No Brasil, ondas de calor, enchentes, ciclones, prejuízos financeiros enormes para a sociedade. No mundo, enchentes, secas, ciclones e terremotos. Os efeitos negativos das mudanças climáticas se avizinham e apresentam a cara como na música traduzida para o português do R.E.M. “É o fim do mundo como o conhecemos (e me sinto bem)”.
A parte final do título dessa música, “e me sinto bem”, é um capítulo à parte, ninguém quer ser a voz do apocalipse, mas o ano de 2023 foi aquele que sentimos na pele os efeitos climáticos negativos e que vislumbramos que se não fizermos nada, podemos ver o fim da vida humana no planeta.
Começamos então a perceber que todos estamos em risco e que temos que fazer alguma coisa. Quando isso acontece, vislumbramos uma esperança, e me sinto bem porque agora os países começaram a se mexer para executar um plano conjunto para salvar o mundo.
Realmente, é um mundo que não conhecíamos, um mundo fragmentado, multilateral, que permite que os Emirados Árabes Unidos, um dos maiores responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta com sua imensa produção de petróleo e gás, não só sediem uma conferência climática da ONU (como abordei no último texto sobre a COP28), como a transição para um mundo movido a energia limpa.
A segunda estrofe da música do R.E.M. nos fornece a analogia perfeita “… o mundo atende às suas próprias necessidades…”, parafraseando que diante de um aumento da temperatura eminente e devastador para alguns negócios, como a agroindústria, temos que atender a necessidade de fazermos uma transição energética obrigatória, eliminar as fontes de energia suja são o caminho necessário.
E todos os países estão de olho nisso, pois sabem que geopolítica e economicamente isso é o que vai trazer a liderança futura mundial. Vejamos os dois maiores poluidores do planeta, a China e os Estados Unidos. Antes da COP28 os dois presidentes se reuniram e destravaram uma agenda que antes eles enxergavam como prejudicial para a sua economia e que agora será o caminho do futuro: combater conjuntamente o aquecimento global, aumentando a energia eólica, solar e outras energias renováveis.
Obviamente que estamos falando de uma corrida pela liderança com muito dinheiro na mesa e a ratificação no documento final da COP28, onde 118 países mais a União Europeia se comprometeram a triplicar o uso de energias renováveis, traz um gigantesco novo mercado para diversas indústrias que terão que se adaptar obrigatoriamente. Substituir os combustíveis fósseis e aumentar as fontes de energia limpa para uma capacidade de 11 mil GW de potência até 2030, acima dos 3,4 mil GW produzidos no ano de 2022, exigirá trilhões em investimentos, mas um retorno financeiro imenso para quem estiver à frente disso, até porque, estamos falando de cerca de 3 vezes o que o mundo produziu de energia limpa só no ano passado.
Mas é um mundo que realmente não conhecemos e que permite que os países mais ricos e historicamente poluidores, de forma inédita no primeiro dia de conferência da ONU, anunciassem que o fundo de perdas e danos realmente vai sair do papel com mais de 400 milhões de dólares sendo distribuídos para os países mais vulneráveis para que possam se adaptar aos efeitos climáticos devastadores atuais e futuros.
Espero que assim como na música do R.E.M. o fim do mundo seja somente uma metáfora para conseguirmos enxergar mais e agirmos urgentemente a favor da natureza, quer dizer, a nosso favor. Que no ano de 2024 comecemos a nos sentir bem e podermos cantarolar divertidamente que “é o fim do mundo como o conhecemos (e me sinto bem) …”, ou no original, “It’s the end of the world as we know it and I feel fine”.
Feliz Ano Novo para todos os leitores dessa coluna Salve o Mundo e Lucre, que venha 2024!
Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.
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