Investir no mercado financeiro no Brasil é uma opção essencialmente masculina. Segundo dados da B3, 76,13% dos investidores são homens. As mulheres correspondem a 23,87% das pessoas físicas na bolsa. Percentuais que se mantiveram mais ou menos estáveis nos últimos dez anos, à exceção de 2020, quando elas chegaram a ser 26,2% do total.
É pouco, considerando que mulheres são 51% da população, segundo o IBGE. As explicações são conhecidas. O gap de gênero, com as mulheres ganhando apenas 77% do que é pago aos homens – 61% nas posições de comando, como gerentes e diretores -, de acordo com o mesmo IBGE, reduz a probabilidade de que se tornem investidoras. E, em um mercado dominado por homens, também a pressão por mudanças.
Mas ter mais mulheres, tanto no mercado como nas empresas, é importante não só em termos de equidade, mas também em nome da rentabilidade. É o que indica um grande estudo do Morgan Stanley, de 2016, cujos resultados, mesmo seis anos depois, ainda são válidos. Segundo levantamento do banco americano, quanto mais elas são importantes na estrutura de uma empresa, menor a volatilidade dos seus papéis.
Ao verificar o retorno de 1,6 mil empresas listadas em bolsa no mundo todo, o relatório notou que em cinco anos o retorno das ações de empresas que promovem mais a diversidade em sua equipe foi 1,5% superior à média do mercado. Em alguns países, o ganho foi ainda mais generoso. Os Estados Unidos são a grande exceção, já que as chamadas ações de crescimento, de empresas pequenas e menores, costumam se valorizar mais do que as de grandes empresas, onde há mais presença feminina.
Não é o único estudo mostrando que ter mais mulheres na equipe é bom para os acionistas. Em 2015, uma pesquisa da consultoria McKinsey com 366 companhias já havia apontado resultados parecidos. A possibilidade de uma empresa mais diversa em termos de gênero oferecer retornos acima da média é de 15%.
O mesmo valia para questões raciais. Com mais diversidade étnica, os ganhos chegaram a ser 35% maiores do que empresas do mesmo patamar. Nos dois trabalhos, empresas onde predominavam grandes vantagens salariais dos homens sobre as mulheres e com licença-maternidade menos generosas, eram muito mais voláteis do que a média, com com possibilidade maior de passarem por quedas fortes.
É sempre difícil atribuir razões diretas para o desempenho das ações. Mas algumas razões parecem óbvias. Quanto mais as pessoas se parecem em um grupo, maior a chance de prevalecer o comportamento de manada, com maior alinhamento nas ideias, maior constrangimento a quem pensa diferente e maior chance de decisões infelizes. Já empresas com equipes mais diversas tenderiam a reunir uma quantidade maior de pontos de vista.
Além disso, cairiam entre as empresas mais diversas os gastos com recrutamento e com treinamento, deixando-as menos vulneráveis à fuga de cérebros. Em um momento em que o fenômeno da “grande renúncia” leva trabalhadores qualificados a abandonar seus empregos no mundo todo, inclusive no Brasil, seria uma forma de manter os talentos por perto. E garantir o retorno das ações.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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