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Blockchain e o Metaverso: água e óleo ou café com leite?
Entusiastas e críticos do Metaverso compartilham uma preocupação quanto ao tipo de poder que estas tecnologias podem trazer para as empresas.
Metaverso e cripto são termos de destaque no mundo da tecnologia. Há anos, atraem o interesse de usuários, empreendedores e investidores e, muitas vezes, dividem opiniões. Tamanho interesse não é por acaso: ambos se referem a tecnologias que permitem novas formas de interação online e podem causar transformações profundas na sociedade.
Nos últimos meses, os termos viveram momentos de especial atenção do público e a interseção entre esses mundos se tornou, mais do que nunca, um tópico relevante. Para nos situarmos nesse contexto, vejamos a que essas tecnologias se propõem e como elas podem mudar o mundo em que vivemos.
Metaverso e as empresas
Metaverso é um “mundo” parecido com o de jogos online: um ambiente virtual em que os usuários têm identidade, seja ela real ou pseudônima, e podem interagir entre si como se estivessem fisicamente presentes.
O Metaverso ganhou destaque em abril de 2021, quando Epic Games e Nvidia anunciaram suas iniciativas no setor, mas foi em outubro do mesmo ano que passou a ser um termo de uso corrente, quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança de nome e de foco do Facebook, agora chamado Meta.
Segundo Zuckerberg, chegou a hora de os usuários trocarem os feeds e chats por experiências imersivas, em que as interações são mais realistas e profundas. O empresário apresentou algumas das principais funcionalidades da sua solução, como salas de reunião e jogos com experiência 360º.
O anúncio renovou o interesse público sobre o metaverso. Para muitos, foi um primeiro contato com o conceito e uma grande surpresa; para outros, incluindo boa parte das maiores empresas de tecnologia – Apple (AAPL34), Google (GOGL34), IBM (IBMB34) e outras gigantes já estão desenvolvendo soluções para o Metaverso — foi um sinal para acelerar seus projetos no setor.
Neste contexto, entusiastas e críticos do Metaverso compartilham uma preocupação quanto ao tipo de poder que estas tecnologias podem trazer para as empresas. Se as redes sociais, os mecanismos de busca e os dispositivos que usamos para acessá-los já apresentam tantos riscos de privacidade, o que dizer dos fornecedores de experiências online ainda mais complexas?
É nesse cenário que o potencial de tecnologias com a capacidade de minimizar o poder das empresas que desenvolvem e mantêm os ambientes online se torna mais relevante.
Metaverso e blockchain
Blockchain é uma forma de interagir pela internet. Um sistema de comunicação em que os usuários podem confiar para executar suas operações financeiras, registros de bens e outras atividades, sabendo que a propriedade sobre os seus ativos digitais é protegida por uma rede descentralizada de usuários ao redor do mundo.
Ultimamente, a tecnologia está vivendo seu momento de maior interesse no mundo do entretenimento. Depois do início de 2021, época das primeiras vendas multimilionárias de obras de arte registradas em blockchain, os setores de artes visuais, música e jogos começaram a testar novas formas de estruturar seus negócios.
Nesses setores, como no de Metaverso, o papel das blockchains é garantir que o usuário detenha posse sobre seus ativos virtuais, como uma música recém-lançada, um item de um jogo online e a identidade em um ambiente virtual.
A ideia não é exatamente nova: ainda em 2017, o projeto de Metaverso Decentraland captou US$ 26 milhões para desenvolver um universo online em que os personagens, terrenos e itens são registrados como NFTs no Ethereum — mesmo ano, inclusive, em que gatinhos virtuais Crypto Kitties foram vendidos por centenas de milhares de dólares.
Mas foi só em 2021 que esses temas finalmente atingiram o grande público. Os CryptoPunks e Bored Apes dominaram o cenário das imagens de perfil, somando US$ 3,6 bilhões em vendas ao longo do ano (NonFungible.com); o jogo Axie Infinity gerou US$ 2,9 bilhões em receitas para seus jogadores (Token Terminal); e Gala, Axie Infinity e The Sandbox, do setor de Metaverso, foram os projetos com maior valorização em todo o universo cripto (Business Insider).
No que se refere aos projetos de Metaverso, em especial, a valorização dos tokens não veio sozinha. O setor atraiu uma enxurrada de projetos de empresas buscando firmar sua presença no novo mundo virtual.
Adidas, Warner, Atari e Samsung são só algumas das empresas que estão construindo no Metaverso. Instituições de negócios mais tradicionais, como a PwC, e até incorporadoras estão adquirindo terrenos virtuais para desenvolver imóveis. Os projetos são geridos por arquitetos de Metaverso, desenvolvedores de jogos e de blockchain, além de outras especialidades.
O que falta para o cripto Metaverso?
Basta olhar para o mapa do Metaverso The Sandbox para saber que o investimento institucional no setor está fervilhando. Mas ainda há chão pela frente.
O repentino interesse do público e das empresas em 2021 resolveu um clássico problema de “ovo e galinha” porque, agora, já se confia que os usuários vão chegar quando a tecnologia estiver pronta. Mas os usuários ainda precisam ser atraídos por experiências de Metaverso realmente atraentes — o que, no estado atual das tecnologias, não é exatamente comum.
Também será preciso contar com dispositivos que ofereçam experiências mais imersivas no universo virtual a custos acessíveis. Facebook (FBOK34), Apple e Microsoft (MSFT34) são algumas das empresas dedicadas ao desenvolvimento de óculos, capacetes e outros eletrônicos com este fim.
Por fim, mas não menos importante, é de se esperar uma adaptação paulatina do usuário a essa nova tecnologia. Ambos os termos “cripto” e “Metaverso” inspiram, além de curiosidade, alguns receios e, às vezes, até aversão. Os empreendedores desse nicho terão de trabalhar, mais do que ninguém, para educar seu público.
*Christian Gazzetta é economista formado pela UFRJ e redator da Hashdex, se dedica a aprender e ensinar sobre cripto desde 2017. Estuda métodos de valoração de criptoativos e os setores de DeFi e NFTs. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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