A economia em ritmo mais acelerado e novos riscos à inflação relativos à crise hídrica começam a guiar mais analistas a projeções de Selic de pelo menos 6% ao fim deste ano, o que indica que nos próximos meses o Banco Central teria de abandonar o discurso de normalização “parcial” da política monetária.
O Bank of America revisou sua projeção para 6%, ante 5%. A Quantitas passou a ver taxa terminal de 7,5%, 1 ponto percentual acima da previsão anterior, o que sugere um juro na mesma magnitude acima da taxa neutra. Ao fim de 2022, o Bradesco vê a taxa básica em 6,5%, depois de ajustar a estimativa para fim de 2021 de 5,25% para 5,75%.
Essas mais recentes revisões foram divulgadas depois de dados mostrarem na terça-feira (1º) que a economia brasileira superou expectativas ao crescer 1,2% no primeiro trimestre sobre os três meses imediatamente anteriores.
A alta das expectativas de inflação também tem motivado as mudanças, e esse componente ganhou reforço adicional nos últimos dias com o encarecimento da energia elétrica (pelo acionamento da bandeira vermelha 2) a partir de uma crise hidrológica decorrente do baixo patamar dos reservatórios no Centro-Sul.
Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas, justifica a revisão do cenário para a Selic a partir de uma inflação “mais salgada” para 2022, de 4,2%, acima da meta de 3,5%. Ele disse ainda que os números do PIB surpreenderam para cima, o que deve levar ao fechamento do hiato do produto (indicador que mensura oscilações da economia) entre o final deste ano e início do ano que vem.
“Somado à demanda reprimida pós-vacinação e a uma inflação mais puxada (inclusive em serviços), achamos mais consistente elevar a Selic final de 6,5% para 7,5%, 100 pontos-base acima da taxa de juros neutra”, disse, prevendo taxa de 6,5% ao fim deste ano e aumento de 1 ponto percentual no começo de 2022.
Citando pressões de preços “mais persistentes” do que o inicialmente esperado, o BofA passou a ver Selic de 6% neste ano.
Para analistas do banco privado, o Banco Central terá de adiantar o ciclo de aperto monetário para debelar uma inflação acima da meta para 2021 e evitar que os preços correntes e as estimativas de inflação mais elevadas desancorem as expectativas de médio prazo. O BofA agora vê o juro em 6% em 2022, ante 5,75% da projeção anterior.
A expectativa de inflação para 2022 já está em 3,68%, conforme a pesquisa Focus do Banco Central, em alta pela terceira semana consecutiva e distanciando-se da meta de 3,5%.
“O desafio da política monetária será o de manter as expectativas de inflação de 2022 ancoradas, diante de um ajuste ainda parcial. A Selic deve encerrar em patamar mais elevado do que em nosso cenário anterior, 5,75% contra 5,25%. Para 2022 esperamos que Selic chegue a 6,5%”, disse o Bradesco em nota.
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