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Coluna do Samy

Quanto custa uma ação? Uma discussão sobre como são formados os preços

Para estudiosos, preços muitas vezes representam apenas um acordo resultante da discordância entre comprador e vendedor.

Imagine que você queira vender uma bicicleta com uma certa qualidade e por isso coloque um preço de R$ 600. Mas então vem uma oferta mais baixa, de R$ 400, que você considera muito baixa. Diz isso ao comprador, que aceita subir a R$ 500. Ainda não é o que você queria, mas o preço está mais perto da pedida inicial e ambos fecham negócio.

É comum a partir disso pensar que o preço da bicicleta é de R$ 500, já que, para muitas pessoas, os preços são definidos por oferta e demanda. Com menos bicicletas à venda no mercado ou, por exemplo, menos pessoas determinadas a vender ações ou qualquer outro ativo, a escassez eleva o valor a ser pago. Quando é o contrário, mais oferta do que pessoas interessadas em vender, os preços naturalmente sobem.

Mas um artigo curioso, publicado no site The Conversation, acrescenta algumas camadas à discussão. Na verdade, como apontam os autores, os matemáticos Ittay Weiss e Samuel Lloyd-Lindholm, ambos são ligados à Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, Weiss como professor e Lloyd-Lindholm como aluno da pós-graduação, preços muitas vezes representam apenas um acordo resultante da discordância entre comprador e vendedor, sem representar o valor do bem em si.

Voltando ao caso da bicicleta, o artigo sugere que haveria dois preços, R$ 400 e R$ 600, sobre os quais comprador e vendedor discordam. Os R$ 500 seriam uma forma de chegar a um ponto em comum, sem que as duas partes necessariamente o considerem o valor real.

Pode ser que o vendedor precisasse do dinheiro com certa urgência, abrindo mão da diferença para fechar negócio, mas no futuro, caso tenha de negociar outra bicicleta – ou ações, etc – não aceite vender por menos de R$ 600. Ou que o comprador, no futuro, tendo mais dinheiro disponível, faça uma oferta mais alta. O que leva o artigo a sugerir que em casos assim o mais correto é dizer que o preço é algo entre R$ 400 e R$ 600.

O mesmo vale para uma ação. O preço em um momento de queda, como nas últimas semanas na B3, não necessariamente reflete expectativa de lucros ou valor patrimonial da empresa, para ficar em dois critérios. Mas também pode resultar, por exemplo, da decisão do gestor de liquidar o papel com prejuízo para ter liquidez ou abater impostos do lucro de outra operação, sem relação com fundamentos. Mas nada impede que no mesmo dia ou nas semanas seguintes o papel esteja bem mais caro ou mais barato, como investidores estão acostumados a ver.

Se pensarmos em um produto comprado na loja ou em um site, o preço também não reflete uma lógica perfeita. A margem de lucro de uma roupa pode variar se estiver ou não na moda. Um livro recém-lançado desperta maior interesse e certamente custará mais do que quando tiver menos leitores. Depois de um tempo, não é incomum que a editora venda até abaixo do custo de produção.

Preços flutuam e são propensos a fenômenos externos ao mercado, como bolhas. Os dois autores os definem, por isso, como “fantasmas” e lembram as experiências do matemático francês Louis Bachelier mais de um século atrás em tentar usar a física de partículas para analisar preços, dando início a um campo que junta as duas ciências, a econofísica.

No fim, acabam admitindo que ainda não existe um método capaz de fixá-los com perfeição, mas que, quando for descoberto, vai moldar a economia no futuro.

Falando em perfeição, que 2023 seja o melhor possível. E com bons negócios para todos.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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