SPACs, as companhias com propósito específico de aquisição, entraram com estardalhaço no radar dos investidores durante a pandemia. São empresas que não atuam em nenhum mercado específico, criadas geralmente por grandes empresários ou gestores que abriram o capital para captar investimentos e comprar ou se fundir a uma companhia já existente e com alto potencial de lucros.
A chamada comunidade SPAC, que financia as aquisições, junta fundos de investimento, banqueiros, advogados e outros tipos de investidores. Também há algumas celebridades, como o ex-jogador de beisebol Alex Rodriguez, a supercampeã do tênis Serena Williams, o músico músico Jay-Z e Bill Gates, fundador da Microsoft.
SPACs
Apesar dos nomes famosos envolvidos, é uma modalidade de investimento que perdeu fôlego em 2021. Pode ter só saído um pouco de moda, mas também não é surpresa diante das conclusões de um estudo sobre spacs dos economistas e professores Michael Dambra (Buffalo), Omri Even-Tov (Berkeley) e Kimberly George (Califórnia, Berkeley), publicado recentemente no SSRN, repositório de trabalhos científicos.
Até este trabalho, nenhuma pesquisa havia observado em larga escala as promessas de lucro e o que realmente aconteceu depois do IPO do cheque em branco, como spacs foram apelidados no mercado americano. Os três autores analisaram projeções de 142 transações de 2010 a 2020, ano em que as spacs se popularizaram. Em 90% dos casos, os resultados, principalmente a receita, ficaram abaixo do que era projetado
IPO
Nos Estados Unidos, empresas envolvidas em um IPO não podem fazer projeções. A restrição, no entanto, não vale para empresas que ainda estão fora da bolsa ou preparando o lançamento de ações. Muitas exageram. A média é de crescimento da receita de 28% ao ano. Muito acima dos 5% anuais das empresas americanas de 1950 a 2015, segundo relatório do banco Credit Suisse.
Spacs em geral são bem sucedidos em encontrar empresas inovadoras. Porém mesmo para elas a concorrência no mercado é dura. De acordo com o relatório do banco suíço, só uma em cada oito companhias é capaz de faturar mais 25% ao ano por três anos seguidos. E só uma em 40 (2,5%) consegue crescer neste ritmo por mais de dez anos. Para quem pensa em entrar no negócio, não parece importar. Quanto maiores as previsões de uma aquisição via spac, mais investimento costumam atrair.
Até que a companhia, abrindo o capital, chega ao mercado. SPACs lançadas com promessas arrojadas de lucro costumam ter desempenho 70% abaixo do projetado no primeiro ano após a abertura de capital. Mas mesmo empresas com metas menos ousadas costumam ter resultados 10% inferiores às previsões.
São números que levam os três economistas a aconselharem: investidores deviam ser mais cautelosos diante das previsões. Buscar mais informações, como o desempenho passado das empresas, e conhecer as condições do mercado em que atuam podem ajudar a compensar as lacunas que o investimento esconde.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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