Um novo regime está começando, em que as restrições de produção mais persistentes se traduzem em maior volatilidade macro e de mercado. Esse novo regime exige um novo manual de instruções de investimentos que seja mais dinâmico e em que tanto as estratégias táticas (de curto prazo) quanto as estratégicas (de longo prazo) exijam ajustes mais frequentes em resposta a mudanças cada vez mais rápidas. Esse manual também apresenta visões mais detalhadas dentro dos setores e classes de ativos.
A publicação recente das perspectivas para 2023 da BlackRock considera três temas centrais como indispensáveis no novo manual. O primeiro é medir o prejuízo econômico gerado pelos bancos centrais e, acima de tudo, qual parte dele pode ser percebido nos preços de mercado. Os institutos emissores – em sua ânsia de controlar a inflação – estão propositalmente causando recessões e é improvável que cortem as taxas para amortecer o choque.
Estamos prontos para nos tornarmos mais otimistas à medida que as avaliações se aproximem de refletir os prejuízos econômicos, ou se acreditarmos que os mercados têm clareza suficiente para aumentar o risco de forma sustentável. Mas não veremos isso como o início de mais uma década de alta no mercado de ações e títulos.
Repensar o papel dos títulos em uma carteira de investimentos é o segundo tema central. A renda fixa finalmente está oferecendo retornos atraentes, especialmente no caso de títulos governamentais de curto prazo e títulos corporativos de alta qualidade. No entanto, o novo manual para um novo regime não considera que os títulos governamentais de longo prazo cumpram o papel tradicional de serem um seguro contra correções em ativos de risco, como as ações.
Por fim, o terceiro tema é conviver com a inflação. Embora os aumentos de preços devam ser moderados à medida que os padrões de gastos se normalizem e os preços da energia caiam, é muito provável que a inflação continue acima dos níveis anteriores à pandemia nos próximos anos. É aí que fica mais claro que estamos diante de uma nova era: os fatores mais estruturais por trás da alta da inflação. Primeiro, as populações mais velhas reduzem a força de trabalho e desaceleram o crescimento. Em segundo lugar, em uma nova ordem mundial, a fragmentação geopolítica leva a uma reorganização da globalização e aumenta os custos de produção. Em terceiro lugar, uma transição mais rápida para emissões líquidas de carbono zero levará a ciclos mais acentuados nos preços dos combustíveis.
Mas o que tudo isso significa para os investimentos em 2023? O novo manual de estratégias de investimentos exige mudanças mais frequentes de portfólio e uma perspectiva mais detalhista. Por exemplo, uma sub-ponderação tática em ações de mercados desenvolvidos, pois seus preços não parecem avaliar um futuro que inclua maiores riscos de recessão, mas com alguns setores de ações sendo atraentes devido a características mais defensivas, como a saúde. Por outro lado, em um prazo mais longo, as ações parecem mais atraentes do que a renda fixa. Dentro da renda fixa, taticamente, destaca-se a atratividade dos títulos corporativos com grau de investimento, bem como dos títulos indexados à inflação, em um cenário de maior persistência inflacionária.
*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock. |
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