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A corrida espacial pode beneficiar a Terra? Ariel Ekblaw defende que sim

Ariel Ekblaw, diretora do MIT Space Exploration Initiative, fala dos estudos e projetos voltados para viagens ao espaço.

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Nos últimos anos, temos acompanhado um aumento de iniciativas voltadas à exploração espacial que vão do envio de novos equipamentos para registros e coletas de materiais a projetos comerciais que pretendem transformar o espaço em um novo mercado de turismo. Essa nova corrida espacial tem envolvido países como China, Índia e Emirados Árabes – além das tradicionais potências, Estados Unidos e Rússia – como também empreendedores bilionários e, não menos, visionários. 

É o caso de Richard Branson, da Virgin Galactic, que em julho foi ao espaço em um foguete de sua empresa junto com outros cinco tripulantes. A partir de 2022, ele pretende transportar 1.000 aventureiros por ano em viagens espaciais e a lista de espera já está lotada até 2024. Poucos dias depois, foi a vez de Jeff Bezos, da Amazon (AMZO34) e Blue Origin, ir um pouco mais longe ao atingir a Linha Karman, a 100 km de altitude, em um voo orbital que custou US$ 28 milhões. Já Ellon Musk, da Tesla (TSLA34) e dono da SpaceX, enviou a primeira tripulação 100% de civis ao espaço em um tour espacial que custou cerca de US$ 55 milhões. 

Além desses projetos liderados pelos bilionários, a Nasa anunciou que retomará as expedições para a Lua até 2024, ou seja, 55 anos após a primeira vez que o homem pisou nessa superfície. Daqui a três anos, a China também pretende construir uma estação lunar tendo como objetivo levar civis ao espaço. 

A exploração desse ambiente ainda pouco conhecido por nós traz à tona também diversas dúvidas sobre essas iniciativas. Por exemplo: quais os desafios em relação a tecnologias e soluções para superar esses desafios da exploração espacial? Será que as tecnologias e projetos desenvolvidos para o espaço irão melhorar a vida dos terráqueos? E por que investir tanto dinheiro no espaço sendo que há muitos problemas a serem resolvidos na Terra?

O tema é muito interessante e foi sobre ele que conversei com a americana Ariel Ekblaw, Diretora do MIT Space Exploration Initiative e PhD em estações espaciais automontáveis nas órbitas da Terra, Lua e Marte. Ela lidera um grupo de exploração espacial da instituição de tecnologia dos Estados Unidos, ficando à frente de 50 especialistas que atuam com pesquisas e desenvolvimento de protótipos voltados para experiências espaciais. 

Sobre o desenvolvimento de estruturas para a exploração espacial nos próximos anos, Ariel cita que, além da Estação Espacial Internacional já em órbita, as atenções agora estão voltadas para a criação da Estação Espacial Comercial, sendo que em apenas uma rodada de negócios foram captados US$ 130 milhões para a sua construção e realização de pesquisas voltadas ao turismo espacial. “Esse é o primeiro passo para começarmos a pensas em hotéis e cidades no espaço, e também para sabermos o papel que poderemos ter nesse novo cenário no futuro”, diz ela. 

Mas para o avanço da exploração do espaço suportar as iniciativas previstas para os próximos anos, é preciso ter tecnologias avançadas e específicas para a área, com laboratórios de pesquisas especializados e profissionais capacitados, além do desenvolvimento de políticas e normas éticas para a atuação de empresas em um ambiente completamente novo.

Dentro dessa questão, a Diretora do MIT Space Exploration initiative cita, por exemplo, o caso de uma empresa conseguir explorar uma área como mineração ou construir uma rede de comunicação no espaço em relação a termos de propriedade de acesso para evitar conflitos no futuro. Por conta disso, ela aponta a necessidade de já ter regras claras para todo esse ecossistema envolvendo o ambiente espacial.

Ariel abordou também uma outra visão que muitos têm em relação ao espaço, que é o de encontrar um novo planeta que seja habitável, ou seja, uma espécie de Plano B para a Terra. Segundo ela, os estudos e projetos realizados não têm esse objetivo, até porque estamos muito longe de encontrar um outro local com a abundância de recursos que a Terra nos oferece.

E que as investidas espaciais visam exatamente o oposto, que é usar toda a tecnologia espacial e conhecimentos a partir dos projetos realizados para melhorar a vida na Terra e proteger o ambiente que temos. “São tecnologias e soluções para suportes básicos para a vida e que podem ser usados em diferentes áreas na Terra, principalmente com o aumento dos desastres e situações extremas causadas pelas mudanças climáticas”, aponta ela. 

Para se ter uma ideia do quão complexa é uma exploração espacial, o MIT Space Exploration Initiative mantém mais de 40 projetos em andamento que visam os mais diversos objetivos para facilitar a atuação humana em órbita. Entre essas iniciativas estão simulação de atividades em microgravidade, testes envolvendo Realidade Virtual e Realidade Aumentada no espaço, impressão 3D com gravidade zero, uso de robótica com artefatos, entre outros. Esses estudos visam gerar respostas que podem parecer simples, mas que são bem complexas quando estamos no ambiente espacial, como tocar um instrumento musical, por exemplo. 

Para aprofundar ainda mais esse tema tão interessante e que gera tantas dúvidas, fiz algumas perguntas para a Ariel Ekblaw. Veja abaixo:

Você falou que em janeiro de 2022 já está agendada a primeira exploração comercial no espaço. Quais as reais possibilidades em relação a negócios com essa iniciativa, e quais os principais investidores atualmente?

“No próximo mês de janeiro, a Axion Space vai levar astronautas privados para a Estação Espacial Internacional, e essa será uma grande oportunidade de fazerem pesquisas científicas no espaço. Não será liderada pela Nasa e nem outras agências, e estará aberta a qualquer empresa que tenha interesse em investir na Estação Internacional ou nos profissionais envolvidos. Grandes grupos como a C5 Capital já estão envolvidos e uma comunidade cada vez maior de investidores anjo não só nos Estados Unidos como em todo o mundo já estão financiando projetos realizados por startups e novas empresas. Ou seja, há um grande movimento nesta direção.”

Quais são as ferramentas psicológicas que você usa junto à sua equipe no MIT para atingir os melhores resultados?

“Uma das ferramentas que utilizamos é o empoderamento, ou seja, trabalhamos em projetos que impactarão o futuro da humanidade por centenas de anos. Essa é a vantagem de trabalhar no setor espacial, pois sabemos que serão coisas que irão acontecer ao longo de muitos anos. Estamos preparando terreno para isso e queremos realmente beneficiar a humanidade e esse é um jeito de atrair investimentos. E não só empresas e pessoas interessadas em ir ao espaço, mas também queremos levar os alunos pra esse voo em microgravidade ou gravidade zero, que elas tenham essa oportunidade de voar como turistas, e realmente isso é muito empolgante. São metas a longo prazo que motivam todo o nosso trabalho.”

E para você, como os seres humanos interplanetários serão daqui a 100 anos?

Essa conversa com a Ariel Ekblaw nos mostra o quão importante são esses projetos voltados ao espaço, pois muitas vezes passam a ideia de serem pouco produtivos pela quantidade de dinheiro envolvido ou apenas uma aventura patrocinada por um bilionário. E como ela mesmo me disse, “essa é uma área que demanda muito trabalho e altos investimentos, mas os estudos e projetos espaciais nos ajudam a entender e solucionar os problemas que enfrentamos em nosso próprio planeta”. 

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