A Argentina está considerando a introdução de um regime de taxa de câmbio administrada — um “float sujo”, em que os preços são determinados pelo mercado, mas com intervenções pontuais do Banco Central — após a eliminação dos atuais controles de câmbio em 2025.
Nossos vizinhos restringiram operações de câmbio e mercado de capitais nos últimos cinco anos, obrigando exportadores a vender seus dólares. Os controles também impedem empresas de enviar dividendos ao exterior e limitam a compra de moeda estrangeira por pessoas físicas.
O presidente Javier Milei e o ministro da Economia, Luis Caputo, comprometeram-se a eliminar esses controles cambiais no próximo ano, mas ainda não ofereceram detalhes sobre o regime de moeda que será aplicado posteriormente. Porém, dois formuladores de políticas — Federico Furiase, diretor do banco central argentino, e Martín Vauthier, conselheiro de Caputo — revelaram contornos do plano durante uma apresentação na Universidade Torcuato Di Tella, em Buenos Aires.
“Já desenhamos [o plano], mas não podemos revelar muitos detalhes”, disse Furiase, referindo-se à política cambial, segundo um webcast publicado na sexta-feira (13) à noite. “Claramente, a Argentina precisa ter volatilidade cambial limitada”. Furiase acrescentou que outros países conseguiram reduzir a inflação com “um float administrado que controla a volatilidade cambial”.
LEIA MAIS: Os argentinos não amam mais o dólar, graças a Milei
O Banco Central da Argentina e o Ministério da Economia não responderam imediatamente a um pedido de comentário.
A Argentina teve resultados mistos com taxas de câmbio flutuantes administradas no passado. O próprio Caputo foi chefe do banco central argentino em 2018 e interveio nos mercados para sustentar o peso, uma estratégia que se tornou insustentável.
O pré-requisito para levantar os controles cambiais é capitalizar o banco central, disse Furiase. Outras condições, como reduzir o excesso de pesos detidos em títulos do Tesouro, também devem ser atendidas para evitar tensões econômicas durante a transição, afirmou.
A maioria das restrições comerciais já foi flexibilizada, segundo Vauthier, embora os exportadores argentinos ainda sejam obrigados a vender 80% de seus ganhos em moeda estrangeira no mercado à vista oficial e o restante nos mercados de capitais. As regulações financeiras serão eliminadas gradualmente, disse.
Para auxiliar na transição, o governo planeja continuar limitando a quantidade de dinheiro em circulação, o que supostamente forçará os detentores de dólares a trocar suas reservas em moeda americana pelo peso. A abordagem tem fortalecido o peso e permitido que o banco central compre dólares.
© 2024 Bloomberg L.P.
Veja também
- Por que o projeto da mina de lítio da Rio Tinto de US$ 2,5 bi é uma vitória para Milei
- Os argentinos não amam mais o dólar, graças a Milei
- Produção de petróleo da Argentina deve tirar Colômbia do pódio na América Latina
- BC da Argentina reduz taxa básica de juros para 32% ao ano
- Exportação do Brasil para Argentina cai 25% no ano em meio ao ajuste de Milei