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Economia

Ata do Copom aponta para divergência quanto sinalização de corte na Selic

Parte do grupo do Comitê segue com maior cautela à espera de um cenário de inflação mais benigno.

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira (27), sinalizou divergência a respeito dos próximos passos a serem dados pelo colegiado nas reuniões à frente.

Apesar da opinião predominante ser de que haveria confiança suficiente, a partir dos últimos dados, para um sinal de “um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião” – desde que um cenário de inflação mais benigno se consolide -, outro grupo, mais cauteloso, enfatizou que a dinâmica desinflacionária ainda reflete o recuo de componentes voláteis e que a incerteza sobre o hiato do produto gera dúvida sobre o impacto do aperto monetário já implementado.

“Para esse grupo, é necessário observar maior reancoragem das expectativas longas e acumular mais evidências de desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo”

Ata do Copom

Segundo a Levante Investimentos, o comunicado frustrou as expectativas de muitos investidores, por não trazer nenhuma indicação de quando os juros podem começar a cair. “A Ata divulgada nesta terça trouxe várias indicações do porquê de o Copom ter publicado um texto tão austero”.

Prédio do Banco Central em Brasília 29/10/2019 REUTERS/Adriano Machado

O documento reafirmou que os membros do Comitê foram unânimes em concordar que os passos futuros dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica; das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo; de suas projeções de inflação; do hiato do produto e do balanço de riscos.

“No entanto, se há divergência sobre a doença inflacionária na economia, não há
dúvidas sobre o tratamento”, reitera a Levante.

Na reunião da semana passada, o BC decidiu deixar inalterada a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, mantendo um tom duro ao avaliar o processo de desinflação no Brasil, frustrando o mercado ao não indicar intenção de cortar juros em agosto e provocando novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Porém, o Comitê unanimemente avalia que flexibilizações do grau de aperto monetário exigem confiança na trajetória do processo de desinflação, “uma vez que flexibilizações prematuras podem ensejar reacelerações do processo inflacionário e, consequentemente, levar a uma reversão do próprio processo de relaxamento monetário”, conforme aponta trecho da carta.

“A materialização desse tipo de cenário pode impactar negativamente não apenas a credibilidade da política monetária, mas também as condições financeiras.”

O BC também debateu a resiliência da atividade econômica no primeiro trimestre, mas segue com a visão de que o crescimento foi puxado pelo setor agropecuário e que os demais setores devem apresentar crescimento modesto ao longo do ano.

Colheitadeiras coletam soja em lavouras em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso, Brasil 18/03/2004. REUTERS/Paulo Whitaker

“Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, aponta outro trecho da carta.

Segundo Ricardo Schweitzer, CEO da consultoria Ricardo Schweitzer, a ata evidencia que houve dissenso sobre sinalizar ou não o início do ciclo de quedas a partir de agosto, o que em sua visão, é o “menos importante”.

“Ainda prevaleceu a postura mais cautelosa, mas a inclinação de parte do colegiado corrobora fortemente a visão do mercado de que as condições para início do ciclo estão praticamente dadas”.

Ricardo Schweitzer

Já do lado “mais importante”, Schweitzer aponta que o Copom manda um recado para o governo, que vem sistematicamente atacando o trabalho do comitê e questionando, inclusive, a meta de inflação. “É difícil, senão impossível, alinhar as expectativas do mercado em torno de uma meta que até mesmo o presidente questiona sistematicamente”.

Haddad cita ‘harmonização’ em ata

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça que a ata mostra que o governo está no “caminho certo”, com a “harmonização” entre as políticas fiscal e monetária podendo acontecer em breve.

Falando a jornalistas em Brasília, Haddad disse ainda que a sinalização pelo BC de que os esforços fiscais do governo ofereceram resultados é “importante”, citando “consenso” sobre os próximos passos da autarquia na condução da política monetária.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad 02/05/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino

Também nesta terça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o patamar atual da taxa Selic em 13,75% e responsabilizar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao mencioná-lo como “um cidadão que a gente não sabe quem pôs ele lá”.

IPCA-15

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, ficou em 0,04% em junho. O dado mostra uma desaceleração em relação a maio, quando o índice ficou em 0,51%, e pode colaborar para uma possível queda de juros.

A Levante Investimentos avalia que a baixa do IPCA-15 de junho não deve contribuir para alterar o quadro apontado pelo Banco Central na ata divulgada hoje.

(*Com informações da Reuters)

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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