O mercado errou o Produto Interno Bruno (PIB)
de 2022. Em janeiro, o Boletim Focus, com a média das opiniões do mercado,
projetava alta de desanimadores 0,29% do indicador. Porém, a última projeção do
governo aponta que será de 2,7%.

A diferença de 2,41% entre um índice e
outro já é grande por si só. Mas em termos percentuais, é gritante. Significa
que hoje as projeções dos economistas estão 831% maiores do que apenas oito
meses atrás. Disparidade que levou o ministro Paulo Guedes, da Economia, a
reclamar do mercado, que, segundo ele, anda pessimista demais e não vê os
efeitos positivos de ações do governo. 

O curioso é que antes o mercado errava para
mais. No começo de 2019, primeiro ano do governo, as projeções eram de um
crescimento da economia de 2,5%. Mais do que o dobro da alta registrada no fim
do ano, de 1,2%. Ocorreu quase o mesmo em 2018, com projeções de 2,3% e
realidade de 1,1%. Mas em 2017 foi o contrário. Em julho, se projetava alta
quase simbólica, de 0,4%. Foi de 1,1%. Ou seja, 175% acima do projetado.

Projeção é momento. Logo em fevereiro,
eclodiu a guerra na Ucrânia. A China continuou aplicando lockdowns na
população, afetando as empresas exportadoras. E, conforme as eleições se
aproximavam, o governo aumentou gastos. Os juros seguiam subindo em patamar
estratosférico de 13,5%, com a inflação acima dos 10%. Análises cautelosas
nesse cenário, o que prevalece são motivos suficientes para cautela nas
previsões.

Mas o setor de serviços, que compõe 70% da
economia, surpreendeu, crescendo acima das expectativas, levando junto o PIB.
As projeções se adaptaram à mudança surpresa do cenário, incorporando os novos
dados. Mudam os cenários, mudam as previsões. Mas isso explica tudo?

No livro A crisis of beliefs: Investor psychology and
financial fragility,  Nicola Gennaioli e
Andrei Shleifer, economistas e professores de Princeton, dizem que não. O livro
recupera a famosa falência do banco Lehman Brothers, em 2008, para demonstrar
que nossa percepção dos fatos econômicos também pode estar absurdamente errada.

Era agosto, o Federal Reserve (Fed) e o
mercado financeiro viam solidez na economia. Decretavam que o pior havia
passado. Seis semanas depois, veio a falência do banco, mergulhando os Estados
Unidos em um turbilhão financeiro. Como foi possível que analistas de risco, investidores,
economistas e autoridades experientes e competentes tenham falhado tanto?

Culpa, como Gennaioli e Shleifer demonstram, da famigerada
maldição do especialista. Quando as pessoas são inexperientes em uma tarefa,
tendem a ficar atentas aos detalhes com medo de fazer alguma coisa errada. Mas
o tempo passa, a tarefa não é mais novidade e, experientes, as pessoas algumas
vezes dão menos atenção aos mesmos detalhes que as obcecavam antes. Se são
detalhes importantes, explicam as diferenças gritantes.

Também há alguma culpa no Fear of missing ou (FOMO), a conhecida sigla em inglês, para o desejo de não ficar de fora de algo importante que está acontecendo. Economistas, como qualquer humano, se sentem desconfortáveis quando destoam muito dos outros. Há uma tendência a buscar a média das projeções.

Com dados econômicos, o problema é que projeções podem
influenciar decisões de investimento, entre outras. Como tê-las menos voláteis?

A proposta de Gennaioli e Shleifer é interessante. Os dois gigantes da psiconomia defendem que a possibilidade de erros e exageros sejam incorporadas às projeções, dando um desconto para o efeito das emoções. Seria introduzir a irracionalidade nos grandes números da economia. Ou pelo menos reconhecer a irracionalidade das previsões.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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