Existe uma teoria da economia comportamental, campo de estudo que há mais de cinco décadas une economistas e psicólogos, chamada de a maldição do especialista. Sugere que o excesso de confiança muitas vezes leva a pessoa, mesmo experiente numa tarefa, a não perceber erros graves.
Pode ser um craque no futebol que resolve dar uma cavadinha e erra um pênalti decisivo. Um juiz, um médico ou outro profissional importante. São pessoas cujas decisões têm impacto na vida de outras. Geralmente, quando erram e o erro fica evidente, é colocado na conta de cada uma.
Mas um livro recém-lançado nos Estados Unidos apresenta outra explicação. “Noise: A Flaw in Human Judgment” (Ruído: uma Falha no Julgamento Humano, sem previsão de lançamento no Brasil) defende que muitos de nossos erros se devem a eventos aleatórios, preconceitos ou mesmo o clima, que afetam nossa capacidade de julgamento.
Novo trabalho do grande Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, e escrito em parceria com Cass Sunstein, professor de Direito na Universidade de Harvard, o livro parte de uma pergunta: por que as pessoas cometem certos erros que parecem ilógicos?
Juízes, por exemplo, condenam mais os réus quando estão com fome, perto da hora do almoço, do que no começo da manhã. Já médicos prescrevem mais medicamentos no fim do dia do que no começo. Decisões que, segundo os autores, se devem a uma espécie de ruído mental que afeta nossas emoções, levando a decisões fora do razoável. É como um defeito na balança que vez ou outra marca errado, mas sempre um peso diferente.
Entre programadores, segundo estudos citados no livro, o prazo estimado para terminar uma tarefa variava até 70% de um dia para o outro. Em outro caso, numa seguradora, a pontuação de risco de clientes variava mais de 505 dependendo do funcionário encarregado da tarefa.
A condição de especialista ajuda no geral, claro. Em tese, quanto mais experiência, maior a possibilidade de acerto. Mas muitas vezes torna mais difícil que a pessoa aceite o erro e isso pode ter consequências sérias se existe a possibilidade da decisão de afetar outras pessoas. O livro também discute um método para decidir sendo menos influenciado por fatores de momento, como dividir cada decisão em partes para evitar erros de avaliação.
Os autores sugerem que as pessoas tenham protocolos, como os pilotos de avião, que precisam checar uma série de procedimentos antes de decolar e pousar. É mais uma forma de evitar erros. Errar é humano, mas as pessoas devem duvidar um pouco mais de si mesmas. Afinal de contas, até uma noite mal dormida pode mudar uma decisão.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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