O presidente do Banco Central Roberto Campos Neto afirmou nesta sexta-feira (18) que vai persistir nos esforços para combater a inflação, mesmo num ambiente de várias incertezas, uma vez que o novo governo avança planos de aumentar gastos públicos no próximo ano.
Segundo ele, a autoridade fará “o que for preciso” para cumprir seu mandato de inflação, disse Campos Neto em um evento da Bloomberg em São Paulo. É muito cedo para comemorar as recentes vitórias da inflação, e o Brasil ainda não está fora de perigo em termos de domar os aumentos de preços, disse ele.
Campos Neto liderou um dos primeiros e mais agressivos apertos nas taxas de juros do mundo e aumentou a Selic em 11,75 pontos percentuais desde março de 2021. O BC interrompeu o aperto em setembro, quando os cortes de impostos e os efeitos dos aumentos das taxas aceleraram a maior desaceleração da inflação entre as principais economias globais. Agora, os investidores temem que o alívio possa durar pouco, já que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promete um aumento nos gastos públicos.
A equipe de Lula quer que R$ 175 bilhões em gastos sociais sejam excluídos indefinidamente da principal regra fiscal do país, um teto de gastos que limita o crescimento dos gastos públicos à taxa de inflação do ano anterior. Esses planos derrubaram o Ibovespa e impulsionaram o dólar esta semana.
O mercado está impaciente e precisa de clareza sobre uma trajetória fiscal e de dívida sustentável no Brasil, disse Campos Neto também no evento. Não fornecer tal clareza pode prejudicar as pessoas que o governo quer ajudar no lado social, ao perturbar a dinâmica dos mercados, disse ele.
Os DIs com vencimento em janeiro de 2024 reverteram as quedas de mais cedo, movimento que ocorreu ainda no resto da curva, avaliando as promessas de Campos Neto de persistir na luta contra a inflação no Brasil.
A notícia da proposta de gastos de Lula aumenta os sinais de que a luta de Campos Neto contra a inflação está longe de terminar. O custo de vida no Brasil subiu mais do que o esperado em outubro, interrompendo três meses consecutivos de deflação.
Os preços do transporte se recuperaram no mês passado, à medida que o impacto dos cortes de impostos de Bolsonaro sobre a gasolina e serviços públicos desaparece. Os alimentos continuam a subir, e os banqueiros centrais expressaram preocupação com os custos dos serviços e com as medidas básicas que eliminam itens voláteis como combustíveis.
O acumulado anual da inflação caiu para 6,47% em outubro, abaixo da taxa de 12,13% em abril, que foi a mais alta em cerca de duas décadas. Ainda assim, está bem acima do centro da meta do BC, de 3,25% para o próximo ano e 3% para 2024.
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