Os defensores da eficiência do mercado costumam dizer que o que importa nos preços de qualquer investimento é o próprio preço. Se as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) caem, o valor muito provavelmente reflete as cotações do petróleo no mercado internacional ou um discurso do governo contra a liberdade de preços dos combustíveis. Se sobem, é o contrário. O mesmo para os papéis da Vale (VALE3), do Itaú (ITUB3; ITUB4) ou qualquer outro.
Dois economistas e professores, David Hirshleifer (Universidade da Califórnia) e Tyler Shumway (Universidade de Michigan), não negam que em um período mais longo pode ser assim. Mas no dia a dia prevalece a irracionalidade dos investidores. E um dos fatores que acabam influenciando os negócios é o clima.
Faz parte da sabedoria popular relacionar o tempo às nossas alterações do humor. Dias mais bonitos levariam a um estado de espírito mais positivo. Já um céu carregado seria responsável por um estado emocional mais negativo. Moradores de Manchester, na Inglaterra, inclusive são considerados melancólicas devido ao eterno céu nublado.
O ponto de partida do trabalho é de que, além da evidência anedótica, as condições do tempo fazem a bolsa subir ou cair. Com dados de 26 países, entre eles o Brasil, coletados entre 1982 e 1997, os autores primeiro verificaram como foi o fechamento em cada pregão. Em seguida, cruzaram os dados com as informações meteorológicas do mesmo dia.
Como o clima influencia os mercados
Um dia de sol, segundo o estudo, faz as ações subirem 0,18% a mais do que um nublado. Considerados todos os pregões do ano, o efeito é significativo. Na Bolsa de Nova York, por exemplo, o rendimento anual médio do índice Dow Jones nos dias de sol foi de 24,8%. Já em dias nublados ou chuvosos o pregão subiu 8,7%, em média.
Para os autores do trabalho, nos dias ensolarados, prevalece o bom humor entre os investidores, levando a mais otimismo com as ações e a uma alta mais forte da bolsa. Já em um dia nublado, é mais provável que os investidores se sintam mal humorados e com tendência a ser mais pessimistas com o retorno futuro de um investimento.
Mas o período analisado é de antes da internet se popularizar. Com os home brokers e as pessoas operando na bolsa em qualquer lugar, a previsão do tempo continuaria relevante para os negócios?
A resposta vem do trabalho de outros três pesquisadores. Ed deHaan, Joshua Madsen e Joseph D. Piotroski cruzaram os dados de 636 mil relatórios, produzidos neste século por 5.456 profissionais, em busca da mesma correlação. Além de ler cada relatório, foi examinada a previsão do tempo no dia em que a análise foi publicada.
Descobriram que há entre 9% e 18% menos chance de um analista recomendar a compra ou elevar o preço-alvo para papel em um dia nublado na cidade onde vive. Recomendações que provavelmente influenciaram as decisões de investidores.
É claro que, em algum momento, os fundamentos acabam prevalecendo. Não é errado pensar que no longo prazo o mercado acaba sendo mesmo mais eficiente. Mas os dois estudos acabam demonstrando que uma olhada no canal do tempo não faz mal se a ideia é apostar no curto prazo.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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