercado é determinado pela crença de que os trabalhadores mais velhos devem ser preteridos, uma vez que possuem menos capacidade, agilidade, dão mais valor aos métodos passados e podem ser mais caros.

Neste contexto, aumentar a idade da aposentadoria e cortar benefícios não constitui um plano de reforma da previdência social, a exemplo do que foi feito no Brasil e o que se pretende fazer na França. Pode expressar força política e conter as preocupações do mercado no curto prazo, mas de forma ineficaz, mantendo a estrutura deficitária e reduzindo a base de consumo da economia interna.

Se toda falta de estrutura social e política para recepcionar o violento aumento da longevidade não for suficiente para alertá-lo sobre o risco de empobrecimento na velhice e a necessidade de estabelecer uma estratégia de renda vitalícia para o período, podemos adicionar a vulnerabilidade crescente dos vínculos trabalhistas.

A dinâmica de mercado anterior, onde a maioria iniciava sua vida laboral após terminarem seus estudos e encontravam empregos estáveis por tempo integral, em que muitas vezes permaneciam até se aposentarem por volta dos 60 anos, parece ter os dias contados.

Carreiras estáveis e por tempo integral não correspondem aos padrões de oferta na atualidade ou às preferências dos jovens trabalhadores. O que se observa é uma realidade mais complexa, com trocas frequentes de emprego, diferentes tipos de vínculos trabalhistas, períodos flexíveis de atividade e avanços tecnológicos, que estão revolucionando o mercado.

Sob todos os aspectos descritos, o empobrecimento ou de queda do padrão de vida na velhice é um risco que ameaça a todos os trabalhadores e a diversas classes sociais. Fechar os olhos para o problema ou adiar a estruturação de uma estratégia de renda para sua velhice poderá levá-lo ao isolamento, insegurança financeira e ao empobrecimento.

*Acompanhe no meu próximo artigo no InvestNews: as estratégias de renda possíveis para uma aposentadoria financeiramente estável e um envelhecimento seguro. Até lá!

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As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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