O mercado brasileiro, assim como a economia, não é dos mais diversificados. Mas tradicionalmente conta com a estabilidade política e econômica para atrair investimentos. Não somos uma ditadura, como a China, nem estamos em guerra com outro país ou somos governados por um autocrata, como a Rússia. Tampouco temos as tensões da convivência difícil com minorias, como a Índia.
Ou seja, apesar dos problemas, o país tem como marca a forma relativamente pacífica de resolver diferenças políticas, reduzindo o risco de investir aqui. É um argumento que por si só pesa contra os eventos violentos em Brasília no domingo (10). O ataque e depredação de símbolos dos Três Poderes pode não ter derrubado o Ibovespa, mas caiu mal entre investidores.
Investidores cada vez mais exigem governos com as contas públicas sob controle, junto com o crescimento da economia. Ameaças à ordem pública aumentam o risco de investir no país. Não bastasse, uma série de estudos demonstra que golpes, mesmo sob o eufemismo de intervenção militar, são ruins para a economia.
O exemplo mais recente é o de Mianmar. Depois do governo eleito do país ter sido derrubado pelos militares no começo de 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 18% no primeiro ano. Em 2022, estima-se que cresceu 3%, longe de se recuperar, enquanto a inflação atingiu 20%. Há escassez de produtos no país, duramente afetado também pela guerra na Ucrânia. A má gestão da economia contribuiu, atrapalhando empreendedores e aumentando as dificuldades.
Não só no país. Em democracias, como a brasileira, golpes bem sucedidos nem sempre levaram a desempenho negativo, como em Mianmar, mas foram seguidos de uma década de crescimento medíocre, entre 1% e 1,3%, segundo estudo de Erik Meyersson, economista e professor do Instituto de Transições Econômicas de Estocolmo, na Suécia.
O trabalho analisa 457 golpes e tentativas de golpe em 94 países ocorridos entre 1950 e 2010. Ao contrário de certa crença de que governantes não eleitos têm mais chances de conduzir reformas econômicas impopulares, conclui que a troca costuma interromper ou reverter reformas, principalmente envolvendo o sistema financeiro, e elevar a dívida pública. Além disso, reduz os programas sociais, elevando a desigualdade.
Golpes são diferentes em democracias e autocracias. Em regimes autoritários, naturalmente violentos, a derrubada do ditador é vista como a passagem do poder de uma mão para a outra, sem grandes efeitos econômicos. Na democracia, mesmo a tentativa de golpe é um sinal de que as instituições não estão funcionando, por isso, produz um impacto maior.
Mas, por incrível que pareça, há um lado positivo. Regimes democráticos que sobrevivem a uma tentativa de golpe costumam crescer mais forte do que aqueles que sucumbem. Sinal de que as instituições, mesmo abaladas, oferecem menos risco.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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