Quem acompanha as últimas notícias da indústria automotiva já poderia imaginar que 2021 não seria fácil para as montadoras.
Afinal de contas, dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores) indicou queda de 32% na produção de veículos no Brasil em comparação aos resultados de 2019, quando o mundo não vivia a pandemia do coronavírus.
Só que o cenário praticamente não melhorou neste ano. Até novembro de 2021, a venda de automóveis de passeio e comerciais leves apresentava uma discreta melhora de 5,4% frente ao mesmo período de 2020, quando o setor automotivo vivia um momento muito mais crítico por conta do covid-19.
No 11º mês de 2021, o resultado foi o pior dos últimos 16 anos, registrando apenas 173 mil veículos licenciados. Frente ao mesmo mês de 2020, a queda foi de expressivos 23,1%, ou 52 mil unidades a menos. Os números impressionam ainda mais considerando que 242 mil veículos foram licenciados em novembro de 2019.
Preços dos usados explodiram e não devem parar de subir
A escassez na produção de veículos novos também causou efeitos nos preços dos carros usados. Segundo um levantamento realizado pela KBB Brasil com base em números de outubro de 2021, os valores tiveram alta média de 19% no ano.
A situação foi ainda pior nos modelos fabricados em 2012, cuja alta nos valores chegou a 19,9% de janeiro a outubro deste ano.
“Entre os seminovos, quem mais puxou a alta nos preços foram os veículos na casa dos 3 anos de uso, ano modelo 2018, que oscilaram em 2,36% em média no mês passado. A variação média dos carros seminovos está perto dos 13%, contando o período de janeiro deste ano até hoje”, detalha a KBB Brasil.
Segundo o levantamento, os carros seminovos tiveram variação de 1,67% no 10º mês do ano, enquanto os usados mais velhos subiram 2,21%, em média.
Para piorar, os valores não devem parar de subir enquanto a produção de veículos novos não for normalizada. Isso acontece porque a demanda ainda é maior do que a oferta, já que as fábricas estão (muito) longe de operarem no limite de suas capacidades produtivas.
SUVs vivem melhor fase da história
Se serve de alento, nem só de notícias ruins vive a indústria nacional. O ano de 2021 viu a ascensão expressiva dos utilitários esportivos – ou SUVs, como preferir.
“Dentro do universo de automóveis, vale uma ressalva para a evolução de vendas dos SUVs, que cresceram 30% sobre o ano passado e em novembro representaram impressionantes 45,5% do total de carros de passeio”, destacou Luiz Carlos, da Anfavea.
Cenário deve melhorar só no fim de 2022
Com tudo isso, a indústria automotiva caminha para mais um ano de crise. Os motivos são os mesmos de 2020, sobretudo pela crise dos semicondutores que também segue atormentando diversos setores da economia.
“Temos muitos veículos incompletos nos pátios das fábricas, à espera de componentes eletrônicos. Esperamos que eles possam ser completados neste mês, amenizando um pouco as filas de espera nessa virada de ano”, declarou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.
O executivo acrescentou que a expectativa para o próximo ano é de uma melhora gradual no fornecimento de semicondutores. Projeções feitas pela própria associação indicam que a situação só deve ser normalizada no final do ano que vem. Até lá, o setor deve se preparar para mais uma leva de notícias ruins.
*Vitor Matsubara é jornalista automotivo e editor do Primeira Marcha. Tem passagens por Quatro Rodas, de 2008 a 2018, e UOL Carros, de 2018 a 2020. |
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