A decisão do Federal Reserve (Fed) em dezembro de deixar suas compras mensais de títulos inalteradas desanimou analistas e investidores que consideraram que o banco central dos Estados Unidos deveria ter expandido o programa para apoiar melhor a economia durante a pandemia do coronavírus.
A ata dessa reunião será divulgada nesta quarta-feira e provavelmente detalhará o que motivou essa decisão e como o Fed está incorporando a promessa de uma vacina contra o coronavírus em seus planos.
O ponto de maior interesse do mercado será qualquer avaliação que o documento possa trazer sobre o que seria necessário para os membros do Fomc mudarem a política monetária nos próximos meses caso a imunização generalizada desencadeie uma recuperação econômica mais forte.
A ata será divulgada às 16h (horário de Brasília), e autoridades do Fed nos últimos dias já começaram a esboçar a próxima fase de seu debate – discussão que provavelmente dependerá do sucesso do país em aplicar vacinas de coronavírus para seus 330 milhões de habitantes.
“Quanto mais rápido tivermos isso sob controle, mais robusta será a recuperação”, disse o presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, em entrevista à Reuters nesta semana.
O Fed disse em dezembro que manterá as compras de títulos “até que um progresso substancial seja feito” no sentido de retornar a economia ao pleno emprego e elevar a inflação para a meta de 2%. Bostic disse sentir que essa condição pode ser satisfeita “em pouco tempo” neste ano se a vacinação for bem-sucedida.
A ata deve trazer uma ideia de como o Fed vê essa meta de maneira ampla.
A presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, no entanto, disse que mesmo a melhora na taxa de desemprego dificilmente justificará quaisquer mudanças no programa de títulos neste ano.
“Estou feliz com a forma como a política monetária está sendo calibrada agora. Mas, novamente, realmente vai depender da economia”, disse Mester na terça-feira.
Ainda assim, não está claro quão rápido a vacina permitirá um retorno do comércio à normalidade – especialmente considerando que o progresso na vacinação tem sido mais lento do que o esperado – ou se levará o Fed a mudar suas compras de ativos.
A decisão sobre quando restringir o programa e como fazer esse anúncio tem consequências: um passo em falso, mesmo dizer a coisa errada na hora errada, pode levar a taxa de juros a subir e consumidores e empresas a reduzirem gastos e empréstimos.
O risco desse tipo de “tantrum” com os mercados saindo de um ano de pandemia significa que a compra de títulos pelo Fed permanecerá em modo espera durante o ano, escreveram analistas da Cornerstone Macro nesta semana.
No mercado financeiro, “tantrum” é um termo usado em referência a uma violenta reação de investidores a mudanças em condições de liquidez e de estímulos. O episódio mais famoso, que ficou conhecido como “taper tantrum”, é de maio de 2013, quando os yields dos Treasuries dispararam após o Fed sinalizar redução de estímulos.