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Economia

Campos Neto no Senado: ‘mercado de capitais não é coisa de Faria Lima’

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou de uma audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para dar explicações sobre a manutenção da taxa básica de juros.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu nesta terça-feira (25) o crescimento do mercado de capitais e disse que foram feitas muitas medidas para estimular o mercado — e que este reagiu de maneira saudável.

As declarações foram feitas durante uma audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para dar explicações sobre a manutenção da taxa básica de juros. Desde agosto, a Selic se encontra em 13,75% ao ano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito uma série de críticas ao Banco Central, sob o argumento de que o elevado nível de juros no país contrai excessivamente a atividade econômica e pode resultar em uma crise de crédito.

“As pessoas falam: o mercado de capitais é coisa da Faria Lima. Mas não é. Quando o mercado de capitais cresce, a empresa não vai mais no banco, ela vai no mercado de capitais. Se a grande empresa vai para o mercado de capital, sobra espaço no balanço dos bancos para fazer outras coisas, por que eles não vão competir mais com a taxa de mercado de capitais e passam a dar crédito para as pequenas e médias empresas além de fazer programas de microcrédito e cooperativismo”.

ROBERTO CAMPOS NETO, NO SENADO

O presidente do BC disse que é preciso melhorar o mercado de capitais e ter credibilidade para sair do círculo vicioso de crédito subsidiado. “Quando há muito crédito subsidiado, a taxa de juros neutra se mexe e se eu tenho menos subsídio a taxa [neutra] cai”, disse.

Presidente do BC, Roberto Campos Neto REUTERS/Adriano Machado

Campos Neto ainda explicou no Senado como funciona o regime de metas para a inflação, como elas são determinadas, a importância da autonomia do BC, por que as taxas de juros no Brasil são como elas são, entre outros pontos.

“As vezes escuto: o BC nunca bate a meta [da inflação]… então eu fiz uma comparação em quantas vezes os países estouraram a meta. E não é verdade que o Brasil é o país que menos bate a meta. Entre os países emergentes, o Brasil é o que mais está na média do cumprimento da meta”.

Autonomia do Banco Central

O presidente Lula vem questionando a independência do Banco Central. No começo do ano, Lula disse que era uma bobagem e que a atual meta da inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) atrapalha o crescimento da economia.

No Senado, Campos Neto defendeu a autonomia do Banco Central e disse que quanto mais autonomia, menos inflação um país tem. “Os países que têm mais autonomia, têm menos inflação e menor volatilidade no indicador”. O mandatário deu como exemplo Peru, Chile e Colômbia que têm bancos centrais autônomos.

Já como exemplo de países que não têm autonomia em seus bancos centrais, Campos Neto citou a Argentina e a Turquia. “Ambos os países estão com uma moeda depreciada, inflação acima de 80% e empobrecimento da população”.

O presidente do BC explicou também que o país estaria hoje com uma inflação acima de 10% caso não tivesse aumentado os juros de forma rápida e inclusive em ano eleitoral.

“Estamos com um juros compatível, ter atuado antes funcionou para conter a inflação, e precisamos ver os próximos acontecimentos para tomar decisões técnicas”.

Segundo Campos Neto, o combate da inflação é o melhor instrumento social para combate a pobreza, uma vez que os mais carentes não têm o reajuste necessário da sua renda. “A inflação é o imposto mais perverso que existe e que prejudica os pobres”.

No entanto, o presidente do BC defendeu que o atual nível de juros no país é compatível com o problema inflacionário corrente.

Por que os juros são tão altos no Brasil?

O presidente da autarquia disse que o processo de redução de juros no Brasil é técnico, leva tempo e depende de diversas variáveis analisadas pela autarquia.

A dívida bruta do país também foi destacada como um empecilho, uma vez que é maior do que a média de outros países, o que reflete nas taxas de juros e no prêmio de risco futuro do Brasil.

“O risco do Brasil é maior que muitos países, e isso afeta na taxa de juros. Mas apesar de a dívida pública daqui ser maior do que a média internacional, ela não é explosiva”.

Campos Neto disse ser necessário que as contas públicas estejam “arrumadas para que país consiga ter crescimento sustentado no médio e longo prazos com controle da inflação”.

“É muito importante a gente entender que não tem mágica no fiscal e, infelizmente, nem bala de prata. Se não tiver as contas públicas em dia e nem regime de disciplina fiscal, a gente não consegue melhorar”.

O mandatário ainda explicou como funciona o mecanismo da subida dos juros pelo Banco Central. “O Banco Central vai lá, sobe o juros, isso acaba contendo o crédito, essa diminuição do crédito causa uma desaceleração que faz com que a inflação caia. E isso nós chamamos de potência de política monetária”, disse. “E se fizermos o trabalho de conter a inflação, podemos conter a taxa de juros”.

Campos Neto destacou ainda que ao longo dos últimos anos a taxa de juros real tem diminuído, apesar de ser verdade que o Brasil tem hoje a maior taxa real entre outros países. “Mas ela está abaixo da média referencial do ano passado. E em anos anteriores, ela era muito mais alta do que está agora”.

Arcabouço Fiscal

Segundo o mandatário, o BC entende que o arcabouço remove o risco de ter uma trajetória de alta grande na dívida. Mas que não tem relação mecânica com o processo de corte de juros pelo Banco Central.

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