Apesar de o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) de abril ter vindo acima do esperado pelo mercado, especialistas veem sinais de desaceleração da atividade nos próximos meses. Entre os principais fatores citados estão os efeitos o patamar elevado da Selic e um crescimento desigual entre os setores da economia.
Dados divulgados nesta sexta-feira (16) pelo Banco Central mostraram que o IBC-Br, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), subiu 0,56% em abril, na série livre de efeitos sazonais. Em março, a queda havia sido de 0,14%, em dado atualizado. O índice ficou em 148,33 pontos, o melhor resultado desde dezembro de 2013.
O dado do IBC-Br ficou acima da mediana das expectativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de estabilidade. O intervalo ia de queda de 1,5% a alta de 1,3%.
Em relatório, o Banco Fibra avaliou que os números mostram que a economia “segue resiliente”, mas ponderou que “a recuperação é concentrada em poucos segmentos, com destaque para o bom desempenho do setor agropecuário e perspectiva de safra recorde neste ano”, enquanto “a indústria dá sinais de desaceleração acentuada” e o “setor de serviços, por sua vez, dá sinais em ambas as direções”.
Na mesma linha, especialistas do Goldman Sachs destacaram que “as séries dessazonalizadas de diversos indicadores de atividade real têm sido altamente
voláteis”. Em relatório, eles destacaram que a economia deve seguir se beneficiando de fatores como estímulos fiscais, expansão da massa salarial e produção agrícola, mas outros fatores devem “gerar ventos contrários à atividade após o 1º trimestre de 2023”.
Entre eles, o Goldman Sachs cita a perda de força do impulso da reabertura econômica, condições monetárias e financeiras domésticas apertadas, elevados níveis de endividamento das famílias, criação moderada de emprego, consumo moderado, confiança empresarial e a incipiente recuperação do ciclo de crédito.
De maneira semelhante, o Banco Fibra vê resultados mais fracos nos próximos meses. “Em nossa avaliação, a atividade econômica entrará em trajetória mais nítida de desaceleração em meados do 2º trimestre de 2023 após desempenho melhor do que o esperado no 1º trimestre”.
Em nota, Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero, também comentou que “a demanda das famílias, diante da perda de dinamismo da renda e da massa de renda do trabalho, alinhada ao contexto de menor concessão de crédito e inadimplência elevada, tende a limitar o desempenho da economia”.
Mas ele cita fatores que podem ajudar a reverter as perspectivas de desaceleração econômica, como o esperado início do corte da Selic. “Por outro lado, o panorama macroeconômico doméstico mais positivo, diante da dissipação de riscos estruturais relevantes com a aprovação do novo arcabouço fiscal, contribui para a ancoragem das expectativas inflacionárias que, por sua vez, permite que o Banco Central inicie o ciclo de cortes da Selic em breve e propulse a atividade”.
- Descubra: o que é uma empresa offshore?
Veja também
- PIB cresce 0,9% no 3º tri, impulsionado por forte consumo dos brasileiros e pelo setor de serviços
- PIB dos EUA cresce 2,8% no 3º trimestre impulsionado por gastos de defesa e consumo
- Crescimento do PIB da América Latina deve desacelerar para 1,9% em 2024, afirma Banco Mundial
- Dívida bruta do Brasil deve estabilizar em cerca de 81% do PIB em 2028, diz chefe do Tesouro
- Equipe econômica vê alta do PIB de 2024 se aproximar de 3% e cita incerteza e risco inflacionário