O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na segunda-feira (29) ter a sensação de que os banqueiros centrais terão mais dificuldades daqui para frente, com o desafio de convencer os Poderes Legislativo e Executivo da importância de equilibrar as contas públicas em um momento em que o mundo convive com taxas de juros mais elevadas.
“A gente não vê globalmente um debate muito maduro sobre a necessidade de fazer o fiscal”, disse Campos Neto durante evento no Insper Júnior em São Paulo, reiterando que a credibilidade da política fiscal afeta a eficiência dos canais da política monetária.
Ele também voltou a ressaltar as dificuldades de cortar despesas públicas no Brasil, mas afirmou que seria importante fazer reformas nessa direção.
Ao abordar o mercado de crédito, Campos Neto voltou a defender que a recuperação do capital pelas instituições financeiras em caso de inadimplência é um dos principais fatores do spread — a diferença entre o custo de captação dos bancos e o que é efetivamente cobrado de famílias e empresas.
“Hoje você tem o pedaço do spread grande que é esta ineficiência do banco de recuperar o principal”, afirmou Campos Neto, que criticou a judicialização da recuperação de crédito.
Segundo ele, para cada 1 real em inadimplência no Brasil, apenas 18 centavos são recuperados pelas instituições financeiras, o que coloca o país como um dos piores do mundo neste tópico.
Ao mesmo tempo, o presidente do BC afirmou que o Drex — a moeda digital em fase de formulação pela autarquia — pode melhorar a recuperação de crédito no Brasil, ao deixar mais claro, nas transações, as garantias envolvidas.
Campos Neto disse ainda que o BC tem atuado para diminuir a assimetria de informações no mercado de crédito, o que também contribui para a diminuição do spread.
(Por Isabel Versiani, de Brasília, e Fabrício de Castro, de São PauloEdição de Alexandre Caverni)
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