Eu já ouvi de muitos
investidores estrangeiros que o capital anjo é, provavelmente, o mais
importante para o ecossistema, porque é ele com ele que se inicia a jornada e dá
chance aos fundadores de provarem seu modelo de negócios. Se os investidores
decidem focar somente no venture capital – ou capital mais alto – e deixam de
fazer o investimento anjo, o ecossistema não sobrevive.
Para debater sobre investimento em startups e ecossistemas de inovação, convidei para a minha coluna aqui no InvestNews Rodrigo Monteiro, o general manager do OurCrowd Brazil. OurCrowd é uma das plataformas de venture capital mais importantes do mundo, com sede em Jerusalém e atuação em 5 continentes, além de números impressionantes. São mais de 50.000 investidores, de mais de 65 países, com mais de 220 empresas investidas.
Um dos “exits” mais emblemáticos
do OurCrowd foi o da produtora de carnes a base de plantas Beyond Meat
(NASDAQ:BYND), considerado o melhor IPO da NASDAQ de 2019.
Mas antes vale voltar
alguns passos atrás e falar sobre Israel. Quando os autores israelenses Dan
Senor e Saul Singer escreveram o best-seller “Startup Nation”, em 2009, Israel
passou a ser vista como um dos polos mais importantes de inovação e tecnologia
do mundo, com um ecossistema vibrante e muitos unicórnios, ou decacórnios, por
valerem mais que US$ 10 bilhões, como Waze, Check Point, NICE e Mobileye.
Começo meu papo com
Rodrigo Monteiro perguntando sobre a importância do investimento anjo e sobre o
momento que vive o OurCrowd.
Rodrigo comenta que o investimento anjo é importante pelo dinheiro para que a startup comece a desenvolver seu modelo de negócios, mas, mais ainda, pelo capital intelectual dos investidores com experiência de gestão, contatos e visão de mercado, como se costuma chamar de “smart money”.
Rodrigo conta que o OurCrowd está mais focado no investimento “série A”, que vem após os investimentos anjo e semente, com empresas que já testaram seus produtos ou soluções e já possuem faturamento. Atualmente, o OurCrowd possui mais de US$ 1 bilhão sob gestão, com mais predominância na geografia do Oriente, porém, com planos audaciosos de expansão para o Ocidente, sendo o Brasil um dos destinos de destaque e com foco para aumentar seu dealflow.
Um fator que faz o
OurCrowd se tornar ainda mais especial e visível aos olhos do mundo todo está
na figura carismática de seu CEO e fundador, Jon Medved, um dos nomes mais
importantes da inovação em Israel. Jon nasceu nos Estados Unidos, formou-se em
Berkeley, na Califórnia, e mudou-se logo depois para Jerusalém. Lá, foi sócio
do Israel Seed Partners, um venture capital focado em investimento early-stage
e, com isso, ganhou muita experiência na análise de modelos de negócios
inovadores de startups.
Rodrigo afirma que Jon
Medved passou a ser o grande porta-voz da inovação de Israel para o mundo e que
o papel dele tem sido fundamental para o desenvolvimento do ecossistema de seu
país. Ele ainda diz que Jon o inspira a seguir em busca do que vai acontecer no
futuro e sempre pensar no que pode ser inovador amanhã.

Mas como o Brasil pode
aprender com esse ecossistema vibrante de Israel? Será que o Brasil pode se
tornar uma “Startup Nation”? Rodrigo mostra dados que colocam Israel no topo
dos países que mais investem em pesquisa, com 4,7% de seu PIB. Os Estados
Unidos vêm atrás com 2,7% e a Europa, com 2,1%. Ele ressalta que se o país
investir em educação e em pesquisa, os caminhos se abrem para se tornar um
ecossistema de inovação.
Mas, no caso do Brasil,
Rodrigo mostra que as dimensões continentais do nosso país impossibilitam
qualquer comparação com Israel, pois trata-se de um país com o tamanho de
Sergipe. Para ele, São Paulo pode ser considerado um ecossistema que já decolou
e apresenta solidez. Nos rankings que mostram as principais cidades do mundo
que lideram a inovação, São Paulo já figura entre as 30 primeiras e se olharmos
somente o ecossistema de fintechs, São Paulo já fica entre as cinco.
Por que vale a pena investir em ecossistemas de inovação fora do Brasil?
Decido colocar Rodrigo
contra a parede e perguntar se ele acha que as startups tiveram um papel
pequeno na busca da vacina do covid-19. Ele afirma que sim, porque ainda não há
uma fragmentação de soluções específicas com custos mais baixos para interferir
na cadeia de produção e desenvolvimento das grandes farmacêuticas que dominam o
mundo e isso faz com que as startups fiquem de fora do cenário global.
Rodrigo se mostra
otimista e afirma que esse contexto deve mudar nos próximos anos e as startups
terão cada vez mais participação nas soluções que poderão resolver os grandes
problemas da humanidade, com empresas menores e mais enxutas dominando
segmentos e passando as companhias mais tradicionais. Um exemplo citado por
Rodrigo é a tecnologia CRISPR que é, basicamente, a edição do DNA e possibilita
abaixar os custos de pesquisas, dando espaço a novos entrantes. Mas,
infelizmente, não foi nessa pandemia que vimos uma notícia surpreendente de uma
startup revolucionando algo inédito.
Mas e se Rodrigo tivesse que escolher uma startup que faz parte do ecossistema do OurCrowd, qual ele escolheria? Rodrigo não pensa nem um segundo e cita a Lemonade (NYSE:LMND), um dos melhores IPOs de 2020, da empresa que revolucionou o setor de seguros, fundada em Nova York pelo israelense Daniel Schreiber, que usa inteligência artificial e algoritmos de big data para otimizar os processos de compras de seguros e ações. Além disso, a companhia garante minimizar a volatilidade e maximizar a confiança e o impacto social. Rodrigo diz que mesmo com o mercado reconhecendo que a Lemonade reinventou o setor de seguros, ainda tem muito por vir e que, até agora, só mostraram a ponta do iceberg.
A verdade é que para o
Brasil construir, de fato, um ecossistema de inovação reconhecido mundialmente,
precisamos unir as forças do governo, das empresas e da sociedade. Lições de
sucesso estão ao nosso alcance, como o caso de Israel, do Vale do Silício, da
China.
O ano de 2020, aqui no
Brasil, mostrou que o mercado de startups e empresas inovadoras entraram no
radar de todos os principais investidores e vem crescendo a passos largos. Com
a nossa criatividade, a nossa resiliência e as oportunidades que existem, eu
estou seguro que muito em breve o Brasil passe a ocupar o lugar de Startup
Nation. Você tem alguma dúvida?
PS: Abaixo, as startups que fazem parte do ecossistema do OurCrowd que eu citei na minha pergunta no vídeo. Boa pesquisa!
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