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Coluna do Samy

Empresas criativas agradam acionistas? Nem sempre, segundo estudo americano

Se há algo que assusta o mercado é incerteza.

É quase uma religião entre investidores, gestores e executivos de que criatividade é benéfica para as empresas. Oferecer novas soluções para os problemas costuma ser visto como uma qualidade. Quem, afinal, nunca ouviu falar que é preciso pensar fora da caixa? Mas uma coisa é como as pessoas veem a criatividade e outra é se querem colocar dinheiro em risco para apoiá-la.

Essa discussão é o resultado de mais um estudo produzido por dois pesquisadores e por uma professora, Michael Haselhuhn, Elaine Wong e Margaret Ormiston, da George Washington University, que será publicado na edição de julho do jornal acadêmico Organizational Behavior and Human Decision Processes.

O trio estuda há mais de uma década a psicologia ligada aos traços dos executivos que não necessariamente têm a ver com sua capacidade de gerir negócios. Um trabalho de 2011, por exemplo, demonstra que a aparência dos CEOs pode influenciar o desempenho das empresas. Empresas comandadas por executivos com rostos mais simétricos acabam obtendo ganhos maiores.

A conclusão daquele estudo é de que aparência pode fazer com que alguns executivos sejam percebidos como mais poderosos e influenciam o desempenho dos empregados, principalmente em empresas menores, nas quais o contato direto com o CEO é mais intenso — a existência de gerentes e gestores, tornando mais distante a relação com os executivos, ameniza o efeito. Desta vez, o objetivo era saber qual o impacto das ideias, não só da aparência, sobre as equipes e os investidores.

Os autores reuniram transcrições das apresentações de resultados trimestrais dos executivos aos investidores. Um algoritmo analisou referências à criatividade e inovação nos relatórios trimestrais de empresas da Fortune 1000, lista com as mil companhias de maior receita nos Estados Unidos, contabilizando quantas vezes são usadas.

O próximo passo foi examinar dados financeiros das empresas e seu desempenho no mercado de ações. Os resultados demonstram que nem sempre investidores apoiam uma estratégia criativa nas empresas. Geralmente, eles estão mais dispostos a comprar ações quando os dados atribuem à criatividade uma melhora no desempenho.

Mas quando a criatividade é citada como resposta a uma dificuldade nos negócios ou sustenta uma estratégia de crescimento, a resposta do mercado é menos empolgada, com os investidores muitas vezes vendendo os papéis da empresa.

Novas soluções são mais incertas do que as antigas e conhecidas. E se há algo que assusta o mercado é incerteza. Porém, quando se tratava dos empregados das empresas, a história era outra. Segundo o estudo, ideias criativas acabam mobilizando as equipes. Em consequência, os resultados financeiros acabam aparecendo e no fim o preço das ações acabam incorporando os resultados.

É de se ressaltar que, como o trabalho ainda não foi publicado, faltam detalhes sobre os dados. Mas as informações sugerem que o viés da criatividade, uma aversão a ideias criativas, documentada por alguns estudos na última década que se manifesta nas relações pessoais, também funciona nos investimentos.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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