De acordo com alguns livros de economia, todos queremos maximizar nossos ganhos. Desse modo, isso deveria nos levar naturalmente a criar um portfólio sofisticado de investimentos, reunindo não só aplicações conservadoras, mas também produtos financeiros mais rentáveis, ainda que mais arriscados.
Por outro lado, uma pesquisa nacional com os consumidores dos Estados Unidos, realizada pela da State College of Florida (SCF) em 2019, conta uma história diferente.
O levantamento mostrou como estava a vida financeira dos americanos naquela época, concluindo que, entre os investidores, 53% aplicavam em ações e outros 8% tinham na carteira algum título de dívida ou outro ativo financeiro, mesmo que garantido na quebra do banco ou financeira.
No segundo caso, como resultado, os investimentos rendem 2% a menos por ano. No entanto, mesmo esses investimentos parecendo mais seguros, nunca é uma boa ideia colocar todos os ovos na mesma cesta.
Por se tratarem de investidores americanos, há um risco a mais: o valor das aposentadorias vem caindo no país. Fora que o rendimento no futuro depende de estar empregado hoje – não é possível contribuir como autônomo, como aqui no Brasil. Ou seja, há um forte estímulo para um pouco mais de risco, evitando uma incerteza maior em algumas décadas, quando chegar a hora de parar de trabalhar.
Isso torna ainda mais irracional que um grande número de investidores não siga o comportamento esperado na teoria econômica mais tradicional. E por quê?
Esse foi o ponto de partida de um estudo publicado na edição de novembro da Economic Modelling, revista da editora Elsevier. Os autores formam um grupo um tanto heterogêneo, reunindo dois economistas seniores de bancos europeus, o esloveno Andrej Cupák e o alemão Pirmin Fessler, e Joanne W. Hsu, professora da Universidade do Michigan, nos Estados Unidos, e Piotr R. Paradowski, professor da Gdansk University of Technology, na Polônia.
Estudos anteriores buscaram explicações para as escolhas dos investidores a partir das diferenças de gênero, idade e renda ou na aversão ao risco, entre outros fatores. O trabalho introduziu uma nova ideia: existe uma confiança por parte dos investidores de que eles estão fazendo a coisa certa ao escolher um ativo mais arriscado.
Com dados da pesquisa dos consumidores da SCF, os autores mostram que a diferença nos portfólios pode ser uma questão de conhecimento. A pesquisa trouxe três perguntas básicas: crescimento atual da economia, inflação e juros. Só quatro em cada dez pessoas acertaram as três. E o número de erros nunca ficou abaixo dos 20%.
O resultado mostra a necessidade de se ampliar a educação financeira. Não saber direito o que se passa na economia agora afeta a percepção sobre o futuro, o que, segundo o estudo, parece afetar também a confiança de uma parcela importante das pessoas diante do risco.
Pode fazer sentido diante da falta de informação de momento, mas é um comportamento que torna mais arriscado o futuro dos investidores. Justo o contrário da ideia de investir para o futuro.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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