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Dias de recessão nos Estados Unidos?

Atuais dados apontam para uma desaceleração evidente, mas a economia americana continua se mostrando robusta; entenda.

Axel Christensen

O foco da atenção dos mercados financeiros foi se movendo da preocupação com a inflação para a inquietação de que a economia global caia em uma recessão. Esses temores foram reforçados quando veio a público a contração da atividade econômica dos Estados Unidos durante o segundo trimestre de 2022, que somado à queda registrada no trimestre anterior, coloca o país em uma recessão técnica. 

Mas isso é o suficiente para declarar o começo de uma recessão? Considerando o quanto o contexto atual da economia mundial é incomum, tendo sido atacada nos últimos anos por uma pandemia de grandes proporções, vale a pena pensar mais sobre o tema. Com certeza os números apontam para uma desaceleração evidente. O colapso dos fluxos de inventário é um sinal claro de que produtos sem saída foram acumulados. A queda do investimento residencial reflete uma menor atividade na construção, afetada pelos aumentos de preços dos materiais e pelo encarecimento do financiamento que pressupõe o aumento das taxas de juros de hipotecas.  

Porém, há vários sinais que indicam que a economia continua se mostrando bastante robusta. O impacto do consumidor dos Estados Unidos aumentou em 1%, com preferência maior por serviços, como transporte aéreo, hotéis e restaurantes, na comparação por produtos, sinalizando uma mudança de comportamento conforme as restrições da pandemia ficam para trás. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho continua bem forte, com vários setores ainda demonstrando dificuldades em achar trabalhadores e, mais importante ainda, com aumentos de salário relevantes, mesmo que abaixo da inflação. 

No entanto, um sistema de medição mais amplo da recessão, que não se baseia apenas em variações do PIB, ainda não confirma que os “dias de recessão” tenham começado nos Estados Unidos, ainda que alguns indicadores realmente estejam em níveis característicos dessa etapa do ciclo econômico. O que ainda está faltando, e que era uma característica de recessões anteriores, são sinais claros de deterioração de indicadores trabalhistas como emprego e rendas pessoais, bem como uma maior fragilidade na disponibilidade de crédito bancário, que por enquanto também não tiveram variações significativas.

Ainda que os números não deixem evidente se estamos entrando em uma recessão nos Estados Unidos, os mercados parecem ter se antecipado a essa possibilidade. As estimativas das taxas de juros se ajustaram à baixa, antecipando que em breve o Fed (Federal Reserve) terá que fazer cortes na taxa de juros que atualmente estão em alta, para forçar a inflação a parar. Diante disso, os mercados de ações reagiram favoravelmente, interpretando que a preocupação maior com uma eventual recessão pode ser exatamente o que irá moderar as altas do Fed e que, precisamente, são as que fazem com que a economia se retraia.

Apesar dessa mudança de sentimento, é importante manter um pouco de cautela e ainda é sensato sub-ponderar as ações dos Estados Unidos. A guerra contra a inflação ainda não está ganha e há várias nuvens de tempestade no panorama mundial, como o impacto da guerra na Ucrânia sobre a Europa ou a política diante de novos surtos de covid-19 na China, são riscos que podem afetar os fatores que ainda se mostram resistentes. É possível que os “dias de recessão” ainda não tenham chegado aos Estados Unidos, mas eles podem estar mais próximos do que os mercados acreditam hoje. 

*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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